quinta-feira, 10 de março de 2011

O Povo On Line.

A República de fachada

Fonte: O POVO Online/Colunas/politica


Qual o programa do novo partido? Não precisa. Nem deveriam perder tempo com um conjunto de frases para compor o programa.

10.03.2011| 01:30


A Coluna Política (edição do dia 4) produziu uma crítica à eleição de João Paulo Cunha (foto) para a presidência da Comissão de Constituição e Justiça. Vejam um trecho: “João Paulo Cunha (PT-SP) agora preside a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados. Definitivamente, o decoro e o bom senso não são qualidades suficientemente presentes em nossa política. É um acinte. Uma ofensa. Cunha é réu no Supremo Tribunal Federal (STF). Até que seja julgado, deveria se abster de ocupar uma função de referência como é o caso... Agora, temos um deputado que responde processo no Supremo à frente da Comissão que analisa a constitucionalidade dos projetos que tramitam no Parlamento. Que beleza”. Então atentem para o comentário do professor Roberto Romano, professor de Ética e Filosofia Política da Unicamp. Para ele, a volta de personagens envolvidos em escândalos de corrupção aos holofotes da cena política é um atentado à ideia de República. Um “anacronismo absolutista” da sociedade brasileira, em que há diferenças de direitos entre o cidadão comum e os ocupantes de cargos públicos. Para o professor, tais nomeações, geram uma “ameaça ao Estado democrático de direito”: “A situação mostra a fragilidade da nossa República. É uma República quase de fachada (Globo on Line).”


A LAVANDERIA DE REPUTAÇÕES

Na mesma Coluna, o texto comentava que o petismo chegou ao poder nas eleições de 2002 defendendo com ardor uma nova cultura política. “Proferia com ênfase o discurso da ética e dos bons costumes. No poder, a conversa foi outra. O projeto de poder se sobrepôs e velhas práticas se arraigaram... Em vez de uma nova cultura política, deu-se a cara de pau”. Reparem que, além de João Paulo Cunha, o deputado federal Paulo Maluf (PP-SP), procurado pela Interpol, Valdemar da Costa Neto (PR-SP), também réu no mensalão, e Eduardo Azeredo (PSDB-MG), réu no processo do mensalão mineiro, foram escolhidos para integrar a comissão da reforma política. Junte-se a isso tudo a explosão do caso envolvendo a deputada federal Jaqueline Roriz, filmada recebendo um bolo de dinheiro. No caso dela, nem sequer será processada por falta de decoro. Afinal, em 2007 foi aprovada uma regrinha na Câmara dos Deputados afirmando que ninguém poderá ser cassado por crimes cometidos antes da eleição. Adivinhem quem bancou essa mudança? Ora, o petismo. Mais propriamente, o atual ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que exercia mandato de deputado e presidia o Conselho de Ética da Casa. O método: banalizar o crime para que todos escapem.

O PARTIDO DA DEMOCRACIA BRASILEIRA

A novidade na política do Brasil é o projeto de criação do PDB, o tal do Partido da Democracia Brasileira. O nome da sigla, por si só, já é uma provocação sem par. “Partido da Democracia” é demais, não? O patrono da maravilhosa sigla é o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (foto), que se formou no PFL-DEM e é uma cria do tucano José Serra. Portanto, um político que se formou em um campo oposto ao do petismo. Mas a nova sigla será completamente governista. Isso mesmo. Estima-se que ela pode atrair até 35 deputados federais. Uma parte oriunda da base aliada, mas a maioria será de gente abrigada em partidos de oposição, mas que está com um pé e outro querendo se tornar o mais aguerrido defensor do Governo. E qual o programa do novo partido? Nem precisa. Nem deveriam perder tempo escrevendo um conjunto de frases para compor o programa. O PDB nascerá com o único objetivo de aglutinar gente que quer apoiar o Governo e não pode fazê-lo livremente por causa da regra da fidelidade. O curioso é que o plano seguinte é a fusão com o PSB. Tanto que a movimentação de Kassab tem a benção de Eduardo Campos, o presidente nacional do PSB. Aposta: se nascer com mais de 20 deputados, o PDB vai pensar duas vezes antes de promover essa fusão.

Fábio Campos
fabiocampos@opovo.com.br