quinta-feira, 29 de março de 2012

Enviado pelo amigo Alvaro Caputo.

Campanha presidencial francesa mostra, por comparação, miséria da discussão política brasileira

sarkozy-hollande

Nicolas Sarkozy e François Hollande: nem um só tema fútil ou irrelevante em discussão

E, comparando com o que estamos acostumados a ver em nossas campanhas presidenciais, dá vontade de chorar.

Da campanha brasileira de 2010, todos nos recordamos. Foi uma sucessão de trocas de acusações que incluíam se o tucano José Serra foi ou não atingido por um objeto capaz de feri-lo durante caminhada no Rio, se a petista Dilma Rousseff mantinha ou retirava declarações anteriores sobre o aborto, quem rezava mais que o outro, quem era mais amigo de infância do eleitorado evangélico – e por aí vai.

Os reais problemas dos brasileiros passaram longe dos debates, fraquíssimos, entre os candidatos.

Fazendo uma rápida comparação com o que tenho visto na França, vejam os temas em discussão:

# Que mecanismos e medidas adotar para reduzir a dívida pública francesa, que chega a 89% de seu Produto Nacional Bruto de 2,2 trilhões de dòlares.

# O que fazer com o parque nuclear francês, responsável por 75% da energia elètrica produzida no país.

# Que caminhos adotar para reconstruir o ensino médio francês, outrora admirável por sua eficiência mas hoje em crise.

# Quanto investir e que decisões adotar para que a França – país que exporta aviões, automóveis, material bélico, satélites e outros produtos de alta tecnologia — não fique para trás no campo da pesquisa e do desenvolvimento.

# Até que ponto deve a França avançar no caminho da integração da Europa? Propugnar por um governo econômico europeu mais poderoso? E quanto â integração no setor de defesa? Se for pelo caminho de uma real integração, qual seria o papel da force de frappe – a capacidade de dissuasão nuclear com seus próprios mísseis e bombas, de que a França tanto se orgulha?

# O papel do Estado francês, tradicionalmente grande e pesado, e da iniciativa privada na criação de empregos.

# A França e sua postura diante da “primavera árabe”.

Os temas não se esgotam aí.

Mas creio que deu para perceber o grau de diferença entre o debate político lá e “neste país”, não?


Coluna Ricardo Setti no www.abril.veja.com.br