Ui!
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O xixi do revisor Por José de Arimathéia, Londrina, UEL
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Há 21 anos faço revisões de textos acadêmicos. Comecei com colegas de turma da Comunicação, que vinham em casa desesperadas com a orientadora que mandava fazer "tudo de novo". Depois, foram colegas da turma seguinte, de repente professores, um conta ao outro, então de outro Departamento, outra Universidade, outra cidade, outro estado... e duas décadas se foram.
Alguns anos atrás, parei com tudo. Ou quase. Parei com as correções de trabalhos monográficos, porque estavam cada vez pior, cada vez mais mal escritos. Ou eu cobrava no mínimo o dobro, porque quase tinha que reescrever parágrafos inteiros - e eu não escrevo, eu corrijo - e aí inflacionaria o mercado, ou abandonava a atividade. Abandonei. Corrijo quando sou orientador, membro de banca de avaliação, ou excepcionalmente algum outro material, como a revista Discursos Fotográficos.
Neste trabalho de revisor, tenho o cuidado de manter, até onde é possível, o estilo original do autor. Por exemplo: diferentemente de mim, há quem não goste de usar frases entre travessões. Ou expressões entre parênteses. Há os que usam sempre o verbo no presente. Ao identificar detalhes como estes, tento preservá-los, e não inserir tais elementos estranhos.
Apesar deste cuidado, algum autor pode pensar que teve seu texto mutilado, distorcido, violentado. Só uma vez soube de uma reclamação. Mas a autora escreve tão mal que não foi possível preservar seu "estilo". Porém ela exigiu desfazer tudo, e o editor, em respeito à autoridade acadêmica da fulana, acatou.
Quando, porém, estou no lado oposto, submetendo um texto meu à apreciação de um parecerista, já notei que costumo brigar. Não aceito pacificamente todas as correções. De um lado, há aquelas regras capesianas - obrigatoriedade de citações, etc. Mas aqui me refiro às correções textuais mesmo.
Peguemos o exemplo mais recente. Ainda não sei se o artigo será publicado, mas saberei nos próximos dias. O/A parecerista corrigiu meu texto e enfiou palavras completamente estranhas ao meu estilo. Alguém já me viu usar a palavra "conquanto" em algum trabalho? E "cujo" ou "cuja"? O termo está praticamente abolido do uso comum. Quem diz "conquanto"? Quem fala em "cujo o"?
O artigo corrigido também trazia verbos na primeira pessoa do singular: "Cabe-me explicar...". Meu Deus! Eu prego contra a primeira pessoa do singular. É pedantismo. A não ser num relato pessoal, evito sistematicamente.
E para provar que parecerista também falha (eu falho!), havia no texto corrigido um "diminui-lo", assim, sem acento no hiato. Em compensação, pôs um hífen onde não havia necessidade. Isso sem falar em ênclises quando havia partículas atratoras para transformá-las em próclises. E até aquele "se" desnecessário, como "sem se pensar em cada habilidade...". Notei ainda que o/a parecerista gosta de voz passiva. Vê-se que não deve ser jornalista. Discordei ainda de alguns usos do infinitivo pessoal - um tempo verbal que só confunde, mas precisamos dele de vez em quando.
Ah, sim, o/a parecerista também não entendeu algumas elipses (bem óbvias, a meu ver) e - pasme! - não sabe que "extrapolar" significa "ir além de".
O pior de tudo, sem dúvida, são aquelas famosas correções "seis por meia dúzia".
Logicamente, isto me fez refletir: será que eu sou chato assim? Será que também pensam que eu corrijo trocando 6 por meia dúzia? Eu chamo estas correções de "xixi do revisor". Sabe quando um animal faz xixi para marcar território, deixar sua marca, avisar os outros que ele é o dono da área? Gatos, cachorros, suricatos, muitas espécies fazem isso. O orientador, o membro da banca. O parecerista. O revisor. Há aqueles que precisam fazer o seu xixi nos textos dos outros, caso contrário não dormem em paz.
A Doutorite pode causar esta compulsão diurética. Imagino que a Síndrome Capesiana também. E ai se o autor coitado - ou coitado autor, lembraria Brás Cubas - for um simples aluno, ou não for um professor notável, ou não pertencer a uma Universidade renomada. Aí a diurese revisora pode se transformar em verdadeira incontinência.
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É do Zé a boa expressão DURA CAPES SED CAPES!