quinta-feira, 7 de julho de 2011

Mesmo diagnóstico, para idêntica mazela.

07/07/2011 - 05h51

Para jornal argentino, Dilma enfrenta 'herança maldita' de Lula

A saída do segundo ministro de Dilma Rousseff por denúncias de corrupção em menos de um mês representa, segundo um artigo publicado nesta quinta-feira pelo jornal argentino La Nación, uma "herança maldita" deixada à presidente pelo seu antecessor e padrinho político, Luiz Inácio Lula da Silva.

Em uma analogia à "herança maldita" que Lula dizia ter recebido na economia do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o jornal aponta que os dois ministros derrubados por escândalos - Antonio Palocci, da Casa Civil, no mês passado, e Alfredo Nascimento, dos Transportes, na quarta-feira - eram ligados a Lula, de quem também haviam sido ministros.

"Já ao final de seu bem-sucedido governo, quando se preparava para deixar o poder nas mãos de sua afilhada política, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva alardeava ter superado a 'herança maldita' que, em termos econômicos - com dívida e recessão - tinha lhe deixado seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso", diz o jornal.

"Agora, sua sucessora, Dilma Rousseff, enfrenta o desafio de se sobrepor à 'herança maldita' que, na política, parece ter lhe deixado seu padrinho", complementa o texto.

Defesa
O jornal comenta que, ao contrário da defesa que fez de Palocci, que havia sido seu coordenador de campanha e é membro do seu Partido dos Trabalhadores, com o ministro dos Transportes Dilma viu a tarefa de se livrar dele "pessoalmente mais fácil".

O artigo observa que Nascimento não está ligado aos dois partidos majoritários da coalizão governista, o PT e o PMDB, e afirma que sua agremiação, o Partido da República, "tem um peso menor e não poderá fazer balançar o governo com suas exigências, apesar de gozar de bastante influência entre os evangélicos".

Em outro texto, o jornal observa que o PR tem "uma mancha de nascimento", por ter sido criado a partir do antigo Partido Liberal, que teve vários dirigentes acusados de envolvimento no então escândalo do "mensalão", em 2005.

O diário comenta que a situação do ministro se tornou insustentável com a avalanche de denúncias de corrupção publicadas pela imprensa brasileira desde o fim de semana.

"Já bastante debilitado com a renúncia de Palocci no mês passado, o governo tentou ontem se mostrar forte e decidido, ao enfatizar que Dilma já havia retirado o apoio político a Nascimento no fim de semana", diz o texto.

Para o jornal, o grande problema agora para a presidente é que "a imagem da jovem administração de Dilma fica agora muito manchada, sobretudo se for levado em conta que em plena campanha também estourou um escândalo de tráfico de influências que envolveu quem era sua mão direita quando ela era ministra da Casa Civil e foi sua sucessora no cargo, Erenice Guerra".

06/07/2011 - 19h16

Lula é "o responsável maior" pelo escândalo no Ministério dos Transportes, diz analista

Guilherme Balza
Do UOL Notícias
Em São Paulo
  • Alfredo Nascimento deixou o cargo nesta quarta-feira

    Alfredo Nascimento deixou o cargo nesta quarta-feira

O principal responsável pela presença do ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, do PR (Partido da República), no governo federal é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na avaliação de Roberto Romano, professor de Ética e Política da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Para o analista, Dilma sabia do risco que corria ao manter Nascimento no cargo, mas teve que aceitá-lo em prol da governabilidade.

“Tudo indica que a Dilma, que foi ministra-chefe da Casa Civil, sabia do risco que corria mantendo ele no cargo, mas o responsável maior é o ex-presidente Lula, que para garantir a presença do PR na base aliada fez quase um apelo público para que a Dilma mantivesse o Nascimento”, afirma Romano.

Nascimento renunciou ao cargo nesta quarta-feira (6) após uma série de denúncias de corrupção na pasta. Na avaliação do analista, o escândalo remete a um problema estrutural da política brasileira, que obriga os governos a distribuir cargos a outros partidos para manter a governabilidade.

“Desde o final da ditadura Vargas os governos tiveram que se submeter ao Congresso Nacional. A questão é estrutural. O presidente é obrigado a se render ao Congresso ou a comprar os parlamentares com cargos e verbas. Se decidir impor a sua vontade, fica isolado. É um mal estruturante do presidencialismo à moda brasileira”, diz Romano.

Na opinião do cientista político David Fleischer, da UnB (Universidade de Brasília), a queda de Nascimento foi positiva para o governo Dilma, já que abre a possibilidade de o PR perder força. Segundo o analista, a presidente acertou ao não sair em defesa do ministro e daqui para frente “se livra das pressões do PR”.

“A Dilma deixou ele pendurado, sujeito a investigações. Ela não o demitiu e deixou a imprensa liquidá-lo”, afirma Fleischer. Para o analista, a imagem do governo será bem menos afetada do que no caso Palocci. “Com o Palocci a Dilma deixou rolar muitas semanas. No caso do Alfredo Nascimento ela agiu rápido, direito, mandou demitir os quatro envolvidos nos escândalos e deixou o ministro à mercê da imprensa”, diz.

Os dois mais cotados para assumir a pasta têm perfil técnico, o senador Eduardo Braga (PMDB-AM) e o engenheiro petista Hideraldo Caron, que trabalhou com Dilma no Rio Grande do Sul. A nomeação de outro integrante do PR para o Ministério dos Transportes é improvável, segundo o especialista, embora haja uma pequena possibilidade do senador ruralista Blairo Maggi ser nomeado.

O nome de Paulo Sérgio Passos, secretário-executivo do Ministério, que ficará interino no cargo de ministro até o final do mês, também ganha força. Passos tem perfil técnico, como prefere Dilma, e é ligado ao PR.

Futuro do PR

O PR é um partido de médio porte, com sete senadores e 42 deputados federais, e pode ser o fiel da balança em votações na Câmara. Para Fleischer, o destino do partido é incerto. “O PR não vai para a oposição, porque se não morre de vez. É um tipo de partido comensal do governo. Vamos ver com a bancada do PR vai se comportar nas votações no Congresso. De repente a posição do partido pode definir algumas votações apertadas."

Romano prevê que o partido passe a chantagear o governo, ameaçando obstruir votações por exemplo.

O analista acredita ser fundamental dar continuidade às investigações dentro do Ministério dos Transportes e diz que a Polícia Federal tem mais de descobrir as irregularidades do que a Corregedoria-Geral da União.

Fleischer afirma ainda que corrupção sempre esteve no DNA do Ministério dos Transportes, desde o governo militar, passando pelas gestões de Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso e agora de Dilma Rousseff. “É uma relação viciada entre o poder público e o setor privado. São grandes obras e um cartel de empreiteiras por trás”, diz.

Escândalo

O Ministério dos Transportes divulgou nota na tarde desta quarta-feira (6) para afastar a hipótese de que o ministro Alfredo Nascimento (PR-AM) teria sido demitido do cargo. Nesta quarta-feira (6), em Brasília, o clima no Congresso era de que Nascimento não tinha mais condições de ocupar o cargo por conta da divulgação de supostos esquemas de corrupção em sua pasta.

O comunicado do Ministério diz que dos Transportes diz que Nascimento tem “determinação de colaborar espontaneamente para o esclarecimento cabal das suspeitas” e vai “encaminhar requerimento à Procuradoria-Geral da República pedindo a abertura de investigação e autorizando a quebra dos seus sigilos bancário e fiscal”. A nota diz ainda que o ex-ministro reassumirá sua vaga de senador e a presidência de seu partido, o PR (Partido da República).

O caso

No último sábado (2) a revista “Veja” relatou suposto esquema de propinas no Ministério dos Transportes que beneficiariam o PR –partido ao qual pertence o ministro Alfredo Nascimento e que comanda a pasta desde o governo Lula.

Segundo a revista, o esquema envolveria o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e a Valec –órgãos submetidos ao Ministério dos Transportes. No sábado mesmo, a presidente Dilma Rousseff afastou quatro dirigentes da cúpula do Ministério, incluindo Luís Antônio Pagot, diretor-geral do Dnit e José Francisco das Neves, diretor-presidente da Valec. Os outros afastados são Mauro Barbosa da Silva, chefe de gabinete de Nascimento, e Luís Tito Bonvini, assessor do gabinete do ministro.

A situação de Nascimento se agravou nesta terça. O jornal “O Globo” divulgou caso em que o Ministério Público investiga suposto enriquecimento ilícito do filho do ministro, Gustavo Morais Pereira, de 27 anos. Segundo a reportagem, o patrimônio de sua empresa, a Forma Construções, aumentou 86.500% em dois anos beneficiando-se, supostamente, do esquema no Ministério.