quarta-feira, 29 de junho de 2011

O Globo


Vladimir Palmeira não aceita volta de Delúbio Soares ao PT e deixa o partido

Plantão | Publicada em 28/06/2011 às 19h25m

O Globo (opais@oglobo.com.br)

RIO - Em carta entregue nesta segunda-feira ao presidente do Diretório Municipal do PT do Rio de Janeiro, Vladimir Palmeira comunicou o seu desligamento do partido. Ele cita a volta de Delúbio Soares - expulso em 2005 por envolvimento no escândalo do mensalão - como o motivo principal de sua saída. " (...) a volta ao partido de Delúbio Soares, justamente expulso no ano de 2005, me impede de continuar nele. Pela questão moral, pela questão política, pela questão orgânica. Pela questão moral porque é evidente que houve corrupção: Não se pode acreditar que um empresário qualquer começasse a distribuir dinheiro grátis para o partido (...)", diz trecho da carta.

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Vladimir lutou contra o regime militar e foi preso em duas ocasiões. Em setembro de 1969, ele foi trocado pelo embaixador americano, Charles Elbrick, sequestrado pelo grupo guerrilheiro de esquerda MR-8, com mais quatorze presos políticos.

Vladimir Palmeira é um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores e foi eleito deputado federal constituinte. Em 1993, foi líder da bancada do PT na Câmara. Em 2006, o então petista saiu candidato ao governo do estado do Rio, mas perdeu a eleição para Sérgio Cabral (PMDB).

Leia a carta de desfiliação de Vladimir Palmeira:

"Ao Diretório Muncipal do PT-R.J.

Meu caro Alberis,

Venho, por meio desta, me desfilar do PT. Não o faço por divergências políticas fundamentais, embora minha carreira minoritária seja de todos conhecida. Sempre me coloquei mais à esquerda da linha oficial, mas nada que, nas circunstâncias brasileiras, me levasse a deixar o partido. No entanto, a volta ao partido de Delúbio Soares, justamente expulso no ano de 2005, me impede de continuar nele. Pela questão moral, pela questão política, pela questão orgânica. Pela questão moral porque é evidente que houve corrupção: Não se pode acreditar que um empresário qualquer começasse a distribuir dinheiro grátis para o partido. Exigiria retribuição, em que esfera fosse. O procurador federal alega que são recursos oriundos de empresas públicas, sendo matéria agora do STF. Mas alguma retribuição seria, ou a ordem do sistema capitalista estaria virada pelo avesso.

Pela questão política porque o PT assumiu um compromisso com a sociedade, quando apareceram as denúncias: o compromisso de punir. E sustentamos que punimos. Punição limitada, na opinião dos petistas do Rio de Janeiro, que por seu DR pediram mais dureza, ao mesmo tempo que apontavam o caminho da Constituinte exclusiva para a reforma política imprescindível. Punição limitada, repito, mas efetiva.

Pela questão orgânica, porque o ex-tesoureiro não só agiu ilegalmente com relação à sociedade, mas violou todas as normas de convivência partidária, ao agir à revelia da Executiva Nacional e do Diretório Nacional.

A volta de Delúbio faz com que todos se pareçam iguais e que, absolvendo-o, o DN esteja, de fato, se absolvendo. Ou, mais propriamente, se condenando, ao deixar transparecer que são todos iguais.

Não creio que o sejam.

Já tinha definido que sairia caso o ex-tesoureiro voltasse. Mas, em primeiro lugar, tive que advertir amigos e companheiros mais próximos, sob pena de lhes causar embaraços. Por outro lado, o governo Dilma entrou em crise, em função das acusações contra Palocci. Sanada a crise, comunicados os companheiros, posso, afinal, lhe entregar esta carta.

Mando um abraço para você e para todos os que, dentro do PT, lutam por uma sociedade mais justa.

Rio de Janeiro, 27 de junho de 2011.

Vladimir Palmeira"



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