Crise interrompe ascensão política de Hélio
Para analistas políticos, más escolhas prejudicaram imagem popular construída pelo prefeito de Campinas
20/08/2011 - 05h00 . Atualizada em 20/08/2011 - 05h04
Natan Dias | RAC | ||
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(Foto: César Rodrigues/AAN)
“Ele era, até recentemente, considerado um político exemplar.” Desta forma o professor de ética e política da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Roberto Romano, descreveu a carreira política de Hélio de Oliveira Santos (PDT). Do ponto de vista do cientista político Valeriano Costa o pedetista ainda não está completamente fora da política caso seja cassado. “Ele tem como se reerguer, mas não irá ocupar um grande cargo como pretendia. Talvez algum cargo administrativo ou de vereador, mas ele teria que ter muita força de vontade para isso”, analisou.
Para Romano, este médico de Corumbá saiu do ponto mais alto e caiu a este patamar no qual se encontra hoje por ter “pecado” nas escolhas que fez para seu governo. “Algumas pessoas que ele elegeu são verdadeiros ases da competência e da ética mas, como sempre na vida política, você tem boas e péssimas escolhas. Nesse caso parece que ele aceitou (em seu governo) pessoas que não tinham essa competência nem essa prudência ética”, disse.
Costa não afasta a comparação entre Hélio e ao também médico, prefeito e governador de São Paulo, Adhemar Pereira de Barros. “Hélio tinha esse perfil populista e teve inserção forte na periferia pelo campo da Saúde. Foi o médico missionário dedicado a causas do povo e isso tinha algo de folclórico”, explicou.
Na concepção dele, as raízes de Hélio não foram muito levadas em conta em sua trajetória. “Ninguém sabia exatamente a que tipo de grupo ele estava ligado. Sobre a vinda dele para Campinas antes de ser eleito eu não sei muito, mas parece que ele se tornou a liderança de um grupo ao ser eleito aqui e foi trazendo para cá essas pessoas”, contou.
Para Costa, mesmo diante de derrotas que enfrentou na política, “estava claro que Hélio construía uma trajetória vencedora individual. Individual pois ele nunca se vinculou diretamente a um partido. Era um projeto mais pessoal do que de partido”, apontou o cientista político. Porém, ele salientou que o pedetista é “muito habilidoso na relação política”. “Por isso ele admirava o Lula. O Hélio sempre teve muita empatia e foi bem articulado, mas ele não construía nada em torno de partidos ou grupos. O que ele buscava estava mais ligado à trajetória de benefício pessoal”, disse.
Por outro lado, Romano afirmou que a “desculpa” de não saber de nada não era “aceitável” no caso de Hélio. “É um crime de responsabilidade não saber. É um defeito inaceitável para alguém que está dirigindo um município como Campinas. Dizer que não sabia o que esposa fazia é mais complicado ainda”, disse. Mas ele ressalvou que é preciso aguardar até o fim das investigações do Ministério Público (MP). “Se for provado que ele não sabia de nada, é preciso investigar porquê ele não sabia, o que é muito difícil. Mas com ou sem mulher ou secretários, quem tem que responder pelos erros é o Doutor Hélio”, afirmou.
Mas a vida política de Hélio estava em um momento delicado, segundo Costa. “Ele teria que ter dado um passo a mais antes. Talvez tenha demorado demais. Ele perdeu o fôlego e não conseguiu colocar claramente o que iria fazer após o mandato de prefeito”, disse. De acordo com o cientista político, essa indefinição culminaria na paralisação política do chefe do Executivo campineiro por algum tempo. “Ele poderia ser ministro, mas o jogo em Brasília é mais pesado e o ministro Carlos Lupi já fechou a porta por lá. Ser deputado federal também desgastaria a imagem dele. O que ele poderia fazer seria correr para senador ou governador, que era o que ele queria, mas agora ficou difícil”, disse.