domingo, 26 de junho de 2011

De Paulo Araujo. Lembro que o texto "Farms here, forest there" foi reproduzido aqui, dias atrás.

Desarrumação lógica


Está consignado o que Alon se propõe defender e atacar no blog: “Uma visão democrática, nacional e de esquerda”. É preciso ler o post tendo em vista quem é o autor da mensagem e a quem ela se destina. E o post não é um ataque à mulher que decidiu abortar ou a um particular defensor de alguma causa emancipatória.

O “arrisco a dizer” do Alon é uma “Anedota Búlgara” com endereço certo: “O PT avalia que há uma chance de a oposição mais perigosa em 2014 surgir de um polo não tucano, mas verde”.
Pode-se concordar ou não com Alon não porque sua visão desta ou qualquer outra questão é absolutamente certa ou absolutamente errada, mas sim porque o blogueiro costuma expressar com clareza as opiniões e as análises que publica.

Em um debate plausível a respeito do Código Florestal não se usará o carimbo do bem contra o mal. Na equação da produtividade agrícola todos os elementos devem ser considerados. Entre os contrários ao código, ganha relevância o etéreo "conceito" de passivo ambiental.

O que o conceito de passivo ambiental quer explicar? Li na imprensa que o IPEA calculou o passivo ambiental em 159,3 milhões de hectares [área a ser reflorestada e equivalente às regiões sul, sudeste e Pernambuco], sendo 29,5 milhões [área maior que o estado do RS] em áreas de até quatro módulos fiscais [pequenas propriedades].
http://www.senado.gov.br/noticias/estudo-alerta-para-perda-de-295-milhoes-de-hectares-em-florestas-com-novo-codigo-florestal.aspx

O estudo do IPEA cita sem especificar a fonte que o Brasil possui 5.181.595 de imóveis rurais que somam uma área total de 571,7 milhões de hectares [67,18% do território nacional]. O link para o estudo do IPEA está na reportagem acima citada.

A que preço o passivo de 159,3 milhões de hectares pode chegar? Quanto custa o reflorestar um hectare? E, principalmente, quem vai pagar o reflorestamento desses 159,3 milhões? Há quem faça essa conta com base em um valor por tonelada de CO2 sequestrado, que, além do financiamento do hectare reflorestado, deveria, em tese, compensar o que perderíamos em produtividade agropecuária. Outros dizem que o custo do passivo deve ser simplesmente debitado aos produtores.

O deputado Aldo foi ridicularizado e acusado de defensor dos ruralistas quando alertou para certos interesses escusos do lobby contrário ao Código. Pois bem, o que é plausível dizer a respeito do documento "Farms Here, Forest There” publicado no site da ONG “Union of Concerned Scientists”?
http://www.ucsusa.org/assets/documents/global_warming/Farms-Here-Forests-There.pdf

O quadro abaixo foi publicado no blog do Reinaldo Azevedo e é visivelmente discrepante [329,9 milhões de hectares ou 38,8% do território nacional] com a área estimada pelo IPEA [571,7 milhões de hectares, ou 67,18% do território nacional, ie., diferença de 241,8 milhões de hectares]. Pelo quadro abaixo, se somarmos as áreas não destinadas à agropecuária temos 520.6 milhões de hectares [60,9% do total do território brasileiro].

E assim as contas não fecham. Logo, a primeira tarefa seria averiguar qual das contas é a correta. Mas isso não é trabalho simples, pois o estudo do IPEA não discrimina nem a distribuição das áreas destinadas à agropecuária e nem a distribuição das áreas não destinadas à agropecuária . No quadro abaixo todas as áreas estão discriminadas.

tabela-de-ocupacao-do-territorio2

Considerando a hipótese do quadro acima ser verdadeiro e aplicando o desconto do passivo apurado pelo IPEA, temos:

Dos 329.941.393 de hectares destinados à agropecuária 98.479.628 são matas e florestas, portanto área preservada. Restam, então,
231.461.765 de hectares para a atividade produtiva [pouco menor que os estados do AM, MG e PR] . Se o passivo ambiental é o que diz o IPEA [159,3 milhões de hectares], a área disponível para a atividade agropecuária ficaria reduzida a 72.261.765 de hectares [pouco menor que os estados de MG e AP, ou 8,48% do território nacional].