domingo, 12 de julho de 2009

Blog do Noblat

Artigos

Enviado por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa -
12.7.2009
| 15h01m

Bibliotecas Presidenciais

A cópia da carta escrita pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e enviada pelo Senador Sarney aos seus colegas de Senado, e que li ontem aqui, é um monumento às várias gradações de um atributo que se torna, a cada dia que passa, um dos traços mais característicos do político brasileiro: a esperteza.

Quero ressaltar que me refiro, neste caso, à esperteza de ambos. Um estava querendo um bem tombado, que pertencia ao Estado do Maranhão, para instalar sua Fundação, onde guardaria, ou deveria guardar, material que preserva a memória de seu governo. O outro estava querendo demonstrar que uma Biblioteca Presidencial é importantíssima e que o Estado deve sim colaborar porque, desculpe, Presidente FHC, a rudeza de meu pensamento, porque lhe interessava que na sua vez o Estado colaborasse.

Não vejo outro motivo para que o Presidente Fernando Henrique Cardoso assinasse tal carta a não ser esse. Também é bom lembrar que a carta foi escrita há quatro anos, o que nos leva à terceira traulitada da esperteza nacional: a tentativa de fazer crer que a carta é de anteontem...

Mas vamos ao que mais interessa: não há a menor dúvida que uma Biblioteca Presidencial é instituição importante para a memória do país. Sendo um organismo caro para ser montado, mantido e alimentado, já se calcula que não há de ser o ex-presidente a arcar com as despesas monumentais. É de todo imprescindível que receba subvenção governamental. Mas há que ter uma contrapartida...

Os EUA são o país onde se deve ir buscar como fazer para o bom funcionamento desse tipo de biblioteca. Foi o que fui fazer.

A inveja começa no site onde se pode pesquisar sobre o assunto:
www.archives.gov/presidential-libraries/

Mal entramos e podemos perceber os séculos que nos separam... Começa por uma informação importantíssima: “as Bibliotecas Presidenciais americanas são supervisionadas pelo Arquivo Nacional (The National Archives). Formam um corpo de onze Bibliotecas Presidenciais, mais o Arquivo Presidencial do Governo Nixon.

As Bibliotecas Presidenciais não são bibliotecas no sentido comum da palavra. São arquivos e museus que reúnem, em um mesmo local, documentos e objetos de um Presidente e seu governo, apresentados ao público para estudo e discussão independente de considerações ou filiações políticas e/ou partidárias. As Bibliotecas Presidenciais e os Museus, assim como seu acervo, pertencem ao povo americano”.

Aí é que está o segredo do sucesso: as Bibliotecas Presidenciais americanas pertencem ao povo americano. Do momento em que passam a ser organizadas e supervisionadas pelo Arquivo Nacional, não é o “seu’ fulano que nomeia o “seu” sicrano, nem é ele que vai pedir doações e resolver onde vai empregar o dinheiro. O Estado, ou seja, a instituição encarregada de manter a memória nacional é que vai cuidar de tudo.

O ex-presidente e titular da biblioteca, se estiver vivo, e se quiser, não perde o contacto com sua biblioteca. Em primeiro lugar, elas são erguidas em seu estado, de acordo com ele, e são independentes uma da outra. Em segundo lugar, há um Conselho Consultivo formado por 12 membros, cada um representando uma das instituições. O Conselho se reúne duas vezes por ano e faz recomendações ao Arquivo Nacional para analisar e aprimorar os serviços prestados ao público pelas bibliotecas. O site é imenso, são muitos os detalhes. Grande e rico em informações, traz os endereços físicos e os endereços on line das Bibliotecas.

Depois de ler tudo isso, fui aos dois sites, do iFHC (http://www.ifhc.org.br/) e da Fundação José Sarney (www.fundacaojs.org.br/). Se eu pudesse recomendar alguma coisa a alguém, recomendaria que lessem com cuidado os dois sites.

Mas sonhar ainda é possível. Sonho com o dia em que o iFHC seja o embrião de todas as Bibliotecas Presidenciais brasileiras e que todas venham a fazer parte de um Arquivo Nacional digno desse nome.