A ESCOLA E O PROFESSOR
J. R. Guedes de Oliveira
Compulsando antigos jornais, mais detalhadamente a “Gazeta de Capivary”, descobri esta preciosidade de texto, produzido pela redação do dito diário interiorano.
Num momento como este, pelo qual a classe do magistério passa por enormes dificuldades salariais e de condições materiais para o exercício profissional, é de bom alvitre dar conhecimento do que se falava, se pensava e se propunha há 100 anos atrás. Vale, pois, como reflexão.
“O homem, na grandiosa e admirável harmonia do universo, segue uma marcha natural, vive e passa. Daí, o elo contínuo que prende os pedaços desjuntos dessa grande cadeia que chamamos sociedade. Enquanto à sombra de seus louros, cercados das ostentações impassíveis aos gloriosos conquistadores do saber, a mocidade de hoje, que é o elemento constitutivo da sociedade do amanhã, entra para a escola, a educação sublime e benfazeja, assenta a sua base no seio infatigável do povo, levanta seus últimos degraus no cume dos triunfos mais completos que o espírito humano tem alcançado. A escola é o santuário que oculta a âmbula de nossas afeições mais santa; o templo onde arde o facho da razão que ilustra e onde educa o coração par amar. Ilustrar a inteligência, educar o coração, abrir novos horizontes ao espírito humano – eis os três grandes objetivos da escola. Escola é o templo onde todas as nossas aspirações se reúnem num só ideal de luz, quando a essência de nosso pensamento é Deus. Cultivar o espírito, criar na inteligência um novo mundo cheio de primores, libertar o espírito das trevas – tal é a missão evangelizadora da instrução. Para esse fim, basta uma capacidade medíocre, a par de uma boa vontade gigantesca. O mais difícil, porém, é a formação moral da mocidade, sobre cujos braços necessariamente tem de repousar os destinos supremos da pátria estremecida. Adornar esses corações com virtudes, falar-lhes a linguagem do estímulo e da persuasão, guiá-los, como Moisés, pelo saibro adurente, em uma palavra, acender em seu peito a chama sagrada do amor filial e pátrio – é esse espinhoso mister confiado ao apóstolo da luz, da verdade e do direito – o professor. A escola é, pois, esse recinto silente e sagrado, onde a criança logo ao despontar do raciocínio, embalsama o espírito com as hostes da ciência. Ela é necessária ao homem, como ao astro o seu centro de gravidade. Um povo sem instrução é um cérebro vazio. Assim, se o sol é o rei do dia, a cátedra é um sacrário aberto que o espírito humano comunica a luz e a vida. E o mestre, como sempre, é o mesmo sacerdote devoto e ilustrado, fiel observador dessa divisa sagrada, através dos séculos – só por si uma epopéia sublime: Deus, Pátria e Liberdade!” (Redação do jornal “Gazeta de Capivary”, edição de 26.01.1908).