São Paulo, sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros JOSÉ SARNEY Netas de Tiradentes Fiquei com pena de Tiradentes. De repente está passando à história como sugador da nação. Tinha tantos privilégios que até hoje transmite a quatro trinetos pensões de dois salários mínimos. Não temos realmente o gosto de fazer justiça. O maior de todos os heróis brasileiros não pode ser alvo de notícias que podem levar a conclusões erradas. Um menino francês, numa enquete sobre a identidade nacional, disse que ser francês era cantar a Marselhesa, belicosa, a convidar os cidadãos às armas. Aqui, tenho medo de perguntar a um estudante quem é Tiradentes e ele me responder que é aquele que tem quatro trinetos recebendo pensão do governo. O Brasil, formado, ao contrário dos países da América espanhola, num processo de construção civil, tem relativamente poucos heróis nacionais na verdadeira acepção do termo. Sem dúvida, o maior, pelo martírio e pela dedicação à causa da Independência brasileira, é o alferes Joaquim José da Silva Xavier. O governo português o condenou à morte na forca, ordenando que, "depois de morto, seja-lhe cortada a cabeça e levada a Vila Rica, onde no lugar mais público dela, será pregada em um poste alto, até que o tempo a consuma, e o seu corpo será dividido em quatro quartos, pregados em postes, pelo caminho de Minas, no sítio da Varginha e das Cebolas, onde o réu teve as suas infames práticas, e os mais nos sítios das maiores povoações, até que o tempo também os consuma, declaram o réu infame, e seus filhos e netos tendo-os, [à] e a casa em que vivia em Vila Rica será arrasada e salgada". Nos autos da devassa, registra-se que prepararam uma cilada para que ficasse provado que Tiradentes conspirava contra o rei. Um espião lhe diz: "Eu aqui estou para trabalhar para ti". Tiradentes responde: "E eu, a trabalhar para todos". Nossa dívida com Tiradentes deve continuar para sempre. Na Câmara dos Deputados, o projeto 7.377/ 2010, encaminhado pelo ex-presidente Lula, apoia os jogadores das seleções campeãs do mundo de 1958, 1962 e 1970. O projeto assegura aos jogadores e seus sucessores um prêmio de R$ 100 mil e uma pensão de cerca de R$ 3.500. Alguns vivem em estado de penúria. Sou a favor deles. É justo que assim procedam com os que deram nome e glória ao país e ao nosso povo.Espero que o país cultive seus heróis, os que lhe deram glória e os que honraram a pátria. Nossos heróis devem ser lembrados. Seus descendentes devem ser ajudados pela nação. É nossa obrigação com o passado. Quem trabalhou por todos merece o reconhecimento de sua pátria. JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna. jose-sarney@uol.com.br |