domingo, 27 de março de 2011

Marta Bellini...

domingo, 27 de março de 2011

Tudo o que eu não tenho....

Grata, Solda, pelo envio de magnífica charge. PODEROSO, SOLDA!
Vou lhe contar. Meu pai também. Também nos ensinou a ser honesto. Filho de Alfredo Bellini, que lhe ensinou a honestidade, VELHO ITALIANO DURÍSSIMO, o senhor Octávio Bellini também era de uma dureza extrema. Nada de pegar lanche dos outros na escola. A gente trocava de lanche, mas tomar a comida do outro, nunca. Não havia vergonha maior do que sentir vergonha do que éramos. Classe média baixa, origem rural caipira, que nunca pegava o frango do vizinho (nem melancia, nem chuchu de cerca...). Éramos, pobres, mas limpinhos; éramos pobres, mas honestos. Nem ser sócio do clube da cidade (que tinha piscina, as vezes baile para as meninas adolescentes) meu pai queria. Não queria se misturar aos "ricos". Cada macaco no seu galho. Na nossa adolescência, os pais dos colegas arranjavam emprego pros filhos no banco do Brasil, na Caixa Econômica, na prefeitura local. Meu pai, efetivamente, se negava a pedir qualquer favor aos donos do "puder" local. Cada um de nós fez o caminho sozinho, com concurso. Seis filhos, quatro mulheres primeiro. Viramos feministas, é claro. Uma feminista e comunista. Outras, feministas trabalhistas. Ninguém precisou beijar a mão de um mandante ou comandante. Sorte a nossa. Uma única vez, uma irmã minha, para dar uma basta à perseguição de seu chefe, em um órgão público em que ela trabalhava, rodou a baiana, por meio de um deputado federal, amigo de um tio nosso, que é jornalista. Tio é tio. Tio dono de jornal é mais tio, nesses casos. O patrão arrriou a égua, como se diz na minha cidade natal caipira. Minhas irmãs são gente corajosa. Meus irmãos também nada devem a meu pai, a não ser esse orgulho de não tocar em coisas alheias. Devem a meu pai não terem nada. Imagine você, tenho um irmão poeta, escritor e desenhista. A arte é sua herança.

Quando meu pai morreu, sobrou um fusca amarelo. Algumas contas que ele esqueceu de pagar, pagamos. Uma chácara que ele havia comprado em 1960. A chácara tá lá na cidade em que ele viveu. Cheia de plantas, antas,pássaros, e outros bichos. Ele era ambientalista e nós não sabíamos. BEIJO PRA VOCÊ, SOLDA!