11/11/2009 - 19h07
Raios e ventos em Itaberá (SP) causaram apagão no país, diz ministro
Claudia Andrade
Do UOL Notícias
Em Brasília
Do UOL Notícias
Em Brasília
Em entrevista coletiva realizada no final da tarde desta quarta-feira (11), o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, voltou a culpar condições meteorológicas pelo apagão que afetou 18 Estados do país por volta das 22h10 desta terça-feira (10).
Lobão culpa descargas atmosféricas, ventos e chuvas
O ministro esteve reunido com representantes do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) na tarde de hoje. "Todos chegaram à conclusão que foram descargas atmosféricas, ventos e chuvas muito fortes na região de Itaberá (SP). Houve uma concentração desses fenômenos atmosféricos ali. O que provocou um curto circuito nos 3 circuitos que levam a Itaberá, que vêm de Itaipu", disse Lobão.
De acordo com lista divulgada na tarde desta quarta-feira pelo ONS os Estados atingidos são: São Paulo, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro e Espírito Santo (estes com o fornecimento afetado em praticamente 100% de suas áreas), além de Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Acre, Rondônia, Bahia, Sergipe, Paraíba, Alagoas, Pernambuco e Rio Grande do Norte (estes parcialmente afetados). Apesar de não entrar na lista oficial, o Distrito Federal também relatou falta de energia.
"O sistema de proteção atuou desligando as linhas de transmissão para que não houvesse um acidente ainda maior. O próprio Inpe [Instituo Nacional de Pesquisas Espaciais] nos deu conta que de fato houve concentração muito grande desses fenômenos ali na região", disse ainda o ministro.
Estados atingidos pelo apagão
Pela manhã, o secretário-executivo do ministério, Márcio Zimmermann, afirmou que o desligamento de três linhas de transmissão foi a causa do problema: duas delas ligam Ivaiporã, no centro do Paraná, a Itaberá, em São Paulo. A terceira liga Itaberá à subestação de Tijuco Preto, também em São Paulo. Ele classificou o fato de "ocorrência raríssima".
"Vejam que temos três linhas. Se caísse uma, as duas atuariam fortemente, caindo duas, a terceira sustentaria o sistema, não conseguiu sustentar, tão forte foi a incidência dos raios ali ocorridos", disse Lobão.
Sistema "robusto"
O ministro voltou a dizer que os brasileiros podem confiar no sistema elétrico. "O consumidor pode ficar tranquilo que o sistema que temos no Brasil é bom. Houve um acidente? Houve. Uma das máquinas perfeitas que o homem criou é o avião e o avião também cai. Podemos considerar que houve um acidente e esperar que não ocorra outro semelhante", afirmou.
"O sistema brasileiro não é frágil, é forte. É tão robusto que voltou em quatro horas, enquanto em outros países volta em um dia, dois dias, quatro dias."
Em nota oficial, o ministério afirma que a energia foi totalmente restabelecida em uma hora depois do começo do blecaute, exceto nos Estados do Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo, que ocorreu ao longo da madrugada.
Para o especialista em setor energético Ildo Sauer, professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (USP),a causa do apagão também pode estar relacionada a falta de manutenção.
"Apenas tufões, furacões, queda de avião, caminhão que atropela torre ou abalos extremamente graves e muito improváveis não são compreendidos no projeto das usinas, porque cobrir o sistema para todo tipo de evento seria muito caro. Mas raios não explicam de jeito nenhum o apagão. O sistema é projetado para permanecer estável para mudanças climáticas", disse.
Apagão de 2001
O secretário-executivo do ministério, Márcio Zimmermann, descartou qualquer semelhança entre o problema da noite passada e o apagão de 2001, que levou o governo a instituir um esquema de racionamento no país.
"O Brasil vem investindo pesado em um sistema de transmissão robusto. Em 2001, o que ocorreu era uma falta de energia. Agora, não tem falta de energia, foi um problema elétrico que levou a essa perturbação. Naquela época não tinha sido feito o investimento necessário em trasmissão e geração e teve que racionar a energia. Diminuiu em 20% o fornecimento, de junho de 2001 a 2002, porque não tinha energia".
Segundo ele, o Brasil agora tem o sistema "mais interligado do mundo", e o novo apagão foi resultado de uma combinação inédita de fatores. "O Brasil sempre teve essa característica de pós-perturbação. O sistema elétrico não é imune a isso, ele fica sujeito a essas perturbações. Agora, o que ocorreu foi uma contingência tripla que é raríssima."
Estados atingidos
Os Estados mais atingidos foram os da região Sudeste, principalmente Rio de Janeiro e São Paulo. O Paraguai, que faz fronteira com o Brasil, igualmente teve problemas de abastecimento.
A falta de energia causou prejuízos para as empresas estatais que administram o saneamento básico no Sudeste. Com as máquinas sendo ligadas e desligadas, as alterações na circulação de água produziram mudanças bruscas de pressão e ressecamentos nos mecanismos, obrigando os técnicos das companhias a enfrentar turnos inesperados de reparo dos danos e manutenção das tubulações. No total, cerca de 8,5 milhões de habitantes dessa região foram afetados.
Nos Estados mais atingidos do país, houve problemas de trânsito e diversas ocorrências, como acidentes, além do resgistro de crimes e mortes. Os bombeiros atenderam 169 chamados de pessoas presas no elevador.