A presidente da SBPC "tira o chapéu" para o presidente Luiz Inácio da Silva. Pois que apresente o mesmo chapéu agora, na calçada, aos passantes, em busca de esmolas. Quem tira chapéu para governante, no Brasil, acaba sendo considerado "objeto adquirido", ou seja, não é mais preciso cooptar. A lição de verdadeiro realismo seria continuar, durante o "governo" anterior, a crítica serena dos desmandos, a apresentação de sugestões para a melhoria do setor de C&T, o exame rigoroso dos dispêndios administrativos, etc. Mas a via da bajulação foi a preferida. O resultado está aí. Entre os gastos do "governo" anterior e os cortes de agora, a coerência é perfeita. Quem faz ciência não tem o direito de ignorar os elementos da equação. E mais, tenho certeza: os arrulhos atuais da SBPC serão silenciados, se a presidente da res publica oferecer um cargo, alguns tostões, e quejandos aos bons militantes do organismo. científico. Pois tal é a história da universidade brasileira. Reitero o que disse à Revista Caros Amigos (eu não mudei, ela sim): o instrumento mais flexível do universo é a espinha dos intelectuais brasileiros.
E passem bem, porque mereceram os cortes. Quem não merece os realistas do governo e dos campi é o povo que paga impostos. Quod erat demonstrandum. RR
E passem bem, porque mereceram os cortes. Quem não merece os realistas do governo e dos campi é o povo que paga impostos. Quod erat demonstrandum. RR
São Paulo, sábado, 05 de março de 2011

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Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros Verba de ciência não deve ir para empresa, diz chefe da SBPC Nova presidente critica aporte de dinheiro do Ministério da Ciência para inovação DE SÃO PAULO A bandeira da "ciência para inovação", carregada pelo ministro Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia) desde o início da sua gestão, parece ter desagradado a nova presidente da principal sociedade científica do país. Para Helena Nader, que comanda a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) desde o mês passado, os recursos para os cientistas fazerem inovação deveriam sair de instituições como o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. O MCT (Ministério da Ciência e Tecnologia), para ela, teria de investir apenas em ciência nas universidades e institutos de pesquisa. Hoje, o Ministério do Desenvolvimento não investe em ciência no setor privado a fundo perdido. O que se faz é oferecer créditos para empresários que queiram inovar. No ano passado, foram R$ 1,4 bilhão em financiamentos para inovação. Neste ano, os juros subiram e atingiram 5%, de acordo com anúncio desta semana. O MCT, por sua vez, tem injetado dinheiro para fazer ciência na indústria a fundo perdido (ou seja, sem característica de empréstimo). O último investimento envolve R$ 40 milhões em bolsas de pesquisa em empresas. "O CNPq pode destinar bolsas para indústria, mas não em detrimento das bolsas para ciência", disse Nader em entrevista à Folha. Os nervos dos cientistas estão à flor da pele desde que a presidente Dilma Rousseff anunciou, em fevereiro, um corte global de recursos que, claro, atingiu a ciência. Com a redução, e com os R$ 713 milhões a menos que viriam de emendas parlamentares, a fatia de dinheiro para o MCT ficou 23% menor. "Isso se eles não vierem com ainda mais cortes pela frente", diz Nader. "Tiro o chapéu para o governo do presidente Lula. Mas a presidente eleita [Dilma Rouseff], que viu de perto a expansão da ciência, não poderia fazer esses cortes." (SR) |