terça-feira, 28 de junho de 2011

Do site Abordagem Policial.

Além do machismo covarde e canalha, que une criminosos e autoridades, ocorre a burrice das "otoridades"do escalão baixo. Como lembrava Pedro Aleixo: "o guarda da esquina". Certa feita, 24 horas depois de assaltado em casa, fui de novo assaltado na Avenida Faria Lima. Fui à mesma delegacia em que estivera no dia anterior para registrar o fatídico BO. Ninguém no atendimento e, na fila, eu e um motoboy que tivera seu celular surrupiado pela força. Enquanto esperava, sons de música na sala ao lado, gente entrando e saindo. Depois de 40 minutos, cheguei até a porta de onde brotava alegria. Era a festa de aniversário de alguém. Perguntei a alguém da sala se eu não poderia ser atendido, visto que outras providências deveriam ser tomadas (bloqueio de cartões bancários, etc). Uma pessoa veio em minha direção, com gestos de poucos amigos. Mandou-me seguí-la até uma sala. Com falas bruscas, sentou-se diante do computador (de primeira geração, jurássico como diriam as tietes de Roberto Campos, o Bob Fields) e me pediu a lista dos documentos roubados. "Mas com tantos documentos em seu bolso, você só poderia mesmo ser roubado!". Rezei dez voltas do roseano "Jesus, manso e humilde de coração"e repliquei : "primeiro, peço respeito, como pagador de impostos. Devo ser tratado pelo senhor como senhor. Não temos intimidade alguma que justifique o 'você'utilizado pelo senhor. Segundo, a vítima aqui sou eu. E digo que, nos dois assaltos que sofri, não havia um policial sequer em todo o meu bairro e na Avenida Faria Lima. Talvez todos estivessem comemorando aniversários". A pessoa moderou o péssimo humor e apressou a escrita do BO. E voltou para o convescote em hora de trabalho. Quando saí, o motoboy ainda esperava, agora na companhia de vários outros cidadãos. E a música tocava no prédio. Imaginei o tratamento dado aos que, por timidez ou cabresto, não têm a idéia de interromper festinhas e quejandos nos serviços públicos brasileiros. Outra nota: em qualquer repartição do Brasil, atrás dos balcões, é visível o cartaz infame que ameaça: "destrato a funcionário público, tanto tempo de cadeia". E não existe nenhum com os dizeres : "desrespeito pelo cidadão, tal penalidade". É a terra do abolutismo vagabundo, da corrupção e da violência contra os que são excorchados por impostos e, na exata medida, não têm direitos, tem deveres como dizia o ditador sanguinário chamado Getúlio Vargas. É o "guarda da esquina", que por sua vez, se borra nas calças diante dos "guardas pretorianos", e demais tiranetes que exercem o "pudê". RR


A vítima se tornando criminosa

28jun2011 Em: Reflexão Autor: Danillo Ferreira

Ser assaltado, estuprada, lesionado ou sofrer qualquer tipo de crime gera prejuízos que vão além da simples perda de algum bem material ou mesmo das possíveis feridas físicas. A dimensão psicológica das vítimas sempre é afetada substancialmente, fazendo com que seus hábitos e rotinas sejam alterados pelo trauma sofrido. Daí a necessidade do trabalho de amenização deste momento, seja pelos policiais que atendem a ocorrência nas ruas, seja pelos policiais de investigação, que colherão informações com a vítima.

Um dos discursos que muitas vezes se ouve entre o senso comum é o que acusa a vítima de ser culpada pelo crime. Sim, quem nunca ouviu frases do tipo “se estivesse em casa e se vestisse com uma roupa decente não tinha sido estuprada!”? Ou então “foi roubado porque quis, se não estivesse falando no celular na rua isso não tinha ocorrido!”?

Naturalmente, existem medidas e posturas que podem prevenir a atuação criminosa de pessoas mal intencionadas, porém, é demais tornar a vítima responsável pela ação delitiva da qual só tirou prejuízos: físicos, psicológicos e materiais, principalmente nos momentos imediatamente posteriores ao crime.

Com a atuação repressiva dominando a prática do policiamento no Brasil, via chamado dos cidadãos através das centrais telefônicas, o mínimo que se pode exigir de nossos policiais é a ponderação e excelência no atendimento pós-crime, já que a polícia costuma ser acionada depois do delito já consumado. O primeiro e absurdo passo para estragar este “feijão com arroz” é posicionar a vítima no lugar de culpada. É tudo que o autor do crime quer.