sábado, 31 de janeiro de 2015

J.R. Guedes de Oliveira


                                                    A BIOGRAFIA

                                                                                     J. R. Guedes de Oliveira

          A biografia, geralmente e por razões óbvias, deve refletir e relatar, substancialmente, a vida corrida de uma figura que realçou na sua passagem terrena.
          Não condiz e nem é de bom tom, biografar figuras maduras, ainda muito a percorrer – fato este que requer o endosso de muito a engrossar a vida do biografado e produzir páginas que possam servir de modelo ou alento a tantos outros.
          Condeno, veementemente, as biografias de cunho sensacionalista, que refletem o cotidiano de coisas banais e que não merecem a apreciação; pelo contrário, prejudicam a imagem e criam raízes para outros tantos seguirem o exemplo maléfico de uma vida que não teve fins altaneiros.
          Figuras facínoras, recalcadas, prejudiciais ao bom exemplo, são invariavelmente expostas em livros, que vendem horrores e que só servem para dar ênfase a certos recalques e certas interrogações de perplexidade generalizada.
          O biografado, ao meu modo de ver e sentir, deve ser sempre uma figura já pertencente a outro plano, mas que deixou um exemplo de dignidade, perseverança e de contribuição à humanidade. E sempre há de se refletir e tomar como rumo a equidistância do biografado e ter em mente da isenção na concepção do trabalho. É o que aprendi com o Prof. Dr. Foster Dulles, da Universidade do Texas, de quem fui seu amigo e colaborador.
         O biografado, ainda, deve ser, no meu entender, uma figura já vivida, experiente, no estertor da vida e que, pelo seu passado e pela sua posição de respeito e dignidade, não tem o que praticar de maldade ou de repulsa pela sociedade.
          Tenho visto, portanto, biografias de jovens (talentosos, até), mas que no decorrer de sua vida podem digamos “aprontar” algo que o torna não um exemplo, mas um vilão. Este é o meu temor maior.
          Um exemplo claro disso,  posso dizer do livro “Dirceu – uma biografia”, de Otávio Cabral, recentemente lançado e que dá luz a vida de José Dirceu. Bastou passar algum tempo e cá estamos com uma série de denúncias, falcatruas, enriquecimento ilícito, golpes na sociedade, etc., etc., do conhecido “Zé Dirceu”. E eu o conheço de longas datas!
          Com o ímpeto de encher os bolsos de dinheiro, com a venda sensacionalista destes tais livros, o biógrafo cai no cotidiano de ser um agente da inverdade e da caricatura de falso biógrafo – e há aos montes neste país.
          É preferível ter uma pequena edição de um livro que trata de uma figura exponencial, do que ganhar fortuna em futilidades e de babaquices em torno de pessoas que não representam a dignidade e a brasilidade que se espera de tantos.
          Reconheço, portanto, que uma biografia¸ cujo biógrafo esteja isento e imparcial sobre a figura exposta, é sempre acolhida com grande interesse, porque causa um certo “frisson” na sociedade. E depois tem mais: se o biografado representa um exemplo edificante para a sociedade e possa contribuir para o melhor ao nosso país, porque não dar à público o que ele fez e o que ele produziu, deixando de lado as picuinhas que, sempre sei, é motivo de muitos biógrafos estarem com os bolsos cheios e a cabeça, infelizmente, tão vazia.
          Portanto, é preciso dar um basta a essa enxurrada de biografias autorizadas ou não autorizadas de verdadeiros beócios, carniceiros e pseudos-brasileiros que infestam a nossa nação. Afinal, estes não são os nossos heróis!

                                 J.R. Guedes de Oliveira, ensaísta, biógrafo e historiador
                              E-mail: guedes.idt@terra.com.br