O programa nuclear brasileiro sofre de uma “promiscuidade perigosa” porque o mesmo órgão que fiscaliza as atividades envolvendo energia atômica também financia as pesquisas nesse campo. Alvo das críticas é a Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen).
O diagnóstico é de uma comissão da SBF (Sociedade Brasileira de Física), que avaliou o estado da área e apresentou suas conclusões durante o Encontro de Física 2011, em Foz do Iguaçu (PR). “A confluência de interesses prejudica a supervisão de segurança”, diz Luiz Carlos Menezes, físico da USP e presidente da comissão.
O alvo das críticas dos físicos é a Cnen (pronuncia-se “que nem”), ou Comissão Nacional de Energia Nuclear.
Menezes lembra que já há a iniciativa de criar uma agência independente de monitoramento, mas ela não avança. “Não duvido que os interesses corporativos da própria Cnen estejam emperrando essa consulta”, diz ele.
No relatório, o terceiro produzido pela comissão da SBF, os físicos também abordam o que consideram estratégico para o futuro da pesquisa nuclear no Brasil. Entre as principais demandas da comunidade científica está a criação de um reator multipropósito.
Esse tipo de reator poderia suprir o país com radioisótopos de uso médico, importantes para radioterapia ou diagnóstico e hoje produzidos fora do Brasil. “A construção autônoma também traria qualificação técnica, até para fazermos outros reatores se fosse decidido que é o caso de fazer”, diz Menezes.
Nesse ponto, o chefe da comissão é categórico: o país não precisa de mais reatores neste momento, e construí-los equivaleria a simplesmente comprar tecnologia pronta fora, o que seria “tolice”, afirma o pesquisador.
Laercio Vinhas, diretor de radioproteção e segurança nuclear da Cnen, diz que, com o passar do tempo, os programas nucleares mundo afora de fato foram ganhando agências de monitoramento independentes.
“Também pretendemos que haja separação aqui, embora isso não signifique que hoje o trabalho seja malfeito”, afirma Vinhas.
“Não estamos contrariando as convenções internacionais porque elas pedem que regulação e fomento sejam funcionalmente independentes, e isso já acontece no interior da Cnen”, argumenta. (Fonte: Reinaldo José Lopes/ Folha.com)
De: Ambiente Brasil, newsletter - Brasília, 15 06 2011