19/08/2013
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01h05
Restauração revela registros íntimos de Frida Kahlo
DENISE MOTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O início de 2014 deve ser marcado no México pela aparição, em versão
restaurada, de 369 imagens do acervo pessoal de Frida Kahlo (1907-1954),
com a artista de Coyoacán e seu marido, Diego Rivera (1886-1957)
-figuras centrais da arte mexicana no século 20-, diante e por trás das
câmeras.
Trata-se de uma seleção entre as 6.500 fotografias guardadas na Casa
Azul, residência da artista, na Cidade do México, transformada em museu
quatro anos após sua morte.
Os registros, que devem estar recuperados para exposição a partir de
janeiro, abarcam 70 anos de momentos e pessoas relacionados à trajetória
de Kahlo, como um retrato de seu pai, Guillermo.
Além dos mexicanos, entre os autores das imagens em restauração estão
nomes como Henri Cartier-Bresson, Man Ray, Sergei Eisenstein, Tina
Modotti e Edward Weston, além de Lola e Manuel Álvarez Bravo.
Frente à objetiva, aparecem, por exemplo, os artistas David Alfaro
Siqueiros, André Breton e José Clemente Orozco, e o revolucionário
comunista Leon Trótski.
Há também vislumbres de momentos do cotidiano, registros de viagens, detalhes de objetos que foram alvo do interesse da pintora.
E instantâneos de pura intimidade: em imagem do fotógrafo húngaro
Nickolas Muray (amante da artista entre 1931 e 1941), Frida se mostra
deitada na cama, de bruços, com a cintura descoberta e um olhar
enigmático.
A foto foi feita em Nova York, em 1946, onde ela estava para se submeter
a uma entre as várias cirurgias que realizaria ao longo da vida.
Reprodução | ||
Diego Rivera e Frida visitam local onde o botânico Luther Bubanks foi enterrado, nos EUA |
ACERVO PESSOAL
As imagens -registradas entre 1880 e 1950- são parte de um acervo de documentos pessoais (entre mapas, desenhos, recortes de jornais, cartões-postais, cartas) de propriedade do casal Kahlo-Rivera e que começaram a ser catalogados em 2005.
Em 2010, a análise do conjunto de imagens guardadas revelou um contingente de 65% de registros com necessidades de restauração.
As que começaram a ser recuperadas agora são as 369 que estão em pior
estado. Após a conclusão do projeto, as fotos serão tema de exposição e
livro.
"Cada foto representa uma peça de um grande quebra-cabeças da complexa
vida de Frida. Permitem entender muitos aspectos de sua personalidade,
sua visão política, social e sexual, sua doença, sua frustração por não
poder ter um filho, sua intensa vida social e, claro, sua relação com
Diego [Rivera]", disse a diretora da Casa Azul, Hilda Trujillo à
publicação "The Art Newspaper".
O processo de recuperação das fotos, que deve durar aproximadamente seis
meses, está sendo custeado pelo Bank of America Merrill Lynch, por meio
do seu Projeto de Conservação de Arte. A iniciativa incluiu a América
Latina a partir de 2012 e, neste ano, contempla 16 países e 24
propostas, incluindo o Museu de Arte Moderna de São Paulo (leia texto ao
lado).
No ano de lançamento do programa, em 2010, o Bank of America informou
que "pelo menos US$ 1 milhão" seriam destinados anualmente à totalidade
dos projetos escolhidos.
Neste ano, tanto as instituições quanto o banco não informaram os valores que foram cedidos.