Neste final de semana, em São Paulo, um Porsche a 150 km por hora, causou a morte de uma jovem. E tal é um detalhe do morticínio brasileiro do trânsito, que mata mais do que muitas guerras declaradas. Enfim...
domingo, 10 de julho de 2011
Pensar dói!
O que há de pior nos carros é serem como castelos ou mansões à beira do mar: bens luxuosos inventados para o prazer exclusivo de uma minoriamuito rica, os quais em concepção e natureza nunca foram direcionadospara o povo. Ao contrário do aspirador de pó, do rádio, ou da bicicleta, que têm seu valor de uso quando todos possuem um, o carro, como uma mansão à beira do mar, é somente desejável e útil a partir do momento que as massas não têm um. Por isso, tanto em concepção quanto na sua finalidade original o carro é um bem de luxo. E a essência do luxo é a de que ele não pode ser democratizado. Se todos puderem ter o luxo, ninguém obtém as vantagens dele. Do contrário, todos logram, enganam e frustramos demais, e é logrado, enganado e frustrado por sua vez. Isto é de muitíssimo conhecimento comum no caso das mansões à beira mar. Nenhum político ousou ainda reivindicar que democratizar o direito às férias significasse uma mansão com praia particular para cada família. Todosc ompreendem que se cada uma entre 13 ou 14 milhões de famíliasdevessem usar somente 10 metros da costa, tomaria-se 140.000km de praia para que todos tivessem sua parte! Para dar a todos sua parte teria-se que cortar as praias em tiras pequenas - ou espremer tão fortemente as mansões - que seu valor de uso seria nulo e sua vantagem sobre um complexo hoteleiro desapareceria. De fato, a democratização do acesso às praias aponta a somente uma solução: a solução coletivista. E esta soluçãoestá necessariamente em guerra com o luxo da praia particular, que é umprivilégio que uma minoria pequena toma como seu direito às custas detodos. Agora, por que aquilo que é perfeitamente óbvio no caso das praias não égeralmente visto da mesma forma no caso do transporte? Como a casa depraia, um carro também não ocupa espaço escasso? Não priva os outros queusam as estradas (pedestres, ciclistas, motoristas de ônibus, etc.)? Nãoperde seu valor de uso quando todos usam os seus próprios? No entanto háuma abundância de políticos que insistem que cada família tem o direito aomenos a um carro e que é até encargo do "governo" tornar possível quetodos possam estacionar convenientemente, dirijam facilmente na cidade, epossam viajar no feriado ao mesmo tempo que todos outros, indo a 70Km/h nas estradas, às estações de férias. A monstruosidade deste absurdo demagógico é imediatamente aparente,no entanto, mesmo a esquerda não desdém de recorrer a ela. Por que o carro é tratado como uma vaca sagrada? Por que, ao contrário de outros bens "privados", ele não é reconhecido como um luxo anti-social? A resposta deve ser procurada nos dois aspectos seguintes da atividade dedirigir. A massificação do automóvel efetua um triunfo absoluto do ideologia burguesa no nível da vida diária. Dá e sustenta em todos a ilusão de que cada indivíduo pode procurar o seu próprio benefício às custas de todos osdemais. Leva ao egoísmo cruel e agressivo do motorista que em todos os... Leia mais aqui
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Moscovici (do livro A natureza, Editora Mauad)
Nosso psiquismo está ocupado pelo automóvel; pela ideia de liberdade, individualidade e rapidez. Não inventem nada. Não avaliem se há ou não outros meios de atender nossos desejos, as nossas condições de existência [...]Cada um está fechado em seu carro dentro de uma concha: lugar da solidão, lugar da dessocialização. Ninguém se comunica. Todos se evitam, se fecham em si mesmos, prisioneiros do cinto de segurança, do volante, do assento, das portas e janelas (MOSCOVICI, 2007, p. 206-207).
Só há uma maneira de sair dessa: a bicicleta. [...] ela não imobiliza o corpo, mas mobiliza as pernas, os braços, os cinco ou seis sentidos – já que a cabeça sonha. Se alguém cair, a pessoa se levanta e acorda cercada de seres humanos. [...] A bicicleta zomba dos regulamentos, ignora as proibições, circula em todo tipo de terreno e estaciona em qualquer lugar – na varanda, por exemplo. Em toda sociedade de consumo, é a bicicleta que consome menos; vez ou outra um pouco de ar e músculos (idem).