domingo, 4 de julho de 2010

Diário de Pernambuco. 4/7/2010.









O risco de tirar proveito político da tragédia

Especialista alerta: candidatos serão vistos como antiéticos se usarem as enchentes para se promover

Aline Moura

alinemoura.pe@dabr.com.br


Oposição e governistas têm um desafio a mais na campanha desse ano: encontrar um discurso que possa contemplar as 67 cidades pernambucanas atingidas pelas chuvas, mas sem tirar proveito político da tragédia. Em meio a famílias que perderam tudo ou quase tudo, o pior caminho será apontar culpados ou fazer assistencialismo. É o que adverte o professor de ética e política da Unicamp Roberto Romano. O olhar do especialista permite a neutralidade. Segundo ele, qualquer político ou partido que já esteve no poder, seja no executivo ou legislativo, será antiético se usar a fragilidade da população para conquistar votos. A regra serve para os aliados do governador Eduardo Campos (PSB) e para os do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB), principais postulantes ao Palácio das Princesas.


Eduardo Campos visita famílias que sofreram com a enchente no município de Escada: ainda não se sabe que impacto as chuvas terão na eleição Foto: Aluisio Moreira / SEI
De acordo com Romano, os grupos rivais podem se juntar à sociedade para encontrar formas de ajudar os desabrigados e desalojados, que chegam a 82 mil pessoas no estado. Mas nenhum deles tem o direito deacusar o outro. Ele acredita que, se houve falhas nas defesa civil dos municípios, a responsabilidade é da oposição e dos governistas.

"É antiético utilizar qualquer recurso eleitoreiro com populações fragilizadas. Em qualquer coletividade, se você utiliza a fraqueza alheia para obter lucros políticos, religiosos ou econômicos está quebrando uma regra básica da vida coletiva, que é o respeito mútuo", declarou, sugerindo que a população fique de olho nos maus políticos. Para ele, o tema é delicado e permite o surgimento de falsos herois.

Dilema - "Campanha X chuvas" virou um tema tão delicado que a própria oposição estadual ainda está de molho. O único oposicionista que rotulou a tragédia como fruto do "desgoverno" foi o candidato a senador do PPS, Raul Jungmann, na última quarta-feira. Mas já na sexta-feira ele moderou o discurso. Disse que esteve em Palmares e que iria propor o remanejamento de emendas da oposição para as cidades em situação mais grave, mas evitou bater de frente com o governado Eduardo Campos.

Ainda não se sabe qual o impacto das chuvas na campanha eleitoral, como a população está vendo as ações do governo para reconstruir as cidades destruídas. Eduardo, como governador, tem a oportunidade de visitar os municípios, de apresentar propostas e se solidarizar com as famílias sem parecer que está tentando tirar proveito eleitoral. Mas tanto ele quanto Jarbas voltarão às regiões da cheia como candidatos. A forma como irão dialogar com a população fará toda diferença. "Tudo isso que aconteceu foi uma imensa falta de responsabilidade dos três poderes", observou o professor Roberto Romano.