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Terça, 14 de janeiro de 2014
Os traços de envelhecimento do PT e sua intolerância para com as manifestações juvenis
"A esquerda, lembremos, sempre se alimentou da ousadia dos
jovens. Se renovou a partir de suas ações". O comentário é do sociólogo Rudá Ricci em comentário publicado no seu blog, 13-01-2014 sobre o fenômeno dos rolezinhos.
Eis o comentário.
Todo dia acordo e me olho no espelho. O que vejo não é o que estava
registrado na minha memória. Ainda me vejo na faixa dos 30 aos 40 anos. O
que vejo é um cabelo que parece neve e sinais de que já passei dos 50.
Todo dia é a mesma coisa.
Acho que é esta a sensação que grande parte dos militantes (principalmente das redes sociais) petistas sentem.
Fico desconcertado com a intolerância para tudo o que os jovens fazem coletivamente e que não segue o script
que se encontra nos manuais de conduta juvenil partidária. As
manifestações de junho foram caracterizadas como provocação, baderna ou
manipulação (existente ou potencial) da direita. Cheguei a interpelar José de Abreu,
blogueiro e ator da Globo, tal o rancor que suas postagens no twitter
revelavam. Pedi que refletisse sobre os ataques que nós,quando jovens,
sofremos por nossas ousadias e comportamentos pouco convencionais. Mas
nada amolece a rocha de certeza de grande parte desses militantes
virtuais, que se sentem mais fortes neste terreno da comunidade das
redes sociais.
Agora, com os rolezinhos, o que se lê nas redes sociais,
partindo de petistas declarados? Que se trata de ações
descompromissadas, provocações ingênuas e que, invariavelmente este é o
argumento final, serão usadas pela direita.
A direita, pelo visto, é uma muleta para esses petistas (não são
todos, evidentemente, mas uma boa parcela dos militantes virtuais).
PT bom parece aquele composto por gente grisalha e
barriguda. Um espaço em que me encaixaria plenamente, diga-se de
passagem. E que me faz lembrar de como os velhos militantes do Partidão
nos abordavam, nós, jovens, que fundávamos o PT ou
pouco antes disto. Com um copo de whisky na mão, o olhar pouco acolhedor
e o ar blasé nos ensinava, do alto de sua poltrona, como não sermos
ingênuos, esquerdistas, impetuosos e provocadores da direita sempre
alerta. Acho que se tivéssemos seguido seus conselhos não teríamos feito
nada do que fizemos e só teríamos a história deles para contar para os
netos, já que a nossa seria de extrema previsibilidade monótona.
Os rolezinhos não passam de atos pré-adolescentes. Correr
num shopping, aos bandos, significa o que, afinal? Brincadeira. Mas os
militantes virtuais e a PM paulista querem alçar esta brincadeira ao
estatuto de ação política. Tanto insistem que acabarão logrando seu
intento.
Será impressionante a aliança dos rolezinhos com os "meninos" de junho.
Tenho para mim que os adultos grisalhos teriam que ter outra postura
em relação aos atos adolescentes de nossos jovens. Ao menos, ouvi-los e,
se possível, dialogar. Enfrenta-los, além de atitude defensiva e
grosseira (lembra a disputa de espaço no mundo selvagem), só reforçará o
espírito de corpo e aumentará a comunidade. Não foi isto, afinal, que
ocorreu em junho do ano passado quando a PM bateu sem dó nos jovens
militantes do MPL?
Para nós, velhos de esquerda, a responsabilidade é ainda maior.
Teríamos que aprender com eles. A esquerda, lembremos, sempre se
alimentou da ousadia dos jovens. Se renovou a partir de suas ações.
Não gostar de tudo o que não é espelho é revelador. Da idade. E da esclerose mental.