Quatro perguntas para... Maha Abdelaziz, professora do Centro Islâmico de Brasília
10/01/2015 - 08h02
Gabriel Garcia no Noblat
Como a comunidade muçulmana avalia os ataques radicais, como o ocorrido na França?
Claro
que eu não sou favorável ao terrorismo, à matança, ao derramamento de
sangue, mas morrem nove pessoas e o mundo vira de ponta a cabeça. Morreu
um milhão de pessoas no Egito, na Síria, na Palestina, em Borno
(Nigéria), mas ninguém fala nada. Um dia antes do acontecimento na
França, morreram milhares de muçulmanos em Borno. Os muçulmanos estão
sendo perseguidos.
Qual a orientação a respeito das críticas feitas à religião?
Não
pode haver agressão, não aceitamos que se agrida moralmente ninguém.
Isso é uma agressão. Eles (jornalistas do Charlie Hebdo) tiveram um ato
violento moralmente. Foi uma crítica moral ao nosso profeta.
Ataques radicais não comprometem a credibilidade muçulmana?
Claro.
A religião muçulmana é uma religião da paz. Quando respondi a primeira
pergunta, demonstrei indignação com a opinião do mundo. Quando morre
meia dúzia de não muçulmanos, o mundo vira de ponta a cabeça, sendo que
estão morrendo milhares de muçulmanos e o mundo fica olhando de
camarote.
Como separar os muçulmanos fieis, aqueles pacíficos, dos radicais?
Tais termos são plantados para denegrir a imagem dos muçulmanos. Não existe terrorista, radical.
Todo mundo tem o sangue quente. Como massacram os muçulmanos no mundo
inteiro e não querem uma reação? Cada ação tem uma ação do mesmo tamanho
e no sentido contrário. Seria tolo e idiota tanta violência, tanto
massacre e ficarmos olhando. Esses ataques que vocês chamam de
terrorista é uma resposta a tanta barbaridade que acontece contra os
muçulmanos. Nossa religião não incentiva
violência, jamais incentiva derramamento de sangue, só que infelizmente
essa é a resposta à crueldade. Vocês podem esperar coisa pior.