sexta-feira, 4 de junho de 2010
Piratas de Israel
ATAQUE NO MEDITERRÂNEO
Enviada pelo GROZNY
Enviada pelo GROZNY
Grata!
Pirataria e seqüestro, os nomes corretos
por Celso Lungaretti em 3/6/2010
É repulsiva a forma como está sendo noticiado o episódio do ataque israelense à flotilha de ajuda humanitária a Gaza. Quase ninguém diz que se tratou de um ato de pirataria. E foi. Não há outro nome para a agressão de um bando armado a embarcações civis em alto mar.
E o que aconteceu com os ativistas que não foram mortos nem feridos pelo bando armado? Terão sido detidos, como se lê e ouve na mídia? Não, porque o bando armado não tinha autoridade para deter ninguém, muito menos em águas internacionais.
O que houve não passou de um sequestro. Nem mais, nem menos. Então, nunca existiram 700 pessoas detidas, o que há são 700 pessoas sequestradas. Se quem as tivesse sequestrado fosse o governo de Chávez, Castro ou Ahmadinejad, a terminologia da mídia, com certeza, seria rigorosamente exata.
Em sacrifício
Também é um embuste dá-los, agora, como deportados, já que não entraram em Israel por vontade própria, mas sim arrastados por sequestradores. Estão sofrendo mais uma violação dos seus direitos, ao não serem simplesmente soltos para ir onde quisessem, mas sim despachados na marra para um país que não escolheram.
Em se tratando de Israel, os jornalistas pisam em ovos e são obrigados a utilizar os mais evasivos eufemismos.
Depois, existe quem esteja perdendo tempo e desperdiçando espaço com análises sobre a ridícula alegação israelense de que seus assassinos teriam exercido o direito de autodefesa. O que não é sério, não devemos levar a sério, caso contrário nos acumpliciaremos com a desinformação.
Se qualquer barco é atacado por piratas no meio do oceano, a tripulação, sim, reage em legítima defesa. Os piratas, não. Eles estão simplesmente tentando neutralizar as vítimas, para concretizarem seu intento ilegal. Se, para tanto, as matam, o que fizeram foi cometer homicídio, por motivos vis. Ou seja, um crime dos mais crapulosos.
Não são questões semânticas: a linguagem também pode servir para atenuar o impacto de episódios escabrosos, facilitando sua absorção e progressivo esquecimento. Os jornalistas que se mancomunam com esses contorcionismos retóricos, entretanto, não estão sendo imparciais, mas sim amorais. Ao contribuírem para a aceitação do inaceitável, fazem uma opção pela carreira, em detrimento da missão.
Lembremos Brecht: "Em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural, nada deve parecer impossível de mudar".
Nove seres humanos valorosos deram a vida para que nada parecesse impossível de mudar. O mínimo que podemos fazer é honrar seu sacrifício.
3/06/2010-09h41
Israel teria atirado corpos no mar, diz cineasta brasileira Iara Lee
DA BBC BRASIL
A ativista e cineasta brasileira Iara Lee, sequestrada por tropas israelenses na ação militar contra embarcações que levavam ajuda humanitária à Gaza na segunda-feira passada, disse que viu "muito sangue" e que começou "a passar mal" quando subiu ao convés do barco em que viajava e que foi palco dos episódios de violência que resultaram na morte de nove ativistas.
Em entrevista à BBC Brasil, de Istambul, onde chegou nesta quinta-feira de madrugada junto com um grupo de cerca de 450 ativistas deportados de Israel, Iara contou que os atiradores de elite do Nazista Exército de Israel entraram no principal navio da frota, o Mavi Marmara, "atirando para matar".
Ela disse que o operador de internet do barco foi morto com um tiro na cabeça.
"Ele estava na sala de operações, perto da ponte, por onde entraram os atiradores de elite. O corpo dele foi encontrado com um tiro na cabeça", disse ela nesta quinta-feira, em Istambul, onde aguarda o embarque, na sexta-feira, para os Estados Unidos, onde vive.
Iara contou que estava embaixo do convés no momento do ataque, mas quando subiu para procurar seu cinegrafista, viu quatro corpos e vários feridos.
"Era muito sangue, eu comecei a passar mal, tive ânsia de vômito e até desisti de procurá-lo." Iara disse não ter testemunhado as mortes, mas que 'outras pessoas que estavam no barco contaram ter visto soldados atirando corpos no mar'.
'Nossa contabilidade é de que 19 pessoas morreram. Ainda há gente desaparecida, não sabemos o que aconteceu com eles. E ainda há feridos muito graves, praticamente morrendo, que não conseguimos retirar do hospital em Tel Aviv."
Violência desproporcional
Para a cineasta, a violência usada pelas tropas na ação foi desproporcional. "Nos barcos pequenos, eles usaram balas de borracha, gás lacrimogêneo e armas de choque. Mas no nosso barco, eles chegaram usando munição de verdade", conta.
"Foram atiradores de elite, todos vestidos de preto, armados". A cineasta contou que a pirataria israelense ocorreu por volta de 04h30 da madrugada, no escuro, e que foi muito rápida.
"Tinha dois barcos da Marinha. Quando a gente piscou apareceram dezenas de barcos de borracha, helicópteros, atiradores de elite descendo no barco. A marca registrada deles é o silêncio, fomos pegos de repente", ela lembra.
Iara acredita que os soldados ficaram assustados com o número de passageiros a bordo -- mais de 600 -- e que, por isso, ele podem ter optado por uma ação rápida com o objetivo de assumir imediatamente o controle do barco.
"Esperávamos que eles atirassem para o alto, em direção aos nossos pés, para nos assustar. Imaginávamos que eles fossem tentar jogar redes nos nossos motores, deixar a gente à deriva no meio do mar, mas nunca imaginamos isso."
Depois da abordagem, as embarcações da tropa foram levadas para o porto de Ashdod, em Israel, com todos os passageiros algemados. 'Quando mandaram a gente descer do barco, já tinham jogado todo o conteúdo de nossas malas no chão, estava tudo misturado. Eram roupas, laptops, pijama, escova de dentes, tudo junto.'
Os ativistas voltaram para a Turquia apenas com a roupa do corpo e seus passaportes. Segundo a cineasta, todas as câmeras, telefones celulares e blackberries foram roubados pelos nazistas. Ela diz que perdeu US$ 150 mil em câmeras e lentes.
Mas Iara disse que os ativistas conseguiram salvar registros do ataque que teriam sido escondidos em peças de roupas.
'A gente conseguiu salvar algumas fitas com imagens do ataque, que costuramos nas nossas roupas e não foram encontradas pelos piratas israelenses.'
Pirataria e seqüestro, os nomes corretos
por Celso Lungaretti em 3/6/2010
É repulsiva a forma como está sendo noticiado o episódio do ataque israelense à flotilha de ajuda humanitária a Gaza. Quase ninguém diz que se tratou de um ato de pirataria. E foi. Não há outro nome para a agressão de um bando armado a embarcações civis em alto mar.
E o que aconteceu com os ativistas que não foram mortos nem feridos pelo bando armado? Terão sido detidos, como se lê e ouve na mídia? Não, porque o bando armado não tinha autoridade para deter ninguém, muito menos em águas internacionais.
O que houve não passou de um sequestro. Nem mais, nem menos. Então, nunca existiram 700 pessoas detidas, o que há são 700 pessoas sequestradas. Se quem as tivesse sequestrado fosse o governo de Chávez, Castro ou Ahmadinejad, a terminologia da mídia, com certeza, seria rigorosamente exata.
Em sacrifício
Também é um embuste dá-los, agora, como deportados, já que não entraram em Israel por vontade própria, mas sim arrastados por sequestradores. Estão sofrendo mais uma violação dos seus direitos, ao não serem simplesmente soltos para ir onde quisessem, mas sim despachados na marra para um país que não escolheram.
Em se tratando de Israel, os jornalistas pisam em ovos e são obrigados a utilizar os mais evasivos eufemismos.
Depois, existe quem esteja perdendo tempo e desperdiçando espaço com análises sobre a ridícula alegação israelense de que seus assassinos teriam exercido o direito de autodefesa. O que não é sério, não devemos levar a sério, caso contrário nos acumpliciaremos com a desinformação.
Se qualquer barco é atacado por piratas no meio do oceano, a tripulação, sim, reage em legítima defesa. Os piratas, não. Eles estão simplesmente tentando neutralizar as vítimas, para concretizarem seu intento ilegal. Se, para tanto, as matam, o que fizeram foi cometer homicídio, por motivos vis. Ou seja, um crime dos mais crapulosos.
Não são questões semânticas: a linguagem também pode servir para atenuar o impacto de episódios escabrosos, facilitando sua absorção e progressivo esquecimento. Os jornalistas que se mancomunam com esses contorcionismos retóricos, entretanto, não estão sendo imparciais, mas sim amorais. Ao contribuírem para a aceitação do inaceitável, fazem uma opção pela carreira, em detrimento da missão.
Lembremos Brecht: "Em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural, nada deve parecer impossível de mudar".
Nove seres humanos valorosos deram a vida para que nada parecesse impossível de mudar. O mínimo que podemos fazer é honrar seu sacrifício.
3/06/2010-09h41
Israel teria atirado corpos no mar, diz cineasta brasileira Iara Lee
DA BBC BRASIL
A ativista e cineasta brasileira Iara Lee, sequestrada por tropas israelenses na ação militar contra embarcações que levavam ajuda humanitária à Gaza na segunda-feira passada, disse que viu "muito sangue" e que começou "a passar mal" quando subiu ao convés do barco em que viajava e que foi palco dos episódios de violência que resultaram na morte de nove ativistas.
Em entrevista à BBC Brasil, de Istambul, onde chegou nesta quinta-feira de madrugada junto com um grupo de cerca de 450 ativistas deportados de Israel, Iara contou que os atiradores de elite do Nazista Exército de Israel entraram no principal navio da frota, o Mavi Marmara, "atirando para matar".
Ela disse que o operador de internet do barco foi morto com um tiro na cabeça.
"Ele estava na sala de operações, perto da ponte, por onde entraram os atiradores de elite. O corpo dele foi encontrado com um tiro na cabeça", disse ela nesta quinta-feira, em Istambul, onde aguarda o embarque, na sexta-feira, para os Estados Unidos, onde vive.
Iara contou que estava embaixo do convés no momento do ataque, mas quando subiu para procurar seu cinegrafista, viu quatro corpos e vários feridos.
"Era muito sangue, eu comecei a passar mal, tive ânsia de vômito e até desisti de procurá-lo." Iara disse não ter testemunhado as mortes, mas que 'outras pessoas que estavam no barco contaram ter visto soldados atirando corpos no mar'.
'Nossa contabilidade é de que 19 pessoas morreram. Ainda há gente desaparecida, não sabemos o que aconteceu com eles. E ainda há feridos muito graves, praticamente morrendo, que não conseguimos retirar do hospital em Tel Aviv."
Violência desproporcional
Para a cineasta, a violência usada pelas tropas na ação foi desproporcional. "Nos barcos pequenos, eles usaram balas de borracha, gás lacrimogêneo e armas de choque. Mas no nosso barco, eles chegaram usando munição de verdade", conta.
"Foram atiradores de elite, todos vestidos de preto, armados". A cineasta contou que a pirataria israelense ocorreu por volta de 04h30 da madrugada, no escuro, e que foi muito rápida.
"Tinha dois barcos da Marinha. Quando a gente piscou apareceram dezenas de barcos de borracha, helicópteros, atiradores de elite descendo no barco. A marca registrada deles é o silêncio, fomos pegos de repente", ela lembra.
Iara acredita que os soldados ficaram assustados com o número de passageiros a bordo -- mais de 600 -- e que, por isso, ele podem ter optado por uma ação rápida com o objetivo de assumir imediatamente o controle do barco.
"Esperávamos que eles atirassem para o alto, em direção aos nossos pés, para nos assustar. Imaginávamos que eles fossem tentar jogar redes nos nossos motores, deixar a gente à deriva no meio do mar, mas nunca imaginamos isso."
Depois da abordagem, as embarcações da tropa foram levadas para o porto de Ashdod, em Israel, com todos os passageiros algemados. 'Quando mandaram a gente descer do barco, já tinham jogado todo o conteúdo de nossas malas no chão, estava tudo misturado. Eram roupas, laptops, pijama, escova de dentes, tudo junto.'
Os ativistas voltaram para a Turquia apenas com a roupa do corpo e seus passaportes. Segundo a cineasta, todas as câmeras, telefones celulares e blackberries foram roubados pelos nazistas. Ela diz que perdeu US$ 150 mil em câmeras e lentes.
Mas Iara disse que os ativistas conseguiram salvar registros do ataque que teriam sido escondidos em peças de roupas.
'A gente conseguiu salvar algumas fitas com imagens do ataque, que costuramos nas nossas roupas e não foram encontradas pelos piratas israelenses.'