Incrível desabafo do ex-assessor de Lula
Marcelo Rubens Paiva
07 maio 2015 | 12:54
O incrível e sincero desabafo do ex-assessor de Lula
Ricardo Kotscho, 67, repórter desde 1964, é dos profissionais mais queridos e respeitados do meio.
Educado, sempre sorridente, trabalhou nos principais veículos da
imprensa brasileira como repórter, repórter especial, editor, chefe de
reportagem, colunista e diretor de jornalismo.
Passou pelas redações do Estadão, Folha, JB, das revistas Isto É,
Época e da TV Globo, CNT, SBT e Rede Bandeirantes. Recebeu quatro vezes o
Prêmio Esso de Jornalismo.
Atualmente, é comentarista do Jornal da Record News, repórter
especial da revista Brasileiros, que ajudou a fundar, e mantém o blog
Balaio do Kotscho no R7.
Por um tempo, foi para o outro lado do balcão. Assessorou Lula, que
conheceu cobrindo as primeiras greves do ABC, quando ainda era um
metalúrgico com um partido em formação.
Foi seu porta-voz em campanha que rodou o Brasil em caravanas.
Foi o Assessor de Imprensa de Lula da histórica campanha de 2002.
Estar no primeiro governo Lula era extensão de anos de trabalho e militância.
De 2003 a 2004, foi secretário de Imprensa e Divulgação da Presidência da República.
Discretamente e sem dar explicações, saiu cedo do Poder e voltou para o lado de cá. Mas nunca deixou de militar pela causa.
Surpreendeu ao publicar agora um desabafo amargo no seu blog,
retratando com carinho o personagem e amigo que conhece como poucos:
“Lula está na mira, isolado no palanque e sem discurso”.
Aqui, alguns trechos para a reflexão:
“Fiquei triste ao ver e ouvir o discurso de Lula neste 1º de Maio da
CUT, no Vale do Anhangabaú, em São Paulo. Basta rever as imagens na
internet. Em toda a sua longa trajetória, do sindicato ao Palácio do
Planalto, Lula nunca ficou tão isolado num palanque, sem estar cercado
por importantes lideranças políticas, populares e sindicais. A
presidente Dilma já tinha avisado que não viria, mas desta vez nem o
prefeito Fernando Haddad apareceu. Só havia gente desconhecida a seu
lado e, ainda por cima, um deles segurava o cartaz em que se lia ‘Abaixo
Plano Levy – Ação Petista’, mostrando o descompasso entre a CUT, o
partido e o governo.”
“Também não me lembro de ter visto Lula falando para tão pouca gente,
e tão desanimada, num Dia do Trabalhador. Não havia ali sinais de
alegria e esperança em quem o ouvia, como me acostumei a acompanhar
desde o final dos anos 70 do século passado, nas lutas dos metalúrgicos
no ABC. Lamento muito dizer, mas o discurso de Lula também não tem mais
novidades, não aponta para o futuro. Tem sido muito repetitivo, raivoso,
retroativo, sempre com os mesmos ataques à mídia e às elites, sem dar
argumentos para seus amigos e eleitores poderem defendê-lo dos ataques.”
“Não que Lula deixe de ter caminhões de razões para se queixar da
imprensa, desde que o chamado quarto poder resolveu assumir oficialmente
a liderança da oposição e fechar o cerco contra os governos petistas.
Só não podemos esquecer, porém, que foi com esta mesma mídia, com os
mesmos donos, com as mesmas elites conservadoras, que nunca se
conformaram com a mudança de mãos do poder, que o PT ganhou
sucessivamente as últimas quatro eleições presidenciais.”
Kotscho afirma que assiste ao fim de um “ciclo mágico”, que levou um
líder operário ao Poder e promoveu profundas transformações sociais.
Lembra que Lula reelegeu a sucessora e deixou o governo com 80% de
aprovação popular. Até Obama reconhecia: “Este é o cara”
E se pergunta: “O que aconteceu?”
Também está em busca de uma resposta.
“De lá para cá, tanta água passou por debaixo da ponte, em tão pouco
tempo, que, em algum lugar da estrada, perderam-se a velha confiança e a
capacidade de dar a volta por cima, sem que Lula consiga encontrar um
novo discurso capaz de mobilizar os jovens eleitores e os velhos
companheiros que ficaram pelo caminho. Vida que segue”, finaliza.