SP: PT celebra recuperação, mas analistas minimizam volta de Lula
31 de março de 2012 • 12h4
O ex-presidente Lula será cabo eleitoral do PT e tentará reverter a vantagem de Serra contra Haddad nas pesquisas
Foto: Ricardo Stuckert /Instituto Lula/Divulgação
A recuperação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está livre do tumor na laringe, renovou o ânimo da campanha petista para conquistar a prefeitura de São Paulo. Articulada por ele, a candidatura do ex-ministro da Educação Fernando Haddad tem apenas 3% das intenções de voto, contra 30% de José Serra (PSDB), segundo a última pesquisa do Datafolha. A partir de agora, Lula, "o principal cabo eleitoral da América Latina", conforme o presidente do PT em São Paulo, Edinho Silva, deve trabalhar ativamente para equilibrar a disputa com Serra. Porém, mesmo com o otimismo do PT, os analistas ouvidos pelo Terra minimizam a influência do ex-presidente no cenário local.
A batalha de Lula contra o câncer
Os cânceres de Dilma e Lula
"Não há evidências de que a transferência de popularidade para Haddad será automática, como foi na Presidência em relação a Dilma Rousseff, que era muito próxima e herdou os benefícios do governo Lula. Nas eleições presidenciais, o voto tem a ver com o retrospecto econômico. As pessoas estavam felizes com a economia e atribuíam isso a Lula. Nada disso ocorre em São Paulo", ressaltou o cientista político Lúcio Renno, da Universidade de Brasília (UnB).
O presidente nacional do PT, Rui Falcão, afirmou que, embora Lula nunca tenha ficado "de fora da atividade política e da atividade partidária", é certo que a sua participação na campanha para eleger Haddad irá aumentar. "Ele vai fazer a nossa campanha. O principal alvo é a gente fazer crescer a campanha do Fernando Haddad", disse.
Segundo o professor de Ética e cientista político da Unicamp Roberto Romano, Lula vai "exercer sua força com uma estratégia e ação incomuns", mas "é muito difícil ele reverter a vantagem do Serra. Tudo vai depender da capacidade de formar alianças e da propaganda. O Serra não é um boneco vazio em São Paulo, tudo se encaminha para uma campanha dura".
Serra venceu Dilma em São Paulo
Em 2010, na disputa pela Presidência, Serra venceu Dilma em São Paulo nos dois turnos. No segundo, ele obteve 53,6% dos votos, contra 46,4% da atual presidente. Isso mostra, conforme Lúcio Renno, que o "lulismo" não é uma realidade paulistana.
"Em São Paulo, o Haddad é o candidato da oposição para um cargo que Lula nunca exerceu ou teve atuação forte. Sem o ex-presidente, Haddad teria uma chance muito pequena. Com ele, pode aumentar um pouco seu potencial, mas a ideia de 'lulismo' é difícil de vingar", afirmou.
Antes e depois de Lula
Rui Falcão revelou que uma das estratégias da campanha será comparar os governos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) com os de Lula e Dilma. "É um debate excelente, porque nós vamos poder contrastar dois países: o país antes do Lula, que é o país ligado ao Serra, e o país depois do Lula, que é o nosso país. Mas nós não vamos também esquecer as questões locais", salientou.
Outros líderes do PT ouvidos pelo Terra disseram que o papel de Lula vai muito além que o de atrair votos. "O Lula é um grande articulador político. O fato dele estar bem e estar de volta (à política) dá uma segurança (aos partidos aliados). Agora as alianças vão deslanchar", disse um cacique petista, que admitiu que a doença enfrentada pelo ex-presidente "atrasou um pouco" a formação da equipe de coordenação da campanha de Haddad e a discussão em torno da escolha do vice de chapa. "Ninguém quer fechar nada sem ouvir o Lula", completou.
Além de negociar uma aliança com o PSB do governador Eduardo Campos, de Pernambuco, Lula tem um papel "conciliador", assinalam os petistas. Nos próximos dias, por exemplo, o ex-presidente deve procurar a senadora Marta Suplicy para pedir que ela se dedique à campanha de Haddad. Segundo petistas, a ex-prefeita só tem aguardado Lula para, nas palavras dela, "gastar sola de sapato com Haddad". "A Marta vai participar da campanha, como sempre participou de todas as campanhas do PT, mesmo quando ela ainda não era parlamentar. Ela vai ver o melhor momento para participar, e a conversa com o Lula é para decidir (esse momento)", informou Rui falcão.
Caravanas pelo Brasil
A partir de abril, Lula irá se dedicar também a outras campanhas do PT em cidades consideradas "estratégicas" pelo partido, devendo voltar a percorrer o País, mas com "dosagem", devido à saúde. A expectativa é que o ex-presidente não suba aos palanques, mas grave vídeos e peça votos para os candidatos da legenda, Ao todo, o PT trabalha para eleger pelo menos 70 prefeitos do partido nas 118 cidades com mais de 150 mil habitantes do País.
O câncer de Lula
Após queixa de dores de garganta, Lula realizou uma série de exames na noite de 28 de outubro do ano passado. Na manhã do dia seguinte, foi divulgado boletim médico do Hospital Sírio-Libanês, de São Paulo, informando que foi diagnosticado um tumor maligno na laringe, que seria inicialmente tratado por quimioterapia.
Após três ciclos de quimioterapia e 33 sessões de radioterapia, o tumor teve "uma remissão completa", conforme anunciou o porta-voz do Instituto Lula, José Chrispiniano, e confirmou o Sírio-Libanês em 28 de março de 2012. Para ser considerado curado do câncer, Lula terá de se submeter a exames durante os próximos cinco anos.
O câncer na região da laringe é mais comum entre homens e o de maior incidência na região da cabeça e pescoço. Os principais fatores que potencializam a doença são o tabagismo e o consumo de álcool. Já os sintomas são: dor de garganta, rouquidão, dificuldade de engolir, sensação de "caroço" na garganta e falta de ar.