VISITAS DE “CHÊ” AO
BRASIL
J. R. Guedes de Oliveira
Para lembrar o revolucionário Ernesto “Chê” Guevara, de
sua estada no Brasil, situo-o em três tempos: 1952, 1961 e 1966. Na falta de
maiores informações, que caberia melhor
pesquisa, deixo de fazê-la o ano de 1951. Como se tem notícia, Chê esteve então
trabalhando em leprosário da Amazônia, na sua famosa viagem por toda América
Latina. Este tempo, entretanto, é obscuro e fica a dúvida da veracidade,
cabendo uma melhor e mais larga pesquisa.
Seja como for, as passagens de Ernesto
“Chê” Guevara sempre foram de totais desencontros, de mistérios tais, de
sombrios momentos e de interessantes perguntas e reflexões. O argentino trazia
sempre em seu bolso as anotações de tudo o que realizava. Contudo, nem sempre
estas anotações, de cunho pessoal, ou melhor, de segredo de Estado ou de
pessoas, ficaram expostas ou colocadas à posteridade.
Então, aqui apresento o que sei e o
que ainda é objeto de pesquisa para revelar a total verdade. Mas passado tanto
tempo, será que isto virá à tona?
1952 – “O Rapaz Argentino” – O
jovem Guevara, de 24 anos, pela primeira
vez chegava ao Brasil. Em pequeno depoimento do consagrado jornalista Sebastião
Nery, com o título de “O Rapaz”, reproduzo esta sua passagem e os desígnios que
lhe sucederiam, como combatente:
“Gaia Gomes era diretor artístico da
Rádio América de São Paulo. David How trabalhava com ele. Uma tarde, entrou lá
um rapaz de cabelos negros, olhos grandes, esbugalhados, bigode ralo e barbicha
fina.
Argentino, trazia para Gaia uma carta
de apresentação de Alberto Castillo, médico e cantor de tango em Buenos Aires.
Não queria emprego. Também era médico, estava precisando de uma passagem para a
Guatemala, onde pretendia ajudar o governo revolucionário de Jacobo Arbenz.
Gaia e David fizeram uma “vaquinha”
na rádio e compraram a passagem. Nos dias que passou em São Paulo, o rapaz de
bigode ralo conheceu o deputado Coutinho (creio que Júlio), paulista de Rio
Preto, autor do segundo projeto de reforma agrária apresentado no Congresso (o
primeiro foi o de Nestor Duarte).
Com a passagem e o projeto, o rapaz
de barbicha fina embarcou para a Guatemala. Lá, acabou trabalhando no Instituto Nacional de Reforma Agrária e
aplicando os ideais do deputado Coutinho. Em 1954, um golpe militar, montado
nos Estados Unidos e dirigido pelo coronel Castillo Armas, derrubou o
governo de Arbenz. O rapaz de cabelos
negros fugiu para o México.
Em 1958, ele apareceu em Cuba, na
Sierra Maestra, ao lado de Fidel Castro
e Camillo Cienfuegos. Derrubado o ditador Batista, o rapaz de olhos
grandes, esbugalhados, implantou a reforma agrária em Cuba, baseado no projeto
do deputado Coutinho, paulista de Rio Preto,
O rapaz chamava-se Ernesto “Chê”
Guevara”.
1961
– “A Grã-Cruz de “Chê Guevara” – De volta da Conferência de Punta del Este
(reunião da OEA), no Uruguai, Guevara atendia à gentileza do Presidente Jânio
Quadros, para uma visita de cordialidade. O convite lhe havia sido feito
através do Embaixador Clemente Mariano e Brasília se enfeitava pela
presença do revolucionário de Sierra Maestra.
- “Terei muita satisfação em rever
o meu amigo Jânio Quadros”- havia dito, antes de partir para o Brasil.
A notícia logo se espalhou e havia
uma certa dúvida do Presidente da República recebê-lo no aeroporto, já que
seria quebra de protocolo. Guevara não era chefe de Estado. Entretanto,
autoridades do país o recepcionaram com honras militares, à vista de inúmeros
populares e admiradores do legendário revolucionário.
Trajando o seu tradicional uniforme
verde-oliva e sua famosa boina basca na
cabeça, Guevara passa a tropa em revista, perfilada no aeroporto. Às primeiras horas do dia subsequente, sobe a
rampa do Palácio do Planalto em volta de
uma dezena de autoridades, ao lado do Ministro Macedo Soares, do corpo diplomático
brasileiro.
Jânio Quadros o recebe
condignamente, expressando a sua simpatia e amabilidade para com o então
titular da Indústria de Cuba. Guevara o agradeceu pela posição assumida pelo
Brasil em favor da autodeterminação de Cuba. É no momento preciso que o
herói de Santa Clara recebe a mais alta
honraria brasileira: a Grã-Cruz da Ordem
do Cruzeiro do Sul.
Diz o Presidente da República, ao
colocar-lhe a faixa:
“Vossa Excelência tem manifestado
em várias oportunidades o desejo de
estreitar relações econômicas e culturais com o povo brasileiro. Esse é,
também, o nosso propósito e a nossa deliberação, assumida no contato que tive
com o Governo e o povo cubanos. O Governo e o povo brasileiros manifestam nosso
apreço com essa alta condecoração.”
Visivelmente emocionado, Guevara
responde:
“Como revolucionário, sinto-me
profundamente honrado. Não posso considerar esta honra como pessoal, mas feita
à nossa revolução, ao nosso Governo e ao
nosso povo.
Cumprindo uma agenda apertada, o
líder revolucionário fez breves
declarações aos jornalistas e interessou-se pelas obras de Brasília,
manifestando perplexidade a tão arrojado empreendimento arquitetônico de Lúcio
Costa e Oscar Niemeyer.
Guevara é convidado a almoçar no
Riacho Fundo com o Prefeito do Distrito Federal, Paulo de Tarso. Em seguida
sobrevoou a cidade num helicóptero e embarcou logo depois para Havana. Contudo,
este embarque direto para Cuba, ainda não foi devidamente esclarecido. Há
enormes dúvidas, já que existem estudos e comprovações de que “Che” Guevara
tinha orientação direto de Fidel Castro para pousar no Pará, a fim de atear
fogo num cartório de registro de nascimento, na cidade de Tracuateua.
Eis, aqui, o que o pesquisador
Edilson Silva Oliveira, da Universidade de São Paulo - Campus de São Carlos,
afirma, através de matéria publicada nas páginas de jornais, inclusive do site
do PCdoB:
“A
história do Fidel brasileiro pode ser resumida da seguinte forma: Angel Castro,
pai original de Fidel Castro, chegou de barco a Tracuateua nos anos 20, e
conheceu Delfina, uma elegante jovem por quem se apaixonou. Eles tiveram um
filho, Fidel Castro, que nasceu nas plácidas margens do Rio Quatipuru, em 1926,
onde viveu até quase os 4 anos de idade. Depois disso foi com a família para a
cidade de Iquitos, no Peru, onde seu pai tinha outra mulher.
Fidelito, como era conhecido no Brasil, passou então boa parte da
adolescência em terras peruanas, convivendo com três irmãos e suas mães -
porque o pai fugiu das duas esposas e foi para Cuba. No começo da década de 50,
Fidel foi parar em Cuba, não se sabe por que, e acabou liderando a revolução socialista
de 1959.
O
pesquisador acha difícil a comprovação do fato, pois que Che Guevara (um dos
principais mentores da revolução cubana) e seus companheiros atearam fogo no
cartório da cidade nos anos 60, onde estava a verdadeira certidão de nascimento
de Fidel, para impedir que a verdade viesse à tona e os cubanos descobrissem
que seu maior líder era, na verdade, um tupiniquim.
Edílson Silva
Oliveira conta que ouvia histórias sobre os parentes de Fidelito desde que
tinha 7 anos de idade e resolveu investigar a fundo a informação. A notícia
contagiou de tal forma a cidade que uma banda local chamada Quero Mais criou
uma música que conta a história sobre o Fidel brasileiro e suas andanças por
Tracuateua.
A
teoria de Edílson, no entanto, não bate com os dados históricos colhidos pela
pesquisadora carioca Cláudia Furiati, autora de única biografia autorizada de
Fidel. Em entrevista, ela disse que "a história do Fidel brasileiro parece
bastante interessante e fantasiosa, mas colide com alguns dados
históricos".
Cláudia diz ter encontrado duas certidões de nascimento do líder cubano.
A primeira aponta o nascimento no dia 13 de agosto de 1927 na província de
Cueto, em Cuba. A segunda, com data posterior, teria sido feita sob encomenda
para que Fidel passasse uma séria na frente dos colegas de classe.
Ela não encontrou nenhum indício que desse suporte à teoria de Edílson.
Mas não rejeitou completamente essa hipótese. "Não vi registros de
passagens de Fidel pelo Brasil em sua infância, mas isso pode ter
acontecido."
Com base em depoimentos de
supostos parentes e um par de fotos antigas de Fidel, Edílson enviou um pedido
de exame de DNA à Universidade Federal do Pará (UFP) em março do ano passado.
Ele queria provar sua tese comparando o DNA de um suposto tio do estadista
chamado Dagoberto, que morava em Tracuateua. Mas este morreu pouco tempo depois
que o pedido foi feito, e o exame não pôde ser realizado.
"Ele (Edílson) pediu algo que não tem o menor fundamento
histórico. E quer provar a relação de parentesco de pessoas que não querem, nem
estão interessadas, em comprovar tal parentesco. É apenas uma
esquisitice", diz o professor Sidney Santos, professor de Genética Humana
da UFP, claramente mal-humorado por ter de falar novamente sobre o caso.
Ele
afirma que já cansou de receber telefones de jornalistas que ligam de todo o
Brasil e do exterior para saber da história do Fidelito, e tem uma opinião
muito clara sobre a possibilidade de Fidel ser brasileiro. "Acho que o
nome correto para isso é sandice."
A
possibilidade de o estadista ser brasileiro chegou aos ouvidos da imprensa
internacional, e espanhóis, japoneses entre outros desembarcaram no Pará atrás
de entrevistas com os envolvidos. O periódico catalão La Vanguardia chegou
a publicar uma reportagem sobre o caso, mas o jornalista deixou claro que a
história "do reino encantado da Fidelândia", como chamou em seu
texto, é completamente inverossímil. E diz que Edílson é o principal responsável
por este "delírio tropical".
"Os japoneses vieram de Tóquio e só chegaram depois de quatro dias
de viagem. O problema é que, assim que chegaram, o Dagoberto morreu, e eles não
conseguiram fazer a matéria", conta Edílson.
A
morte de Dagoberto, aos 102 anos, jogou por terra a possibilidade de um exame
de DNA imediato, mas não abalou a fé do pesquisador. Já pensando numa futura
exumação do corpo, ele decidiu enviar um ofício ao Comando Geral da Polícia
Militar do Pará, pedindo que seja providenciada "vigilância permanente no
cemitério" para garantir a segurança dos restos mortais de Dagoberto. E
explica seus motivos:
"(Solicito) pela importante
razão de que os restos poderão sumir e isso modificaria a história da origem
daquele Líder Cubano (Fidel )."
Sobre a infância
de Fidel, Edílson garante que era das mais felizes. "Ele uma criança que
vivia às margens de um rio, era cuidado por uma babá, passeava de canoa e
brincava nos campos. Falava português, mas depois passou para o 'portunhol', já
que foi para o Peru aos 3 anos e 6 meses de vida. Vivia feliz", conta o
paraense.
Ele
diz que a cidade ficou apavorada quando soube, em 1959, que o inocente e feliz
Fidelito havia liderado uma revolução. "De repente mandaram umas cartas para
o Brasil, pouco depois da revolução de 1959, dizendo que o Fidelito era o
máximo líder da revolução cubana. Aí ficaram desesperados aqui na cidade. As
pessoas viam as fotos e gritavam: é o Fidelito, é o Fidelito!"
Edílson candidatou-se a deputado estadual pelo PSB (Partido Socialista
Brasileiro) em 2006, mas não conseguiu se eleger apesar do atraente bordão que
usou para amealhar votos dos eleitores: "De Tracuateua para Nova
Fidel".
"Quero mudar o nome (da cidade) para que Tracuateua fique
conhecida nacionalmente e internacionalmente. Isso provocaria o aumento de
turistas na região, geraria renda e garantiria centenas de empregos à
população", diz o pesquisador, que conta com apoio de políticos locais
para pôr em prática seu projeto.
Em seus planos, uma
estátua gigante do estadista seria erguida, e haveria um caminho turístico que
levaria o visitante até as raízes brasileiras de Fidel - a casa onde morou, a
escola que freqüentou, o rio onde nadava, etc. Com a morte de Dagoberto, sua
missão ficou mais difícil, mas ele garante que não desistirá. Até porque, se
depender de Fidel, o parentesco nunca será reconhecido.
"Fidel nega sua real nacionalidade em função de sua luta pelo povo
cubano. Ele saiu do Brasil, via Peru, para salvar os cubanos da tirania
americana, razão pela qual o povo deu a este herói a cidadania cubana. Por isso
ele jamais poderá dizer que é brasileiro", acredita Edílson.”
Duas
coisas ficam no ar, sem que, até agora, tenhamos uma resposta de Fidel Castro:
1º.
- Nunca ele se propôs ao exame do DNA. Isto, evidentemente, encerraria a
questão. O silêncio e a recusa é uma condenação explícita. E, o que mais nos
surpreende, é que o pesquisador possui uma série de documentos significativos,
sem o que, evidentemente, seria impróprio tal afirmativa.
2º.
- Nunca, desde 1959, quando ele
assumiu o governo em Cuba, fez qualquer malgrado ao Brasil. Todos os governos
que passaram pelo Brasil, desde 1959, com exceção de 1964 a 1985, sempre foram
alvos de especial deferência do governo cubano, particularmente por Fidel
Castro, inclusive com as suas costumeiras vindas ao país. Todo tipo de
cooperação, sem restrições e, no campo das universidades, um estreito
compromisso de leal parceiro, bem como nos investimentos nacionais em Cuba. Sem
contar, ainda, com a vastíssima fila de brasileiros ilustres que fizeram ou
fazem parte de sua acolhida e admiração.
1966 – “A Última Viagem de
“Chê” – Utilizando a ligação ferroviária
entre Campinas e Corumbá, Guevara fez a sua última viagem. Este
episódio, muito bem descrito pelo
emérito jornalista João Batista César, foi estampado no Jornal “Correio
Popular”, num encarte, com o título de “O dia em que Che esteve em Campinas”. Matéria histórica, para a compreensão dos
últimos tempos do herói, valho-me da oportunidade para
reproduzir na íntegra:
“No dia 9 de novembro de 1966, Che
Guevara está circulando pelo hall da
Estação Central de Campinas. Aguarda o trem que o levará a Corumbá. De lá, ele entrará na Bolívia por Santa Cruz de la Sierra e se reunirá com
revolucionários de vários países. Depois de anos de preparativos o foco
guerrilheiro será instalado no altiplano boliviano. O ponto de partida para
a revolução continental.
Apesar da importância do momento,
Che aparenta tranquilidade. Está acostumado a andar disfarçado. Desde o momento
que abandonou o cargo de Ministro da Indústria do governo revolucionário de
Cuba, três anos antes, seu paradeiro é uma incógnita. Em toda parte do mundo o
aparato policial-militar se prepara para rechaçar sua presença. Os
revolucionários de esquerda sonham com sua chegada para deflagrar a luta armada
em seus países. Desde que proclamara sua
intenção de instaurar mil Vietnãs pelo mundo, “Che” tornou-se um mito.
No entanto Che está na velha estação de Campinas. Usa a identidade falsa de
Adolfo Mena Gonzáles, um comerciante uruguaio, a serviço da OEA. Ao lado de Che vêm dois oficiais cubanos: o capitão
Harry Villegas e o tenente Carlos
Coelho, seu ajudante pessoal e guarda-costas desde os tempos da guerrilha de Sierra Maestra.
Mas “Che” prefere conversar com o
arquiteto brasileiro Farid Helou enquanto aguarda a partida da composição. Pede
informações sobre Campinas, um ponto-chave na rota para a Bolívia. Che está
preocupado em estabelecer uma sólida
retaguarda no Brasil.
A ligação ferroviária entre Campinas
e Corumbá vinha sendo usada pelos guerrilheiros desde 1963, quando se
esboçou o primeiro fogo guerrilheiro na Bolívia. Era uma entrada rápida e
segura para os padrões da época. Pelo
trem os revolucionários entravam no
país, se comunicavam com o resto do mundo, e
se abasteciam com suprimentos enviados por malotes diplomáticos.
“Che” Guevara desembarcou em Viracopos no dia 7 de novembro,
às sete horas da noite, com seus dois acompanhantes. Foi recebido por Farid
Helou que os levou a São Paulo num DKW. Lá, ele
tinha importantes contatos a realizar”.
Não se sabe, ainda, o que de fato
ocorreu nas reuniões que “Che” realizou na capital paulista. Sabe-se, contudo,
que foram poucos, mas muito poucos, os que estiveram com ele, em razão do cerco
que então havia sobre o seu paradeiro.
Dias depois desse encontro, “Che”
Guevara chegou à Bolívia ainda portando documentos falsos com o nome de Adolfo
Mena Gonzáles, diplomata. De Havana (Cuba) passara por Moscou (ex-URSS), Praga
(ex-Tchecoslováquia, atual República Tcheca). Viena (Áustria), Frankfurt
(Alemanha), Paris (França), Madri (Espanha), São Paulo (Brasil) e La Paz
(Bolívia).
De La Paz, ele seguiu de avião para
Cochabamba e, depois, de jipe, até as margens do rio Ñancahuazú. Ali tiveram
início os preparativos da guerrilha.
No dia 23 de março de 1967, o
primeiro choque com soldados do Exército, alertado sobre a presença de homens
armados na região. Sete militares foram mortos e 14 capturados. Os militares
passaram então a receber treinamento de oficiais americanos.
Os guerrilheiros foram cercados em La
Higuera. No dia 8 de outubro, “Che” e mais dois de seus homens foram
capturados. No dia seguinte, 9 de outubro de 1967, há 40 anos, o sargento Mário Terán disparou-lhe uma
rajada de metralhadora quando “Che” ainda estava deitado no chão da escola.
Levaram o cadáver para Vallegrande onde foi exposto sobre um tanque da
lavanderia de um hospital. Ali ele teve as mãos amputadas para serem comparadas
com as digitais que estavam na Argentina. Terminava um ciclo de presença viva
do comandante “Che”, com o seu ideário
em longo tempo:: “Hasta la volta!”.
Ainda permanece dúvidas quanto a sua
viagem direto à Corumbá e, depois, para a Bolívia. Segundo alguns estudiosos,
há uma afirmação de que ele passou por Imperatriz, no Maranhão. Historiadores
locais, da cidade do sul do Maranhão, afirmam que ele se hospedou numa pensão
de conhecida senhora, permanecendo por
alguns dias na cidade.
O que há mais de interessante e chama
a atenção, foi a afirmativa de muitos moradores de Imperatriz de que, na
cidade, “Che” Guevara conheceu uma linda jovem e com ela teve um filho.
Estive em Imperatriz, pesquisando
este detalhe, principalmente no conhecido “Beira Rio” (parte antiga da cidade), às margens do
caudaloso e histórico Tocantins. Muitos afirmavam que uma senhora moradora da
região, não escondia de que seu filho era de um relacionamento mantido com um
médico argentino, revolucionário, que se chamava Ernesto Guevara. Se concreto
esta afirmativa, estaria ele, hoje, com 45 anos de idade (5 anos mais novo que
a Aleida Guevara, que tem 50 anos).
À título de curiosidade, o livro “As
Mulheres na Vida de Chê Guevara”, do pesquisador e emérito escritor gaúcho
Roberto Rossi Jung, nos diz da relação dessas que permearam a sua vida. O relato é surpreendente:
“As mulheres que povoaram os caminhos
do Che foram todas de muita fibra e com espírito de decisão. Nenhuma foi mera
aventura amorosa; todas tiveram enorme significação para o heroico guerrilheiro.
Por isso, eis uma lista, conforme registrou o autor do pequeno grande volume de
140 páginas: Celia de la Serna y Llosa (mãe de Che; comunista, rebelde,
obstinada, com certeza a quem o filho saiu; Celia (‘irmã’); Ana María (‘irmã
menor’); Berta Gilda Infante, a Tita (‘companheira de estudos’, com quem
manteve ‘estreita relação de amizade’; ela entrou em profunda depressão
psíquica após a sua morte, deslocando-se para a Bolívia’; suicidou-se); Carmen
Córdoba Iturburu de la Serna, La Negrita (prima, a ‘primeira experiência
amorosa’, quando Ernesto tinha quinze anos), Celia Sanchez (‘companheira de
ações guerrilheiras’); Beatriz (a tia, ‘que o recebia como a um filho’); María
Del Carmen Ferreyra, a Chichina (namorada, em 1950, com quem pretendia
casar-se, mas foi passado para trás); Hilda Gadea (peruana, exilou-se na
Guatemala; primeira esposa, com quem teve a primeira filha, Hilda Beatriz;
divorcia-se de Hilda; a Hilda mãe morre em 1974 e Hilda filha, em 1995); Zoila
Rodriguez García (a guajira campesina, com a qual tem um romance); Aleida March
(‘sua mulher’, a segunda, em 1959; pedagoga e ativista cubana de cujo
matrimônio nasceu a sua filha mais velha, Aleida Guevara March, médica); Haydée
Tâmara Bunke Bider, ou Tânia, a Guerrilheira (que teve alguns amantes, com
indícios de que também o Che; utilizou vários pseudônimos, entre os quais os
nomes supostos de Haydée Bidel, Laura Gutiérrez, Vittoria e Martha Iriarte),
uma argentina de nascimento que vai atuar como intérprete, em Berlim, e lá
conhece o Comandante, em 1960, quando este chefiava uma delegação comercial;
teria ela, no futuro, importante papel na vida do revolucionário; foi depois
parar em Cuba; voltando à América do Sul, assumiu a luta armada, até o trágico
desfecho de todos guerrilheiros na Bolívia; Lilia Rosa López (cubana com quem o
Che teria tido um filho, de nome Omar Khayyan, em 1964)”.
Realmente, como falei anteriormente,
são nebulosas as descrições e relatos, cabendo, portanto, uma mais apurada
pesquisa. O fato é que tanto Fidel
Castro como Ernesto Guevara jamais revelaram a verdadeira trajetória de
suas vidas. O que sabemos, em toda extensão, são biografias dirigidas,
metodicamente selecionadas, ao bom prazer e do “não obsta” dos biografados,
como bem sois representar a da pesquisadora Cláudia Furiati. Sabemos (e muito
bem), que nem sempre a biografia com o crivo do biografado espelha o retrato
fiel de sua pessoa ou de sua personalidade. Mas isto já um outro assunto.
J. R. Guedes de Oliveira, ensaísta,
biógrafo e historiador.
E-mail:
guedes.idt@terra.com.br