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Cesarismo e democracia
Roberto Romano
Pensadores como Condorcet se preocupam com o treino intelectual das massas populares, base da ordem democrática e das eleições que, por sua vez podem deseducar o povo. Escrutínios trazem respostas incertas ou enganosas. Mesmo no Estado democrático “o poder se imiscui na operação eleitoral e a influencia: ele deseja demais uma ‘representação’ favorável. Três “imagens” são misturadas nas eleições: a real, se a palavra tem sentido, a normativa ou potencial, porque se trata se conseguir uma direção no futuro, e a desejada e querida, porque os manipuladores tendem a se prender aos cargos e tentam desregulamentar os indicadores(…) os modos de escrutínio contam mais do que o resultado final, pois ele depende deles”. (Dagognet, F.:
O segredo do voto não resolve a questão. Nas antigas repúblicas virtuosas, diz Rousseau, “cada um tinha vergonha de dar publicamente seu sufrágio a uma opinião injusta ou assunto indigno, mas quando o povo se corrompeu e seu voto foi comprado, foi conveniente que o segredo fosse instituído para conter os compradores pela desconfiança e fornecer aos salafrários o meio de não serem traidores”. (
Multidões não votam segundo o cálculo das probabilidades. Elas acolheram Napoleão. Com ele, sumiram a responsabilidade governamental e a possível destituição do governante. A ditadura plebiscitária destruiu a soberania popular. Às favas os votos... Esta é a narrativa de todas as ditaduras que relacionam indivíduos carismáticos e massas e violam requisitos de poder legítimo, próprios ao Estado democrático de Direito. A história se repete muitas vezes. Na Europa do século dezenove, o cesarismo surgiu como tragédia. Com Hitler e Mussolini, ele se manifesta no Holocausto. Na Venezuela, ele é farsa. No Brasil depois de Vargas, dos militares, de F. Collor, as armadilhas plebiscitárias são uma quase certeza. Votar é bom. Mas é preciso saber como os votos são instituídos e contados. E como eles foram obtidos. As urnas recolhem tudo, dos preconceitos aos recursos financeiros legais ou ilegais, tão “secretos” quanto as consciências dos eleitores.