quarta-feira, 8 de julho de 2009

Curriculum, curricula, folha corrida, capivara....

Há bom tempo que não permito que meus dados de pesquisa, cursos, artigos, livros, palestras, entrevistas, etc. sejam publicados no Lattes. Perdi a confiança no sistema inteiro, como sabem os meus amigos e inimigos. Recomendo, para quem deseja informações sobre a produção acadêmica da Unicamp, o SIPEX, base de dados movida naquela Universidade, para avaliação interna corporis. O endereço é o seguinte:

http://www.unicamp.br/sipex/

O que se passa hoje, nada mais é que do algo que venho indicando há tempos, o que me custou muito caro: a falta de ética dos grupos e indivíduos que se insinuam nos procedimentos universitários. E vai piorar. RR

São Paulo, quarta-feira, 08 de julho de 2009



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Site do CNPq abriga currículos falsos
Banco de dados indica que locutor Galvão Bueno é médico com doutorado em física; controle mais rígido está em debate


Última reunião da comissão que avalia problemas com o sistema analisou dez denúncias, aplicou três expurgos e uma suspensão


HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

LAURA CAPRIGLIONE

DA REPORTAGEM LOCAL

Está no currículo Lattes: Galvão Bueno, o locutor esportivo da Globo, tem graduação em medicina pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), mestrado em engenharia eletrônica pelo MIT (Instituto Tecnológico de Massachusetts) e doutorado em física pelo Caltech (Instituto Tecnológico da Califórnia). Trata-se, evidentemente, de uma falsificação, ao que tudo indica produzida para ilustrar a vulnerabilidade da Plataforma Lattes a fraudes.

A peça fictícia está sendo usada numa polêmica que mobiliza pesquisadores de diversas áreas. No caso, é argumento em favor de controles rígidos sobre a mais importante base de dados a respeito de cientistas e instituições de pesquisa do país, mantida pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). O debate é relevante porque o currículo Lattes é um dos elementos que mais pesa na hora de decidir a destinação de verbas públicas para laboratórios, bolsas, viagens etc.

O currículo falso de Galvão Bueno -que também informa que o apresentador é fluente em croata, chinês e guarani- já foi retirado da base de dados do CNPq, mas ainda pode ser encontrado em imagens "cache" de sites como o Google.

Os defensores de maior rigor na plataforma, entre os quais o físico Paulo Murilo Castro de Oliveira, 60, da Universidade Federal Fluminense (UFF), dizem que o CNPq deveria verificar a fidedignidade das informações postadas. Segundo ele, "são cada vez mais frequentes as notícias sobre fraudes. O fato é que oportunistas existem em todas as áreas, inclusive entre cientistas, naturalmente".

A revista "Piauí" publicou reportagem mostrando que até o currículo Lattes da ministra Dilma Rousseff foi "turbinado" (leia mais na página A8).

Para o pesquisador da UFF, "é preciso fazer algum tipo de verificação. As informações que estão na Plataforma Lattes devem ser checadas pelo CNPq e, se não houver o trabalho que o sujeito diz que publicou, ou o curso que ele diz que fez, o usuário deve ser questionado".

Quando surgiu, há dez anos, a Plataforma Lattes tinha apenas o objetivo de servir como fonte de informação "inter pares". Mais recentemente, contudo, a base cresceu e ganhou novas funções: orientandos se valem da plataforma para selecionar seus orientadores, e vice-versa; alunos usam-na para saber quem é que lhes dará aulas; empresas, para selecionar consultores; jornalistas, para eleger suas fontes. "Até existe um caso de um administrador que usou o Lattes para achar um profissional em São Paulo com a especialização médica que a mulher dele necessitava", disse Geraldo Sorte, coordenador-geral de informática do CNPq.

A ala mais liberal, que inclui pesquisadores como o bioquímico Rogério Meneghini e o físico Ronald Cintra Shellard, admite que a fragilidade da base dá margem a injustiças, mas não acha que seja o caso de criar uma "polícia do Lattes".

O nível de problemas hoje detectado não justificaria o custo de fazê-lo. De resto, como ressalta Meneghini, que se especializou em métodos de avaliação da produção científica, cabe à banca de um concurso conferir a autenticidade dos dados constantes dos currículos apresentados pelos candidatos, não acreditar piamente no que está escrito.


Sem polícia

"Quem tem de coibir eventuais fraudes no Lattes é a instituição envolvida no caso", concorda Shellard. "A chancela de qualidade de um pesquisador vem da instituição a que ele está ou esteve vinculado. Pode até haver quem ache engraçado um currículo falso do Galvão Bueno. Mas, se não houver o aval de uma instituição científica, aquilo não vale nada", diz.

Geraldo Sorte, do CNPq, diz que "existem fraudes em tudo quanto é lugar, mas é uma pena que haja quem queira jogar fora todo esse trabalho porque alguém foi inescrupuloso".

Segundo ele, na última reunião da comissão responsável pela plataforma, em maio, foram avaliadas dez denúncias de fraudes em currículos, que resultaram em três expurgos e uma suspensão. Os demais casos serão apreciados na próxima reunião, que deve ocorrer em agosto. A Plataforma Lattes, com 1,1 milhão de currículos, recebe em média 10.052 atualizações diárias.

"A chancela de qualidade de um pesquisador vem da instituição a que ele está ou esteve vinculado. (...) Se não houver o aval de uma instituição científica, aquilo [currículo no site do CNPq] não vale nada"

GERALDO SORTE
coordenador-geral de informática do CNPq


São Paulo, quarta-feira, 08 de julho de 2009



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Para entidade, melhor controle é "olho vigilante de cientistas"

DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Para o coordenador-geral de informática do CNPq, Geraldo Sorte, a solidez das informações contidas na Plataforma Lattes é perseguida desde o surgimento da base, em 1999. Para isso, várias ferramentas de software foram aprimoradas, como as que se usam em sites de bancos, com o cruzamento de informações de diversas fontes. Mas, para ele, o mais importante ainda é "olho vigilante dos outros cientistas".

"Todo pesquisador tem seu currículo Lattes, base para os pedidos de financiamento de pesquisa. Essas solicitações são avaliadas pelos comitês das agências de fomento, formados por outros cientistas. O resultado é que todo mundo está de olho. Basta alguém perceber alguma informação falsa e fazer a denúncia à Comissão Lattes que se abre um processo", diz.

Segundo Sorte, os procedimentos investigatórios são "muito sérios" e podem acarretar desde um pedido de correção da informação até a retirada do currículo da plataforma.

Às vezes, é só questão de bolar softwares antifraudes. Para o sujeito que "inventa" artigos científicos, o CNPq, na hora do preenchimento do currículo, solicita o DOI (Digital Object Identifier), uma espécie de carteira de identidade digital do artigo. A pessoa informa esse DOI e o currículo automaticamente recupera seus dados. "Nem todos os artigos têm DOI, mas nós começamos a agregar elementos no software que tornam os dados mais confiáveis", diz Sorte.

Há ainda ferramentas de autovalidação. "Se você disser que foi orientado por determinada pessoa, e essa pessoa confirmar, no currículo dela, que o orientou, a plataforma cruza esses dados e verifica se há consistência. Em caso afirmativo, ela gera um selinho de confiança, que é colocado ao lado da linha validada", diz Sorte. (HS e LC)

São Paulo, quarta-feira, 08 de julho de 2009




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ELIO GASPARI

Lula tem razão: não confie nos doutores


Dilma Rousseff teve um momento-Maradona e ajeitou o seu currículo com a "mão de Deus"



LOGO NO GOVERNO de um presidente que chegou ao Planalto sem diploma de curso secundário e gosta de ironizar canudos, descobriu-se que dois de seus ministros ostentaram títulos universitários maquiados. A repórter Malu Gaspar revelou que, ao contrário do que informava o Itamaraty, o chanceler Celso Amorim jamais teve título de doutor em ciências políticas e econômicas pela London School of Economics. Pior: a biografia oficial de Dilma Rousseff, ministra-chefe da Casa Civil, candidata à Presidência da República, informava que ela é "mestre em teoria econômica" e doutoranda em economia monetária e financeira pela Unicamp. A Plataforma Lattes, do CNPq, registrou que ela obteve o mestrado com uma dissertação sobre "Modelo Energético do Rio Grande do Sul". Falso. O repórter Luiz Maklouf Carvalho revelou que, segundo a Unicamp, não há registro de matrícula de Dilma Rousseff no seu curso de mestrado. Só ela tem a senha que permite mexer nos dados da página com seu currículo no Lattes.

Dilma e Amorim não preencheram o requisito essencial para obtenção do título de doutor, que é a apresentação de uma tese. Uma pessoa só é "doutorando" enquanto cursa o programa de doutorado ou enquanto cumpre o prazo de carência para a entrega da tese. Depois disso, volta a ser "uma pessoa qualquer". Há 1,1 milhão de acadêmicos cadastrados no Lattes. Se nesse universo de professores ficam impunes coisas desse tipo, será difícil um mestre condenar aluno que comprou trabalhos na internet.
A ministra Dilma tem uma relação agreste com a realidade. Em março do ano passado ela sustentou que a Casa Civil não organizara um dossiê de despesas pessoais de Fernando Henrique Cardoso na Presidência. Tudo não passava de um "banco de dados". Um mês antes, num jantar com 30 empresários, ela informara que o governo estava colecionando contas incriminatórias do tucanato.

Lidando com um período sofrido de sua juventude, ela disse que, durante a ditadura, "muitas vezes as pessoas eram perseguidas e mortas... e presas por crime de opinião e de organização, não necessariamente por ações armadas. O meu caso não é de ação armada. O meu caso foi de crime de organização e de opinião".

Presos e condenados por crime de opinião foram o historiador Caio Prado Júnior e o deputado Chico Pinto, Dilma Rousseff militou em duas organizações que, programaticamente, defendiam a luta armada para instalar um "Governo Popular Revolucionário" (Colina, abril de 1968) ou um "Governo Revolucionário dos Trabalhadores, expressão da Ditadura do Proletariado" (VAR-Palmares, setembro de 1969). Dilma nega que tenha participado de ações armadas, ou mesmo planejado assaltos. Até hoje não pareceu um mísero fato que a desminta, mas o Colina, que ela ajudou a organizar, matou um major alemão pensando que fosse um oficial boliviano e assaltou pelo menos três bancos. Seria injusto obrigar a ministra a carregar a mochila dos ideais de seus vint'anos. Até porque, no limite, merecem mais respeito os jovens que assumiram riscos e pegaram em armas do que oficiais, agentes do Estado, que torturaram e assassinaram prisioneiros. Ainda assim, é um péssimo prenúncio ver uma ministra-candidata que maquia currículo, bem como o propósito de sua militância. As pessoas preferem acreditar nas outras.

São Paulo, quarta-feira, 08 de julho de 2009




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Dilma admite que currículo acadêmico continha erro

Ministra afirmou não saber quem inseriu informações erradas sobre pós-graduação

Dilma disse que cursou mestrado e doutorado, mas que dissertação e tese não foram finalizadas porque ela estava em cargos públicos


RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO

A ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) reconheceu ontem que havia erros no seu currículo na Plataforma Lattes e em sua biografia na página do ministério. Ela admitiu que não concluiu os cursos de mestrado e doutorado na Unicamp, mas afirmou não saber quem inseriu as informações erradas -apesar de o documento ter certificado digital do autor.

A Plataforma Lattes é uma base de dados acadêmicos, mantida pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).

Dilma disse que cumpriu todos os créditos do mestrado e do doutorado, mas não finalizou a dissertação e a tese porque estava em cargos públicos. A ministra afirmou que o currículo foi preenchido em 2000, quando ainda era doutoranda "e não tinha sido jubilada".

"Lá [no currículo acadêmico] tem um equívoco, sim: a parte relativa ao mestrado está errada. A relativa ao doutorado não estava errada no que se refere a ser doutoranda. Mas está errada no que se refere ao curso que eles me botaram [ciências sociais]. Retificamos as duas coisas. Não sei que vantagem teria de falar que tinha feito ciências sociais e não economia, minha profissão pública. Estou olhando como isso ocorreu."

A revelação de que havia erros no currículo foi feita pela revista "Piauí" deste mês.

A assessoria de imprensa da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) informou que vai checar hoje com a Diretoria Acadêmica se Dilma foi aluna de mestrado da instituição. Em princípio, a assessoria havia afirmado que a ministra não tinha cursado o mestrado.
A Casa Civil enviou à Folha declaração da Unicamp de que ela estava "regularmente matriculada no programa de pós-graduação [nível mestrado] em ciências econômicas", entre março de 1978 e julho de 1983.

"Eu me mudei para lá [Campinas], morei, tenho colegas. Minha filha tinha dois anos, fiz um baita esforço, fiquei lá dois anos e meio", disse a ministra.

Sobre o doutorado, a assessoria da Unicamp disse que Dilma entrou no curso em 1998 e poderia concluí-lo até 2004, mas teve a matrícula cancelada em 2000, por falta de inscrição.

"Por que não concluí a tese [de mestrado]? Pelo mesmo motivo que não concluí o doutorado. Eu fui ser secretária da Fazenda. Não estava gazeteando nada, estava trabalhando." Segundo o próprio site da Casa Civil, porém, ela só veio a ser secretária da Fazenda de Porto Alegre em 86, três anos depois.