Dilma supera Lula nas despesas com propaganda; juntos, gastaram R$ 16 bi
Média anual é 23% maior com atual presidente, que vai tentar reeleição em 2014; montante desembolsado daria para pagar quase duas obras de transposição do São Francisco
11 de agosto de 2013 | 23h 09
Fernando Gallo - O Estado de S. Paulo
Os gastos com propaganda do governo federal nos dois
primeiros anos da gestão de Dilma Rousseff, incluindo estatais, é 23%
maior, na média, do que nos oito anos de mandato de seu antecessor e
padrinho político, Luiz Inácio Lula da Silva. A presidente também vem
gastando mais - cerca de 15% -, na média, na comparação com o segundo
mandato de Lula.
Ao todo, em dez anos de governo petista foram desembolsados,
incluindo todos os órgãos da administração, cerca de R$ 16 bilhões, em
valores corrigidos pela inflação, segundo levantamento inédito do Estado.
A quantia é quase igual aos R$ 15,8 bilhões que o governo pretende
investir no programa Mais Médicos até 2014. Com o valor também seria
possível fazer quase duas obras de transposição do Rio São Francisco,
atualmente orçada em R$ 8,2 bilhões.
Em mobilidade urbana, seria possível construir entre 25 km e 30 km de
metrô em São Paulo - um terço da atual malha - ou então colocar de pé,
na capital paulista, cinco monotrilhos iguais ao que ligará o Jabaquara
ao Morumbi, na zona sul, passando pelo aeroporto de Congonhas.
O dinheiro gasto pelo governo com publicidade poderia também manter
congelada em R$ 3 a tarifa de ônibus na cidade de São Paulo durante 50
anos.
Ainda para efeito de comparação, o valor é duas vezes superior aos
recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que Dilma
anunciou para a capital paulista há dez dias, e que servirá para
construir 127 km de corredores de ônibus, recuperar os mananciais das
represas Billings e Guarapiranga, drenar vários córregos da capital e
construir moradias para 20 mil famílias.
Os dados sobre os gastos com publicidade foram solicitados, via Lei
de Acesso à Informação, a cada um dos órgãos que a Secretaria de
Comunicação Social (Secom) informou ter assinado algum contrato
publicitário desde 2003. Os dados foram computados com base na resposta
fornecida por eles - o governo federal afirmou que não dispõe dessas
informações de maneira centralizada.
Ao comentar os resultados do levantamento, o governo ressaltou que as
despesas da administração direta - ministérios e Presidência - têm o
objetivo de "levar à população, em todo o território nacional,
informações de utilidade pública para assegurar seu acesso aos serviços a
que tem direito e prestar contas sobre a utilização dos recursos
orçamentários".
No caso dos gastos da administração indireta, como as estatais, o
governo argumentou que se trata de empresas que, apesar de públicas,
concorrem no mercado, portanto precisam ter a imagem bem trabalhada.
Atualmente Dilma enfrenta problemas de popularidade, que já bateu
recordes, mas, depois das manifestações de junho, enfrentou uma forte
queda. No fim de semana, o Datafolha divulgou nova pesquisa que mostra
uma pequena recuperação da aprovação do governo.
Médias comparadas. Nos dois primeiros anos de
mandato da presidente Dilma, o governo federal gastou R$ 3,56 bilhões,
média de R$ 1,78 bilhão por ano.
Nos oito anos de Lula, o governo desembolsou R$ 11,52 bilhões, média
de R$ 1,44 bilhão. No primeiro mandato, a média foi de R$ 1,32 bilhão.
No segundo, de R$ 1,55 bilhão - sempre lembrando que se trata de valores
atualizados pela inflação.
O dado global de gastos com propaganda, de R$ 16 bilhões, pode ser,
na verdade, ainda bem maior. Isso porque o Banco do Brasil se recusou a
informar os seus gastos com publicidade entre 2003 e 2009.
Só há dados disponíveis de 2010 a 2012. Por essa razão, a fim de
evitar distorções, os dados referentes ao banco só foram incluídos no
valor global, ou seja, nos R$ 16 bilhões, mas descartados na comparação
entre os anos.
Apenas para se ter uma ideia, entre 2010 e 2012, o Banco do Brasil
gastou, também em valores corrigidos pela inflação, R$ 962,3 milhões com
publicidade, média anual de R$ 320,7 milhões. É, no período, o segundo
órgão que mais gastou, atrás da Caixa Econômica Federal.
Banco do Brasil à parte, a Caixa Econômica, a Petrobrás e os
Correios, somados, representam 51,12% de tudo o que o governo destinou a
ações publicitárias nos dez anos de gestão petista.
Por causa do peso dessas três gigantes, a administração indireta -
que engloba autarquias, fundações, sociedades de economia mista,
empresas públicas e agências reguladoras - concentrou 69,4% dos gastos
do governo com publicidade.
Três companhias energéticas que integram a administração indireta -
Alagoas, Piauí e Rondônia - não responderam ao questionamento do Estado.
Na administração direta, apenas o Ministério do Trabalho e Emprego não enviou seus dados de despesas com publicidade.
A Secom, que formula a estratégia de comunicação da Presidência, é o
órgão mais gastador da administração direta, tendo sido responsável pelo
desembolso de R$ 1,68 bilhão no período de dez anos. Ela é seguida
pelos ministérios da Saúde, das Cidades e da Educação.
Tanto no caso da administração direta quanto da indireta, houve
aumento dos gastos publicitários de 2003 para 2012. No primeiro caso,
saltou de R$ 255 milhões para R$ 626 milhões, aumento de 146%. No
segundo, de R$ 775 milhões para R$ 1,15 bilhão, crescimento de 48%.
Também nos dois casos, o pico de gastos ocorreu em 2009. A Secom e os
ministérios gastaram R$ 752 milhões, e a administração indireta, R$
1,22 bilhão. Era o terceiro ano do segundo ano de mandato de Lula.