sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Paulo Araújo

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Prioridade normal Dimidium facti qui coepit habet: sapere aude, incipe! (Horácio)

De:
Paulo Eduardo Martins Araújo


O doutor em economia pela UNICAMP, Ministro Aloizio Mercadante, e a presidente Dilma Rousseff decidiram que em 2011 o Ministério da Ciência e Tecnologia vai perder R$ 610 milhões para investimentos e R$ 353,6 milhões para custeio. Somados aos R$ 713 milhões em emendas parlamentares, a perda chega a R$ 1,7 bilhões. Com o corte previsto, o orçamento deste ano cai para R$ 6,4 bilhões. Em 2010 o orçamento foi R$ 7,8 bilhões.

Sapere aude! Tem coragem para fazer uso da tua própria razão! — esse é o lema do Iluminismo”. (Kant)

DNA de negros e pardos do Brasil é muito europeu


Estudo diz que cerca de 70% da herança genética nacional vem da Europa

Variação de região para região do país é baixa; cor da pele tem elo com poucos genes e, por isso, é parâmetro enganoso


No Brasil, faz cada vez menos sentido considerar que brancos têm origem europeia e negros são "africanos". Segundo um novo estudo, mesmo quem se diz "preto" ou "pardo" nos censos nacionais traz forte contribuição da Europa em seu DNA.

O trabalho, coordenado por Sérgio Danilo Pena, da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), indica ainda que, apesar das diferenças regionais, a ancestralidade dos brasileiros acaba sendo relativamente uniforme.

"A grande mensagem do trabalho é que [geneticamente] o Brasil é bem mais homogêneo do que se esperava", disse Pena afolha.

De Belém (PA) a Porto Alegre, a ascendência europeia nunca é inferior, em média, a 60%, nem ultrapassa os 80%. Há doses mais ou menos generosas de sangue africano, enquanto a menor contribuição é a indígena, só ultrapassando os 10% na região Norte do Brasil.

QUASE MIL

Além de moradores das capitais paraense e gaúcha, foram estudadas também populações de Ilhéus (BA) e Fortaleza (compondo a amostra nordestina), Rio de Janeiro (correspondendo ao Sudeste) e Joinville (segunda amostra da região Sul).

Ao todo, foram 934 pessoas. A comparação completa entre brancos, pardos e pretos (categorias de autoidentificação consagradas nos censos do IBGE) só não foi possível no Ceará, onde não havia pretos na amostra, e em Santa

Catarina, onde só havia pretos, frequentadores de um centro comunitário ligado ao movimento negro.

Para analisar o genoma, os geneticistas se valeram de um conjunto de 40 variantes de DNA, os chamados indels (sigla de "inserção e deleção"). São exatamente o que o nome sugere: pequenos trechos de "letras" químicas do genoma que às vezes sobram ou faltam no DNA.

Cada região do planeta tem seu próprio conjunto de indels na população -alguns são típicos da África, outros da Europa. Dependendo da combinação deles no genoma de um indivíduo, é possível estimar a proporção de seus ancestrais que vieram de cada continente.

Do ponto de vista histórico, o trabalho deixa claro que a chamada política do branqueamento -defendida por estadistas e intelectuais nos séculos 19 e 20, com forte conteúdo racista- acabou dando certo, diz Pena.

Segundo os pesquisadores, a combinação entre imigração europeia desde o século 16 e casamento de homens brancos com mulheres índias e negras gerou uma população na qual a aparência física tem pouco a ver com os ancestrais da pessoa.

Isso porque os genes da cor da pele e dos cabelos, por exemplo, são muito poucos, parte desprezível da herança genética, embora seu efeito seja muito visível. O trabalho está na revista "PLoS One". (Reinaldo José Lopes. FSP, 18/02/20110)


Danilo Pena e Telma Birchal escreveram artigo para a Revista da USP:

A inexistência biológica versus a existência social de raças humanas: pode a ciência instruir o etos social?

http://www.usp.br/revistausp/68/02-sergio-telma.pdf

A passagem de apresentação do artigo:

Neste artigo abordaremos aspectos do conflito entre as visões biológica e social de “raça”, inicialmente mostrando as evidências científicas que suportam a tese de que, do ponto de vista biológico, raças humanas não existem (AAA, 1998). Em seguida, examinaremos a situação peculiar dos brasileiros, nos quais a ampla mistura de genes entre três diferentes grupos continentais fundadores – ameríndios, europeus e africanos – produziu uma fraca correlação de cor (um correlato de “raça”) com ancestralidade. Conseqüentemente, no Brasil, a cor, socialmente percebida, tem pouca ou nenhuma relevância biológica. Passaremos, a seguir, à discussão do relacionamento entre ciência e ética e à defesa da seguinte tese: embora a ciência não seja o campo de origem dos mandamentos morais, ela tem um papel importante na instrução da esfera social, pois, ao mostrar “o que não é”, ela liberta, ou seja, tem o poder de afastar erros e preconceitos. A seguir, pensaremos o problema da incorporação, pelo etos da sociedade, dos ensinamentos da genética. Sobre esse ponto, argumentaremos a favor da idéia de que o fato científico da inexistência das “raças” deve ser absorvido pela sociedade e incorporado a suas convicções e atitudes morais, no sentido de reforçar a oposição às afirmações de diferentes formas de hierarquia entre povos ou grupos humanos. Terminamos sugerindo que uma postura coerente e desejável seria a valorização da singularidade de cada indivíduo em substituição à sua identificação como membro de grupos “raciais” ou “de cor”.