A BIOGRAFIA
J. R. Guedes de Oliveira
A biografia, geralmente
e por razões óbvias, deve refletir e relatar, substancialmente, a vida corrida
de uma figura que realçou na sua passagem terrena.
Não condiz e nem é de
bom tom, biografar figuras maduras, ainda muito a percorrer – fato este que
requer o endosso de muito a engrossar a vida do biografado e produzir páginas
que possam servir de modelo ou alento a tantos outros.
Condeno, veementemente,
as biografias de cunho sensacionalista, que refletem o cotidiano de coisas
banais e que não merecem a apreciação; pelo contrário, prejudicam a imagem e
criam raízes para outros tantos seguirem o exemplo maléfico de uma vida que não
teve fins altaneiros.
Figuras facínoras,
recalcadas, prejudiciais ao bom exemplo, são invariavelmente expostas em
livros, que vendem horrores e que só servem para dar ênfase a certos recalques
e certas interrogações de perplexidade generalizada.
O biografado, ao meu
modo de ver e sentir, deve ser sempre uma figura já pertencente a outro plano,
mas que deixou um exemplo de dignidade, perseverança e de contribuição à
humanidade. E sempre há de se refletir e tomar como rumo a equidistância do
biografado e ter em mente da isenção na concepção do trabalho. É o que aprendi
com o Prof. Dr. Foster Dulles, da Universidade do Texas, de quem fui seu amigo
e colaborador.
O biografado, ainda, deve
ser, no meu entender, uma figura já vivida, experiente, no estertor da vida e
que, pelo seu passado e pela sua posição de respeito e dignidade, não tem o que
praticar de maldade ou de repulsa pela sociedade.
Tenho visto, portanto,
biografias de jovens (talentosos, até), mas que no decorrer de sua vida podem
digamos “aprontar” algo que o torna não um exemplo, mas um vilão. Este é o meu temor
maior.
Um exemplo claro disso, posso dizer do livro “Dirceu – uma biografia”,
de Otávio Cabral, recentemente lançado e que dá luz a vida de José Dirceu. Bastou
passar algum tempo e cá estamos com uma série de denúncias, falcatruas, enriquecimento
ilícito, golpes na sociedade, etc., etc., do conhecido “Zé Dirceu”. E eu o
conheço de longas datas!
Com o ímpeto de encher
os bolsos de dinheiro, com a venda sensacionalista destes tais livros, o
biógrafo cai no cotidiano de ser um agente da inverdade e da caricatura de
falso biógrafo – e há aos montes neste país.
É preferível ter uma
pequena edição de um livro que trata de uma figura exponencial, do que ganhar
fortuna em futilidades e de babaquices em torno de pessoas que não representam
a dignidade e a brasilidade que se espera de tantos.
Reconheço, portanto, que
uma biografia¸ cujo biógrafo esteja isento e imparcial sobre a figura exposta,
é sempre acolhida com grande interesse, porque causa um certo “frisson” na sociedade.
E depois tem mais: se o biografado representa um exemplo edificante para a
sociedade e possa contribuir para o melhor ao nosso país, porque não dar à
público o que ele fez e o que ele produziu, deixando de lado as picuinhas que,
sempre sei, é motivo de muitos biógrafos estarem com os bolsos cheios e a
cabeça, infelizmente, tão vazia.
Portanto, é preciso dar
um basta a essa enxurrada de biografias autorizadas ou não autorizadas de
verdadeiros beócios, carniceiros e pseudos-brasileiros que infestam a nossa
nação. Afinal, estes não são os nossos heróis!
J.R. Guedes de Oliveira, ensaísta,
biógrafo e historiador
E-mail:
guedes.idt@terra.com.br