sábado, 24 de março de 2012

Enviado por Paulo Araújo.


Contra os que odeiam, contra os racistas, vamos comemorar a beleza na história do Sr Louro.
Uma reportagem do Globo Rural
Barragem subterrânea mantém solo úmido em períodos de seca
A reportagem é interessante porque mostra como soluções técnicas de baixo custo podem fazer uma enorme diferença para a vida dos pequenos agricultores no semi-árido. Um agricultor mostrou a cacimba no período de plena estiagem com 4 metros de lençol d’água. Ele contou que antes da barragem já havia enfrentado seca que o obrigou a trazer água de uma distância de mais de 30 km.
Com água e trabalho, Sr Louro “passou de uma atividade de subsistência para a de produção rural de verdade, numa escala que atende sete famílias. Só de banana ele tira uma tonelada por mês. Há também mamão, coco-da-baía, pimenta, caju, amendoim, tomate, pinha, feijão, goiaba, cebolinha e coentro. Só de hortaliças em geral são mais de 20 canteiros.” Ele também incrementou o pequeno rebanho de cabras e a boiada.
Água e trabalho propiciaram renda para o Sr Louro comprar a terra, antes arrendada, pelo crédito fundiário. “Graças ao que fatura, está em dia com as prestações. O agricultor se orgulha de ter se [sic] bem sucedido e, principalmente pelo fato de junto com os filhos não precisar mais viver de favor.”
A técnica da barragem subterrânea permite a formação de mini-aquíferos artificiais.
Sim. São Paulo recebeu ao longo de décadas homens como o Sr Louro. E a cidade ganhou muito com isso. A cidade atraiu para si o que havia de melhor.
Impossível ver este Sr Louro e não lembrar dos muitos “Sr Louro”, de lá e daqui.
O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral.
A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o desempeno, a estrutura corretíssima das organizações atléticas.
É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo, reflete no aspecto a fealdade típica dos fracos. [...]
É o homem permanentemente fatigado. [...]
Entretanto, toda esta aparência de cansaço ilude.
Nada é mais surpreendedor do que vê-la desaparecer de improviso. Naquela organização combalida operam-se, em segundos, transmutações completas. Basta o aparecimento de qualquer incidente exigindo-lhe o desencadear das energias adormecidas. O homem transfigura-se. Empertiga-se, estadeando novos relevos, novas linhas na estatura e no gesto; e a cabeça firma-se-lhe, alta, sobre os ombros possantes aclarada pelo olhar desassombrado e forte; e corrigem-se-lhe, prestes, numa descarga nervosa instantânea, todos os efeitos do relaxamento habitual dos órgãos; e da figura vulgar do tabaréu canhestro reponta, inesperadamente, o aspecto dominador de um titã acobreado e potente, num desdobramento surpreendente de força e agilidade extraordinárias.
(Cunha, Euclides da. Os sertões. São Paulo, Editora Três, 1984 (Biblioteca do Estudante). Versão digital proveniente da Biblioteca Virtual do Estudante de Língua Portuguesa )