domingo, 4 de julho de 2010

It´s about nothing

Em ensaio publicado em meu livro O Desafio do Islã e outros desafios, cujo tema é o terrorismo, eu cito um autor que se perguntava, nos anos 80 do século passado, sobre quando finalmente veríamos assassinatos ao vivo na TV. Em resenha sobre aquele meu livro e artigo Ali Kamel, o orientador da Globo , redigiu horrores sobre a afirmação e me atacou de face. Desde então, rarearam os "convites" para discutir temas éticos na Globo News e demais emissoras do conglomerado. Estranha coincidência. Mas, como disse a um jornalista da emissora, "gosto muito da Globo, mas tenho mais respeito pela minha consciência". Se quiserem minha presença e opinião, elas devem ser minhas e não monitoradas. De monitorado, basta o militante político do PT ou do PSDB ou de outra seita qualquer. Na busca de defender o indefensável, jornalistas, não raro, negam a evidência do que as suas próprias telinhas apresentam. Agora mesmo o Discovery Chanel traz a morte, "ao vivo" de um capitão de navio dedicado à caça marinha. O caso, rumoroso, atrai o debate nos EUA. Milhões de pessoas passaram a ver o canal, para testemunhar a morte do "artista" do reality show, que está de fato em coma. Como diz o personagem do romance de Conrad, refeito em Apocalipse Now : "horror". O bicho homem, entre outros defeitos, é curioso sobretudo do mal. Adora ver a dor alheia, a desgraça. Ele se espoja na putrida massa de seus iguais, rindo como hiena. Recordo sempre o espetáculo que marcou minha juventude, o incêndio do Edificio Andraus, com a massa das feras gritando "pula, pula" para os desesperados no topo do prédio. Vomitei muito e desde então fui curado de toda a qualquer doença causada pelo virus cujo nome é Rousseau. Acredito, hoje mais do que nunca, no pecado original. Sem ele, seria inexplicável o gosto pela desgraça que marca a raça de Caim. Meu livro de cabeceira, neste sentido, é o tratado de Plutarco, "sobre a Curiosidade". Eu o recomendo a todos os que têm estômago forte e coragem de alma.

Assim, entendo a ojeriza do It´s about nothing em relação aos "reality"... Como dizia um poeta romântico do século 19, "nada mais louco do que a vida real". RR


domingo, 4 de julho de 2010

I reject your reality and replace by the mine




Faz tempo que implico com reality shows, bem isto desde que eles existem. Não assisto a reality shows, principalmente porque eles não possuem nada de real, e hoje e a TV paga está repleta deles, há reality shows para tudo e de todos os tipos. O último escândalo envolvendo um reality shows (ou fake show) é o cômico Steven Seagal the Lawman do canal A&E.
Steven Seagal é uma figura controversa nos Estados Unidos e dentro do universo do Aikido. Steven treinou por décadas no Japão e se tornou um praticante respeitado, voltou para os Estados Unidos e abriu um Dojo em Hollywood com o intuito de atrair dublês ou conseguir ganhar fama para realizar coreografias em filmes de artes marciais, o plano deu certo e começou a receber vários astros e diretores e neste convívio conseguiu realizar seu primeiro filme: Above the Law, Seagal fez mais alguns filmes no começo da década de 1990 com relativo sucesso, apesar de ser um péssimo ator e interpretar sempre o mesmo papel, conseguiu capturar um nicho onde os antigos donos do gênero já entravam em declínio (Stallone, Bruce Willis, Chuck Norris, Arnold Schwarzenegger & Cia) apesar de que seus filmes fossem mais cômicos do que eletrizantes, Steven não convencia no clichê de policial/militar (ou ex-policial, ex-militar) durão e invencível, apesar de dominar as técnicas de Aikido arrancava mais risos por ser caricato.
O declínio veio rápido e no final da década de 1990 estava decadente atuando em filmes B que ele mesmo produzia, descuidou da forma física (isto porque começou um pouco tarde sua carreira beirando os quarenta anos) e começou a utilizar dublês em suas cenas. Fora das telas Seagal continuava suas empreitadas rumo ao ridículo: pagou um Lama tibetano com doações generosas para ser reconhecido como a reencarnação de um monge tibetano do século XVIII, engatou a carreira de músico de blues tocando guitarra e cantando, com aquela voz que quase não sai, mas o seu embuste maior foi no recente reality show Lawman onde diz que durante vinte anos trabalha como assistente de sheriff do distrito de Jefferson Parish na Lousiana e manteve este trabalho longe dos holofotes. Vinte anos remetem a década de 1990 onde ele estava investindo em sua carreira de ator, em sua bebida energética e casado com Kelly LeBrock na Califórnia.
O distintivo de Seagal é cortesia do antigo delegado de Jefferson Parish Harry Lee, antigo amigo de Seagal. Harry Lee faleceu vítima de leucemia em 2007, mas antes presenteou seu amigo com um distintivo da força, pois Seagal ministrou algumas sessões de treinamento aos policiais e era companheiro de caça de Lee.
Com a carreira em total declínio Seagal procurou o A&E com seu distintivo falso para estrelar um reality show onde ele afirma que entre um filme e outro atua como assistente do sheriff do distrito e que isto é “vida real”.
Onde quero chegar com este assunto? Com o nível de “esperteza” de grandes redes que empurram qualquer embuste de péssima qualidade e são bem sucedidas no golpe. Não admira a qualidade horrenda de séries e filmes atuais e a enxurrada de “realities” shows na TV paga, afinal se o público crê que Steven Seagal é um delegado assistente na Lousiana, mesmo morando em Los Angeles, qualquer porcaria é vendida como realidade.
Esta mesma “esperteza” se espalha em outros setores: negócios, venda de produtos, empresas que prometem um serviço mas entregam outro, política (a mãe de todos realities shows), esportes, nas entidade religiosas enfim em todos os lugares. Creio que esta onda de reality shows é uma extensão das mentiras perpetradas e já vividas diariamente na vida pública e vendidas como realidade. Tenho a impressão que cada vez mais as pessoas fingem ou realmente não sabem mais distinguir o que fantasia da realidade e aceitam ambos como a mesma coisa.
Steven Seagal é um artista marcial que virou ator e mora em Los Angeles e finge ser um policial da Lousiana, mais um fato cômico em sua vida, aliás a série já foi cancelada, não porque as pessoas desconfiaram da história, mas porque ele se envolveu em um escândalo sexual onde seu assistente arrumava garotas, na maioria imigrantes, para que ficassem na casa que alugava na Lousiana para rodar a série. Steven foi acusado de cárcere privado e ameaças a uma russa recém chegada aos Estados Unidos, por conta disto seu distintivo falso foi tomado e a séria cancelada. Steven é uma pequena parcela do material que temos por aí.
Temos pessoas desonestas na política, temos homens incompetentes se passando por salvadores do mundo, temos empresários inescrupulosos pagando lobbies para se safarem de suas desonestidades nos negócios, bandidos andando com disfarce de pessoas íntegras e todos aparecem como santos e são aceitos desta forma por grande parte da opinião pública. A sociedade contemporânea dá a impressão de estar mergulhada em um enorme reality show.