Eduardo Campos move-se para virar ‘alternativa’ a Dilma para 2014 e já atrai simpatia até de FHC
Na política, como no futebol, os times fortes criam torcidas fortes. A força das torcidas cresce na proporção direta da capacidade do time de vencer e gerar felicidade. Sob Dilma Rousseff, o Planalto emite sinais de que deseja dissociar Brasília da lógica dos gramados.
No comando da maior base congressual já vista desde a redemocratização do país, em 1985, Dilma protagoniza gestos que levam à desagregação do seu arcaico conglomerado de apoiadores (14 partidos). Arrisca-se a tomar gols contra no Legislativo. Mas avalia que sua nova tática fará vibrar as arquibancadas.
Ao tentar enquadrar seu time, dosando a tradicional contrapartida de cargos, verbas e prestígio político, Dilma produziu um paradoxo: a despeito dos altos índices que ostenta nas pesquisas, deixou de ser vista por de seus próprios “aliados” como primeira opção para a sucessão presidencial de 2014.
Parte do condomínio governista busca, desde logo, uma alternativa. Governador de Pernambuco e presidente do PSB federal, Eduardo Campos move-se nos subterrâneos para tornar-se a opção. Uma opção extraída de dentro do bloco partidário que, organizado por Lula, agrupou-se ao redor de Dilma.
A movimentação de Eduardo, por intensa, chama a atenção de lideranças governistas e oposicionistas. Desperta simpatias surpreendentes. Por exemplo: presidente de honra do PSDB, Fernando Henrique Cardoso transborda de elogios ao governador pernambucano.
No início da semana, em conversa com um político que o visitou em São Paulo, FHC enalteceu a capacidade de articulação política de Eduardo. Enxerga nele um fulgor próprio dos obcecados. Vê resplandecer no mandachuva do PSB um viço de candidato que acredita faltar a Aécio Neves, o presidenciável “óbvio” do PSDB.
Dez dias antes, em diálogo com outro político com quem dividiu suas análises, FHC ultrapassara as fronteiras do mero elogio. Dissera que, dependendo das circunstâncias, Eduardo Campos pode tornar-se uma opção também para as forças políticas que se opõem ao projeto de poder longevo representado pelo PT.
FHC surpreendeu o interlocutor ao admitir entre quatro paredes algo que tão cedo não dirá em público: acha que, como conjectura, não se pode descartar liminarmente a hipótese de composição de uma chapa que tenha Eduardo na cabeça e Aécio na posição de vice.
Por razões diversas, o pedaço da coligação governista que começa a vislumbrar em Dilma um empecilho aos seus interesses também observa Eduardo com outros olhos. Os elogios ao governador tornaram-se comuns nos lábios de caciques da política. Entre eles dois figurões do PMDB: José Sarney e Renan Calheiros.
Eduardo Campos já coleciona adeptos mesmo no grupo mais próximo do vice-presidente da República Michel Temer, hoje o principal símbolo da parceria que fez o governismo do PMDB mudar de status –de mero apoiador, condição que ostentava sob Lula, passou a sócio do PT na gestão Dilma.
Ouvido pelo blog, o partidário de Temer que se achega a Eduardo disse que Dilma passou a jogar na divisão do PMDB. Segundo suas palavras, a presidente está transformando o partido “num mundo de ninguém”. Desidrata o poder do vice e conspurca a unidade que se havia formado em torno dele.
Com isso, nacos do PMDB distanciam-se da tese segundo a qual o que mais convém à legenda é reeditar em 2014 a chapa Dilma-Temer. Passa-se a considerar o “casamento” como um divórcio esperando o melhor momento para acontecer. Algo para meados de 2013.
Suponha que uma eventual dissidência some 30 ou 40 pessoas, especula o pemedebê descontente. Teria o tamanho de um partido de porte médio, ele conclui. Acha que não é um movimento que possa ser ignorado. Trata a potencial defecção quase como um dado da realidade. “A Dilma é o que é, não vai mudar”, diz.
As articulações desencadeadas pelas mágoas que Dilma ateou à sua volta espantam pela precocidade. A sucessão de 2014 não é senão um ponto longínquo na folhinha. Mas os caçadores de alternativa preferem o planejamento à surpresa.
São duas as principais condicionantes do cenário: o comportamento dos indicadores da economia e a disposição física de Lula. Quem aposta no infortúnio de Dilma escora o êxito da empreitada na corrosão do PIB, submetido aos efeitos da crise internacional, e na ausência de ânimo do Lula pós-câncer.
Aécio Neves já declarou que se dispõe à medir forças com Dilma ou com Lula. Eduardo Campos, avaliam todos, não ousaria confrontar-se com Lula. Devota-lhe amizade. De resto, tem com ele uma dívida de gratidão. Deve a popularidade do seu governo às verbas federais que Lula despejou em Pernambuco.
O mesmo não ocorre em relação a Dilma. Longe dos refletores, Eduardo diz que não deve nada à sucessora de Lula. Ao contrário. Considera-se credor de Dilma. Retirou do caminho dela, na campanha de 2010, a candidatura presidencial de Ciro Gomes (PSB-CE).
Sob Dilma, queixa-se esse Eduardo dos diálogos privados, Brasília sorri mais para a Bahia do petista Jaques Wagner do que para Pernambuco. Quem o escuta fica com a impressão de que, com uma conjuntura favorável, não hesitaria em testar seu projeto presidencial já em 2014, contra Dilma e o PT.
Um deputado federal do partido de Eduardo enxerga na cena envenenada de Brasília uma formação prematura de alianças. Vê o PDT de Carlos Lupi e o PP de Francisco Dornelles próximos de Aécio. Enxerga o PCdoB, o PSD e o PTB em pleno flerte com Eduardo.
Esse tipo de conchavo vale pelo peso que tem na definição do tempo de tevê de cada contendor. No momento, Eduardo Campos acende velas defronte do altar do TSE. Roga aos céus para que a Justiça Eleitoral conceda ao recém-nascido PSD o tempo de tevê reivindicado pela turma de Gilberto Kassab. Atendido em suas preces, o governador pernambucano ficaria mais próximo de uma candidatura.