ÁGUAS DE MARÇO
J. R. Guedes de Oliveira
Estava ouvindo, com redobrada atenção, a música Águas de Março, do Tom Jobim, cantada por ele e a eterna Elis Regina. É muito oportuno dizer da preocupação sobre a questão do nosso meio ambiente. Vejamos, pois:
Com estes tnumes invadindo o Japão e provocando perdas humanas irreparáveis, como também, as chamadas “trombas d´água”, aqui no Brasil, fico a refletir sobre as palavras de uma especialista nos assuntos ambientais. Esqueço o nome dela, mas o que ela disse é uma verdade insofismável: “A partir de agora, tudo é mais: mais chuva, mais frio, mais quente, mais desastres, mais seca, etc.”.
A insensatez de governos e a busca de um desenvolvimento a qualquer custo, mesmo que isto significasse um rolo compressor nas nossas matas e nas nossas terras, deu no que deu. Estamos numa encruzilhada medonha, ainda sem contar que a nossa Terra já está um tanto quanto velha.
Foram decênios de descasos, no mundo todo. A Europa, por exemplo, acabou com as suas florestas e o seu verde. A América do Norte fez dos seus rios um turbilhão de detritos. A Ásia despencou-se para avançar no seu denominado “tigre asiático”, com a explosão de indústrias e o final de rios, lagos e reservas ecológicas.
O que podemos sentir, neste momento, é que a resposta da Terra, com evidência da Teoria de Gaia, nos impele a uma tomada de consciência e mudanças profundas de hábitos. Não há possibilidade alguma de desenvolvimento sem sustentabilidade – eis o padrão histórico para a nossa existência na Terra.
Uma das características mais assustadoras, nos tempos atuais, é a febre do progresso tecnológico que não permite muito respirar o ar puro de antigamente. A China, por exemplo, é uma perfeita amostra do desejo de avançar no seu desenvolvimento, mesmo que isto custe a destruição do ecossistema.
Reporto-me a um artigo que escrevi há alguns anos, publicado em revistas especializadas, com o título de “A escassez da água na China: abundância no Brasil”. Eis, pois, o texto:
O problema vivido na China, desde 1949, com a instalação de uma nova ordem política, não pode ser visto de apenas um prisma. É necessário vê-lo como um todo, com todas as conseqüências que um desenvolvimento sustentável pode exigir, medindo, per si, as determinantes causadas pelos desastres provenientes destes investimentos.
A razão dessa nossa colocação vem de encontro ao gravíssimo problema que a República Popular da China enfrenta: de um lado, o desenvolvimento a todo custo; do outro, a mais extensa e completa aniquilação do seu meio ambiente, principalmente atingindo os seus recursos hídricos. Está aí, para o conhecimento geral, as últimas notícias do enfrentamento de total destruição de águas superficiais e subterrâneas em inúmeras regiões altamente industrializadas da RPCh.
O P.C. Chinês, dentro de suas características gerais, herdadas do marxismo-leninismo e incorporado às teorias de Mao Tse Tung, vê-se num dilema atroz, muito embora esse dilema seja uma grita geral: a eminente escassez das águas.
Vejam, por exemplo, o Mar Aral, da antiga URSS, no que deu. Se abandonado o cultivo do algodão, a economia se esfacelava; se utilizando a água, esgotava-se o extraordinário reservatório do Mar Aral. Deu no que deu.
Na China, as coisas não são diferentes. Há uma metodologia econômica de avançar, sempre avançar, como princípio de auto-suficiência e autodeterminação. É isto que impele a China a conquistas fenomenais mas, contudo, esbarrando-se em problemas como este. E nem se falar na represa do Yang Tse, no qual, nos idos de 50, 60 e 70, o velho Mao nadava deliciosamente. Agora, são outros tempos.
O problema mais grave, nisso tudo, é que se prevê uma elevação nos preços dos alimentos, com o declínio destas águas.
O mundo, neste princípio de Século XXI já vive um tanto quanto conturbado e mais isso para piorar. Mas piorar para uns e melhorar para outros. A escassez da água, com tudo o que possa ocorrer, ainda está longe do nosso Brasil. E já se falou que somos o celeiro do mundo. Os grãos da soja e de outros equivalentes, são verdadeiros fenômenos de produção em nosso país. Há quem diga que estes grãos ou mesmo as águas, poderão ser trocados com barris de petróleo.
Inegavelmente, a crise alimentar há de vir, para castigar a fome de milhares de famintos. Haverá riscos de toda espécie e de todas as formas. Nós, brasileiros, não estamos “deitados em berço esplêndido”. Podemos estar com o hino na ponta da língua, mas, contudo, temos as nossas reservas, os nossos espaços, o nosso sistema agrário que, com toda imperfeição, é um dos maiores do mundo. É super-produção todo ano - que nos ajude, assim, sempre, os céus. Porém, cautela, é o recomendável.
Se políticas desastrosas campeiam nações, como a própria China, a Rússia e a queda da produção do açúcar em Cuba, o Brasil está de olho no comércio exterior. Iremos vender os nossos produtos que serão recebidos por todos os cantos. Ganhamos muito, embora tenhamos sérios problemas. Mas, contudo, nada poderá ser obstáculo.
A conclusão que podemos fazer é que seremos auto-determinados, sem necessidade de recorrermos ao exterior para a nossa produção agrícola e a quantidade de água que temos. Sempre disseram que os “brasileiros que se lixem”. Hoje, não dizemos o mesmo em relação a outros povos, mas, porém, faremos valer do mercado. Quem quiser viver, afinal, terá que pagar os nossos alimentos, beber a nossa água. E isto não está longe, creiam-me, sinceramente.
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