sábado, 20 de agosto de 2011

Enquanto não for abolido o segredo das assessorias, o segredo no andamento dos projetos, o segredo, coisas assim são inevitáveis na universidade.

São Paulo, sábado, 20 de agosto de 2011



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Entidade faz curso com condenado por plágio

Sociedade Brasileira de Zoologia e UFPA, onde o cientista dá aula, afirmaram desconhecer o histórico do pesquisador

Biólogo teve artigo e livro cancelados por copiar trechos de outros trabalhos sem mencionar a fonte

SABINE RIGHETTI
DE SÃO PAULO

A Sociedade Brasileira de Zoologia convidou, pela segunda vez, um cientista com histórico de plágio para ministrar um dos minicursos em seu próximo congresso bienal, que acontece em março.
O minicurso, sobre entomologia forense (que envolve o uso de insetos como pistas de crimes), deve ser conduzido pelo entomólogo Leonardo Gomes, da UFPA (Universidade Federal do Pará).
Há cinco anos Gomes tem seu nome ligado a fraudes científicas, desde seu pós-doutorado na Unesp (Universidade Estadual Paulista).
Duas das acusações foram comprovadas. Elas levaram à saída de Gomes da Sociedade Brasileira de Entomologia e da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), onde ele teve uma bolsa cortada em 2008.
O pesquisador teve um artigo científico anulado pela revista "Neotropical Entomology" e um livro sobre entomologia cancelado pela Springer, editora internacional de obras científicas.
No artigo, o cientista copiou partes integrais de trabalhos já publicados.
Isso ocorreu "lamentavelmente", na opinião do ex-orientador e coautor de Gomes, Cláudio Von Zuben, professor da Unesp de Rio Claro.

"Ele teve a honradez de assumir o erro", diz Zuben.

Mas, na opinião do biólogo da UnB (Universidade Nacional de Brasília), Marcelo Hermes-Lima, assumir um erro não é uma atitude "honrosa". "Isso é uma obrigação."
Até essa retratação, Gomes era revisor da própria "Neotropical Entomology". Ou seja: ele analisava os artigos enviados para publicação, dando pareceres sobre isso.
Por causa do convite da Sociedade Brasileira de Zoologia, entomólogos consultados pela Folha afirmaram estarem se mobilizando para que seus colegas não participem do evento.


PANOS QUENTES

O histórico de plágio de Gomes não era do conhecimento da presidente do Congresso Brasileiro de Zoologia, Rejâne Maria da Silva. À Folha, ela afirmou que está tentando substitui-lo no curso.
A UFPA também informou, em nota, que desconhecia as denúncias referentes à conduta de pesquisa do docente.
O desconhecimento generalizado do fato talvez se deva ao modo como a própria Unesp conduziu o caso.
Na época em que as denúncias sobre Gomes surgiram, a Unesp abriu uma sindicância -mas contra o doutorando que levantou suspeitas sobre o trabalho do colega.
Esse aluno foi acusado de "conduta irregular" e de fazer "campanha caluniosa e difamatória de forma sistemática" contra Gomes.
"Mas já havia punições oficiais pelas revistas antes do processo da Unesp. Todos esconderam isso", afirmou Ricardo à Folha (autor das denúncias, em nome fictício).
Gomes, via assessoria da UFPA, afirmou que não se manifestaria sobre o caso.


MÁ CONDUTA

O Brasil ainda não tem regras claras para prevenção e punição de casos de fraudes científicas. As investigações de fraude ficam a cargo das instituições onde ocorrem os casos de má conduta.
Recentemente, o CNPq (Conselho Nacional de Pesquisa Científica) anunciou que deve criar uma comissão nacional com essa função.
De acordo com Glaucius Oliva, presidente do CNPq, a proposta deve sair do papel em dois meses. "Precisamos introduzir o conceito de ética nos nossos pesquisadores."