segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Canal Terra 23/11/2009

Especialista: País carece de "condições bélicas" para mediar
23 de novembro de 2009 11h07 atualizado às 11h39


Hermano Freitas
Direto de São Paulo

O professor de Filosofia e Ética da Universidade de Campinas (Unicamp), Roberto Romano, avaliou a declaração do presidente Lula, de que o País teria condições de "dialogar" com o Oriente Médio, como "imprudente". Segundo o especialista, o Brasil carece de condições geopolíticas e até mesmo bélicas para mediar a paz nos conflitos da região. "Mesmo os EUA, na qualidade de única potência, têm dificuldades, então não seria o Brasil que teria esta capacidade", disse.

Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta segunda-feira que o momento é propício para desenvolver a "capacidade de negociação" do governo brasileiro. No início do mês, o presidente de Israel, Shimon Peres, esteve no Brasil e na última sexta o líder da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, chegou ao País. Hoje, Lula recebe o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. "Poucos países têm esta primazia", afirmou Lula.

Ainda de acordo com Romano, a visita de Ahmadinejad tem em vista a cooperação dos dois países no programa nuclear iraniano, o que pode colocar o país em condições "péssimas" em relação aos aliados. "Podemos angariar a antipatia de grandes potências não apenas ocidentais, mas também a Rússia e a China", declarou.

Romano afirma que a paz na região passa pela resolução de problemas amplos que a Organização das Nações Unidas procura solucionar sem sucesso há décadas. "A declaração do presidente, de que temos esta capacidade, carece de fundamento", afirmou.

Procurado, o Ministério das Relações Exteriores afirmou que o Brasil não "concorda inteiramente" com as posições dos países com os quais tem relações diplomáticas. Ainda de acordo com o Itamaraty, não há ganho em não dialogar com o Irã e isolar o País. "Não queremos deixar de ter oportunidade de fazer negócios com o Irã, e a vista do presidente Ahmadinejad é uma oportunidade para isso", diz o subsecretário-geral de Assuntos Políticos do Itamaraty, Roberto Jaguaribe.