terça-feira, 28 de janeiro de 2014

J. R. Guedes de Oliveira.


                      VISITAS DE “CHÊ” AO BRASIL


                                                                                J. R. Guedes de Oliveira





          Para lembrar  o revolucionário Ernesto “Chê” Guevara, de sua estada no Brasil, situo-o em três tempos: 1952, 1961 e 1966. Na falta de maiores informações, que caberia   melhor pesquisa, deixo de fazê-la o ano de 1951. Como se tem notícia, Chê esteve então trabalhando em leprosário da Amazônia, na sua famosa viagem por toda América Latina. Este tempo, entretanto, é obscuro e fica a dúvida da veracidade, cabendo uma melhor e mais larga pesquisa.

         Seja como for, as passagens de Ernesto “Chê” Guevara sempre foram de totais desencontros, de mistérios tais, de sombrios momentos e de interessantes perguntas e reflexões. O argentino trazia sempre em seu bolso as anotações de tudo o que realizava. Contudo, nem sempre estas anotações, de cunho pessoal, ou melhor, de segredo de Estado ou de pessoas, ficaram expostas ou colocadas à posteridade.

         Então, aqui apresento o que sei e o que ainda é objeto de pesquisa para revelar a total verdade. Mas passado tanto tempo, será que isto virá à tona?

         1952 – “O Rapaz Argentino” – O jovem Guevara, de 24 anos, pela  primeira vez chegava ao Brasil. Em pequeno depoimento do consagrado jornalista Sebastião Nery, com o título de “O Rapaz”, reproduzo esta sua passagem e os desígnios que lhe sucederiam, como combatente:

         “Gaia Gomes era diretor artístico da Rádio América de São Paulo. David How trabalhava com ele. Uma tarde, entrou lá um rapaz de cabelos negros, olhos grandes, esbugalhados, bigode ralo e barbicha fina.

         Argentino, trazia para Gaia uma carta de apresentação de Alberto Castillo, médico e cantor de tango em Buenos Aires. Não queria emprego. Também era médico, estava precisando de uma passagem para a Guatemala, onde pretendia ajudar o governo revolucionário de Jacobo Arbenz.

          Gaia e David fizeram uma “vaquinha” na rádio e compraram a passagem. Nos dias que passou em São Paulo, o rapaz de bigode ralo conheceu o deputado Coutinho (creio que Júlio), paulista de Rio Preto, autor do segundo projeto de reforma agrária apresentado no Congresso (o primeiro foi o de Nestor Duarte).

          Com a passagem e o projeto, o rapaz de barbicha fina embarcou para a Guatemala. Lá, acabou trabalhando  no Instituto Nacional de Reforma Agrária e aplicando os ideais do deputado Coutinho. Em 1954, um golpe militar, montado nos Estados Unidos e dirigido pelo coronel Castillo Armas, derrubou o governo     de Arbenz. O rapaz de cabelos negros fugiu para o México.

           Em 1958, ele apareceu em Cuba, na Sierra Maestra, ao lado de Fidel Castro   e Camillo Cienfuegos. Derrubado o ditador Batista, o rapaz de olhos grandes, esbugalhados, implantou a reforma agrária em Cuba, baseado no projeto do deputado Coutinho, paulista de Rio Preto,

           O rapaz chamava-se Ernesto “Chê” Guevara”.

           1961 – “A Grã-Cruz de “Chê Guevara” – De volta da Conferência de Punta del Este (reunião da OEA), no Uruguai, Guevara atendia à gentileza do Presidente Jânio Quadros, para uma visita de cordialidade. O convite lhe havia sido feito através do Embaixador Clemente Mariano e Brasília se enfeitava pela presença   do revolucionário  de Sierra Maestra.

            - “Terei muita satisfação em rever o meu amigo Jânio Quadros”- havia dito, antes de partir para o Brasil.

           A notícia logo se espalhou e havia uma certa dúvida do Presidente da República recebê-lo no aeroporto, já que seria quebra de protocolo. Guevara não era chefe de Estado. Entretanto, autoridades do país o recepcionaram com honras militares, à vista de inúmeros populares e admiradores do legendário revolucionário.

           Trajando o seu tradicional uniforme verde-oliva e sua famosa boina basca  na cabeça, Guevara passa a tropa em revista, perfilada no aeroporto. Às   primeiras horas do dia subsequente, sobe a rampa do Palácio do Planalto em volta de   uma dezena de autoridades, ao lado do Ministro Macedo Soares, do corpo diplomático brasileiro.

            Jânio Quadros o recebe condignamente, expressando a sua simpatia e amabilidade para com o então titular da Indústria de Cuba. Guevara o agradeceu pela posição assumida pelo Brasil em favor da autodeterminação de Cuba. É no momento preciso que o herói  de Santa Clara recebe a mais alta honraria brasileira:  a Grã-Cruz da Ordem do Cruzeiro do Sul.

            Diz o Presidente da República, ao colocar-lhe a faixa:

             “Vossa Excelência tem manifestado em várias oportunidades o desejo     de estreitar relações econômicas e culturais com o povo brasileiro. Esse é, também, o nosso propósito e a nossa deliberação, assumida no contato que tive com o Governo e o povo cubanos. O Governo e o povo brasileiros manifestam nosso apreço com essa alta condecoração.”

            Visivelmente emocionado, Guevara responde:

             “Como revolucionário, sinto-me profundamente honrado. Não posso considerar esta honra como pessoal, mas feita à nossa revolução, ao nosso Governo e  ao nosso povo.                         

            Cumprindo uma agenda apertada, o líder revolucionário fez breves   declarações aos jornalistas e interessou-se pelas obras de Brasília, manifestando perplexidade a tão arrojado empreendimento arquitetônico de Lúcio Costa e     Oscar Niemeyer.

           Guevara é convidado a almoçar no Riacho Fundo com o Prefeito do Distrito Federal, Paulo de Tarso. Em seguida sobrevoou a cidade num helicóptero e embarcou logo depois para Havana. Contudo, este embarque direto para Cuba, ainda não foi devidamente esclarecido. Há enormes dúvidas, já que existem estudos e comprovações de que “Che” Guevara tinha orientação direto de Fidel Castro para pousar no Pará, a fim de atear fogo num cartório de registro de nascimento, na cidade de Tracuateua.

           Eis, aqui, o que o pesquisador Edilson Silva Oliveira, da Universidade de São Paulo - Campus de São Carlos, afirma, através de matéria publicada nas páginas de jornais, inclusive do site do  PCdoB:
           “A história do Fidel brasileiro pode ser resumida da seguinte forma: Angel Castro, pai original de Fidel Castro, chegou de barco a Tracuateua nos anos 20, e conheceu Delfina, uma elegante jovem por quem se apaixonou. Eles tiveram um filho, Fidel Castro, que nasceu nas plácidas margens do Rio Quatipuru, em 1926, onde viveu até quase os 4 anos de idade. Depois disso foi com a família para a cidade de Iquitos, no Peru, onde seu pai tinha outra mulher.
     Fidelito, como era conhecido no Brasil, passou então boa parte da adolescência em terras peruanas, convivendo com três irmãos e suas mães - porque o pai fugiu das duas esposas e foi para Cuba. No começo da década de 50, Fidel foi parar em Cuba, não se sabe por que, e acabou liderando a revolução socialista de 1959.
      O pesquisador acha difícil a comprovação do fato, pois que Che Guevara (um dos principais mentores da revolução cubana) e seus companheiros atearam fogo no cartório da cidade nos anos 60, onde estava a verdadeira certidão de nascimento de Fidel, para impedir que a verdade viesse à tona e os cubanos descobrissem que seu maior líder era, na verdade, um tupiniquim.
       Edílson Silva Oliveira conta que ouvia histórias sobre os parentes de Fidelito desde que tinha 7 anos de idade e resolveu investigar a fundo a informação. A notícia contagiou de tal forma a cidade que uma banda local chamada Quero Mais criou uma música que conta a história sobre o Fidel brasileiro e suas andanças por Tracuateua.
        A teoria de Edílson, no entanto, não bate com os dados históricos colhidos pela pesquisadora carioca Cláudia Furiati, autora de única biografia autorizada de Fidel. Em entrevista, ela disse que "a história do Fidel brasileiro parece bastante interessante e fantasiosa, mas colide com alguns dados históricos".
         Cláudia diz ter encontrado duas certidões de nascimento do líder cubano. A primeira aponta o nascimento no dia 13 de agosto de 1927 na província de Cueto, em Cuba. A segunda, com data posterior, teria sido feita sob encomenda para que Fidel passasse uma séria na frente dos colegas de classe.
        Ela não encontrou nenhum indício que desse suporte à teoria de Edílson. Mas não rejeitou completamente essa hipótese. "Não vi registros de passagens de Fidel pelo Brasil em sua infância, mas isso pode ter acontecido."

          
Com base em depoimentos de supostos parentes e um par de fotos antigas de Fidel, Edílson enviou um pedido de exame de DNA à Universidade Federal do Pará (UFP) em março do ano passado. Ele queria provar sua tese comparando o DNA de um suposto tio do estadista chamado Dagoberto, que morava em Tracuateua. Mas este morreu pouco tempo depois que o pedido foi feito, e o exame não pôde ser realizado.
          "Ele (Edílson) pediu algo que não tem o menor fundamento histórico. E quer provar a relação de parentesco de pessoas que não querem, nem estão interessadas, em comprovar tal parentesco. É apenas uma esquisitice", diz o professor Sidney Santos, professor de Genética Humana da UFP, claramente mal-humorado por ter de falar novamente sobre o caso.
          Ele afirma que já cansou de receber telefones de jornalistas que ligam de todo o Brasil e do exterior para saber da história do Fidelito, e tem uma opinião muito clara sobre a possibilidade de Fidel ser brasileiro. "Acho que o nome correto para isso é sandice."
         A possibilidade de o estadista ser brasileiro chegou aos ouvidos da imprensa internacional, e espanhóis, japoneses entre outros desembarcaram no Pará atrás de entrevistas com os envolvidos. O periódico catalão La Vanguardia chegou a publicar uma reportagem sobre o caso, mas o jornalista deixou claro que a história "do reino encantado da Fidelândia", como chamou em seu texto, é completamente inverossímil. E diz que Edílson é o principal responsável por este "delírio tropical".  
        "Os japoneses vieram de Tóquio e só chegaram depois de quatro dias de viagem. O problema é que, assim que chegaram, o Dagoberto morreu, e eles não conseguiram fazer a matéria", conta Edílson.
        A morte de Dagoberto, aos 102 anos, jogou por terra a possibilidade de um exame de DNA imediato, mas não abalou a fé do pesquisador. Já pensando numa futura exumação do corpo, ele decidiu enviar um ofício ao Comando Geral da Polícia Militar do Pará, pedindo que seja providenciada "vigilância permanente no cemitério" para garantir a segurança dos restos mortais de Dagoberto. E explica seus motivos:
 "(Solicito) pela importante razão de que os restos poderão sumir e isso modificaria a história da origem daquele Líder Cubano (Fidel )."
        Sobre a infância de Fidel, Edílson garante que era das mais felizes. "Ele uma criança que vivia às margens de um rio, era cuidado por uma babá, passeava de canoa e brincava nos campos. Falava português, mas depois passou para o 'portunhol', já que foi para o Peru aos 3 anos e 6 meses de vida. Vivia feliz", conta o paraense.
        Ele diz que a cidade ficou apavorada quando soube, em 1959, que o inocente e feliz Fidelito havia liderado uma revolução. "De repente mandaram umas cartas para o Brasil, pouco depois da revolução de 1959, dizendo que o Fidelito era o máximo líder da revolução cubana. Aí ficaram desesperados aqui na cidade. As pessoas viam as fotos e gritavam: é o Fidelito, é o Fidelito!"
        Edílson candidatou-se a deputado estadual pelo PSB (Partido Socialista Brasileiro) em 2006, mas não conseguiu se eleger apesar do atraente bordão que usou para amealhar votos dos eleitores: "De Tracuateua para Nova Fidel".  
       "Quero mudar o nome (da cidade) para que Tracuateua fique conhecida nacionalmente e internacionalmente. Isso provocaria o aumento de turistas na região, geraria renda e garantiria centenas de empregos à população", diz o pesquisador, que conta com apoio de políticos locais para pôr em prática seu projeto.

       
Em seus planos, uma estátua gigante do estadista seria erguida, e haveria um caminho turístico que levaria o visitante até as raízes brasileiras de Fidel - a casa onde morou, a escola que freqüentou, o rio onde nadava, etc. Com a morte de Dagoberto, sua missão ficou mais difícil, mas ele garante que não desistirá. Até porque, se depender de Fidel, o parentesco nunca será reconhecido.
        "Fidel nega sua real nacionalidade em função de sua luta pelo povo cubano. Ele saiu do Brasil, via Peru, para salvar os cubanos da tirania americana, razão pela qual o povo deu a este herói a cidadania cubana. Por isso ele jamais poderá dizer que é brasileiro", acredita Edílson.”
         Duas coisas ficam no ar, sem que, até agora, tenhamos uma resposta de Fidel Castro:
          1º. - Nunca ele se propôs ao exame do DNA. Isto, evidentemente, encerraria a questão. O silêncio e a recusa é uma condenação explícita. E, o que mais nos surpreende, é que o pesquisador possui uma série de documentos significativos, sem o que, evidentemente, seria impróprio tal afirmativa.
          2º. -    Nunca, desde 1959, quando ele assumiu o governo em Cuba, fez qualquer malgrado ao Brasil. Todos os governos que passaram pelo Brasil, desde 1959, com exceção de 1964 a 1985, sempre foram alvos de especial deferência do governo cubano, particularmente por Fidel Castro, inclusive com as suas costumeiras vindas ao país. Todo tipo de cooperação, sem restrições e, no campo das universidades, um estreito compromisso de leal parceiro, bem como nos investimentos nacionais em Cuba. Sem contar, ainda, com a vastíssima fila de brasileiros ilustres que fizeram ou fazem parte de sua acolhida e admiração.

           1966 – “A Última Viagem de “Chê” – Utilizando a ligação ferroviária   entre Campinas e Corumbá, Guevara fez a sua última viagem. Este episódio,    muito bem descrito pelo emérito jornalista João Batista César, foi estampado no Jornal “Correio Popular”, num encarte, com o título de “O dia em que Che  esteve em Campinas”.  Matéria histórica, para a compreensão dos últimos tempos  do  herói, valho-me da oportunidade para reproduzir  na íntegra:

           “No dia 9 de novembro de 1966, Che Guevara está circulando pelo hall     da Estação Central de Campinas. Aguarda o trem que o levará a Corumbá. De  lá, ele entrará na Bolívia  por Santa Cruz de la Sierra e se reunirá com revolucionários de vários países. Depois de anos de preparativos o foco guerrilheiro será instalado no altiplano boliviano. O ponto de partida para a  revolução continental.

           Apesar da importância do momento, Che aparenta tranquilidade. Está acostumado a andar disfarçado. Desde o momento que abandonou o cargo de Ministro da Indústria do governo revolucionário de Cuba, três anos antes, seu paradeiro é uma incógnita. Em toda parte do mundo o aparato policial-militar se prepara para rechaçar sua presença. Os revolucionários de esquerda sonham com sua chegada para deflagrar a luta armada em seus países. Desde que proclamara sua   intenção de instaurar mil Vietnãs pelo mundo, “Che” tornou-se um mito. No entanto Che está na velha estação de Campinas. Usa a identidade falsa de Adolfo Mena Gonzáles, um comerciante uruguaio, a serviço da OEA. Ao lado  de Che vêm dois oficiais cubanos: o capitão Harry Villegas e o tenente     Carlos Coelho, seu ajudante pessoal e guarda-costas desde os tempos da guerrilha  de Sierra Maestra.

          Mas “Che” prefere conversar com o arquiteto brasileiro Farid Helou enquanto aguarda a partida da composição. Pede informações sobre Campinas, um ponto-chave na rota para a Bolívia. Che está preocupado em estabelecer uma  sólida retaguarda no Brasil.

          A ligação ferroviária entre Campinas e Corumbá vinha sendo  usada   pelos guerrilheiros desde 1963, quando se esboçou o primeiro fogo guerrilheiro na Bolívia. Era uma entrada rápida e segura para os padrões da época.  Pelo trem os revolucionários entravam  no país, se comunicavam com o resto do mundo, e   se abasteciam com suprimentos enviados por malotes diplomáticos.

          “Che” Guevara  desembarcou em Viracopos no dia 7 de novembro, às sete horas da noite, com seus dois acompanhantes. Foi recebido por Farid Helou que os levou a São Paulo num DKW. Lá, ele  tinha importantes contatos a realizar”.

          Não se sabe, ainda, o que de fato ocorreu nas reuniões que “Che” realizou na capital paulista. Sabe-se, contudo, que foram poucos, mas muito poucos, os que estiveram com ele, em razão do cerco que então havia sobre o seu paradeiro.

          Dias depois desse encontro, “Che” Guevara chegou à Bolívia ainda portando documentos falsos com o nome de Adolfo Mena Gonzáles, diplomata. De Havana (Cuba) passara por Moscou (ex-URSS), Praga (ex-Tchecoslováquia, atual República Tcheca). Viena (Áustria), Frankfurt (Alemanha), Paris (França), Madri (Espanha), São Paulo (Brasil) e La Paz (Bolívia). 

          De La Paz, ele seguiu de avião para Cochabamba e, depois, de jipe, até as margens do rio Ñancahuazú. Ali tiveram início os preparativos da guerrilha.

          No dia 23 de março de 1967, o primeiro choque com soldados do Exército, alertado sobre a presença de homens armados na região. Sete militares foram mortos e 14 capturados. Os militares passaram então a receber treinamento de oficiais americanos.

          Os guerrilheiros foram cercados em La Higuera. No dia 8 de outubro, “Che” e mais dois de seus homens foram capturados. No dia seguinte, 9 de outubro de 1967, há 40 anos,  o sargento Mário Terán disparou-lhe uma rajada de metralhadora quando “Che” ainda estava deitado no chão da escola. Levaram o cadáver para Vallegrande onde foi exposto sobre um tanque da lavanderia de um hospital. Ali ele teve as mãos amputadas para serem comparadas com as digitais que estavam na Argentina. Terminava um ciclo de presença viva do comandante “Che”, com  o seu ideário em longo tempo:: “Hasta la volta!”.

         Ainda permanece dúvidas quanto a sua viagem direto à Corumbá e, depois, para a Bolívia. Segundo alguns estudiosos, há uma afirmação de que ele passou por Imperatriz, no Maranhão. Historiadores locais, da cidade do sul do Maranhão, afirmam que ele se hospedou numa pensão de conhecida senhora,  permanecendo por alguns dias na cidade.

          O que há mais de interessante e chama a atenção, foi a afirmativa de muitos moradores de Imperatriz de que, na cidade, “Che” Guevara conheceu uma linda jovem e com ela teve um filho.

           Estive em Imperatriz, pesquisando este detalhe, principalmente no conhecido “Beira  Rio” (parte antiga da cidade), às margens do caudaloso e histórico Tocantins. Muitos afirmavam que uma senhora moradora da região, não escondia de que seu filho era de um relacionamento mantido com um médico argentino, revolucionário, que se chamava Ernesto Guevara. Se concreto esta afirmativa, estaria ele, hoje, com 45 anos de idade (5 anos mais novo que a Aleida Guevara, que tem 50 anos).

         À título de curiosidade, o livro “As Mulheres na Vida de Chê Guevara”, do pesquisador e emérito escritor gaúcho Roberto Rossi Jung, nos diz da relação dessas que permearam a sua vida.  O relato é surpreendente:

       “As mulheres que povoaram os caminhos do Che foram todas de muita fibra e com espírito de decisão. Nenhuma foi mera aventura amorosa; todas tiveram enorme significação para o heroico guerrilheiro. Por isso, eis uma lista, conforme registrou o autor do pequeno grande volume de 140 páginas: Celia de la Serna y Llosa (mãe de Che; comunista, rebelde, obstinada, com certeza a quem o filho saiu; Celia (‘irmã’); Ana María (‘irmã menor’); Berta Gilda Infante, a Tita (‘companheira de estudos’, com quem manteve ‘estreita relação de amizade’; ela entrou em profunda depressão psíquica após a sua morte, deslocando-se para a Bolívia’; suicidou-se); Carmen Córdoba Iturburu de la Serna, La Negrita (prima, a ‘primeira experiência amorosa’, quando Ernesto tinha quinze anos), Celia Sanchez (‘companheira de ações guerrilheiras’); Beatriz (a tia, ‘que o recebia como a um filho’); María Del Carmen Ferreyra, a Chichina (namorada, em 1950, com quem pretendia casar-se, mas foi passado para trás); Hilda Gadea (peruana, exilou-se na Guatemala; primeira esposa, com quem teve a primeira filha, Hilda Beatriz; divorcia-se de Hilda; a Hilda mãe morre em 1974 e Hilda filha, em 1995); Zoila Rodriguez García (a guajira campesina, com a qual tem um romance); Aleida March (‘sua mulher’, a segunda, em 1959; pedagoga e ativista cubana de cujo matrimônio nasceu a sua filha mais velha, Aleida Guevara March, médica); Haydée Tâmara Bunke Bider, ou Tânia, a Guerrilheira (que teve alguns amantes, com indícios de que também o Che; utilizou vários pseudônimos, entre os quais os nomes supostos de Haydée Bidel, Laura Gutiérrez, Vittoria e Martha Iriarte), uma argentina de nascimento que vai atuar como intérprete, em Berlim, e lá conhece o Comandante, em 1960, quando este chefiava uma delegação comercial; teria ela, no futuro, importante papel na vida do revolucionário; foi depois parar em Cuba; voltando à América do Sul, assumiu a luta armada, até o trágico desfecho de todos guerrilheiros na Bolívia; Lilia Rosa López (cubana com quem o Che teria tido um filho, de nome Omar Khayyan, em 1964)”.

          Realmente, como falei anteriormente, são nebulosas as descrições e relatos, cabendo, portanto, uma mais apurada pesquisa. O fato é que tanto Fidel  Castro como Ernesto Guevara jamais revelaram a verdadeira trajetória de suas vidas. O que sabemos, em toda extensão, são biografias dirigidas, metodicamente selecionadas, ao bom prazer e do “não obsta” dos biografados, como bem sois representar a da pesquisadora Cláudia Furiati. Sabemos (e muito bem), que nem sempre a biografia com o crivo do biografado espelha o retrato fiel de sua pessoa ou de sua personalidade. Mas isto já um outro assunto.


               J. R. Guedes de Oliveira, ensaísta, biógrafo e historiador.
               E-mail: guedes.idt@terra.com.br