Excesso de partidos é prejudicial à democracia, dizem especialistas
TSE decidiu nesta quinta rejeitar registro da Rede, partido de Marina Silva.
Com os dois partidos criados na semana passada, país tem 32 siglas.
A criação de partidos nos atuais moldes é preocupante na opinião de três especialistas ouvidos pelo G1.
Eles afirmam que as siglas são criadas sem projeto para a sociedade e
que o número recorde de partidos em 2013 é prejudicial à democracia.
Nesta quinta, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) negou registro ao Rede Sustentabilidade, liderado pela ex-senadora Marina Silva, mas, na semana passada, aprovou dois partidos, o Solidariedade, do deputado federal Paulo Pereira da Silva, e o PROS
(Partido Republicano da Ordem Social), no qual se filiaram o governador
do Ceará, Cid Gomes e o ex-ministro Ciro Gomes, que deixaram o PSB.
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RecordeSegundo Antonio José Barbosa, professor de História Política da UnB (Universidade de Brasília), nunca houve número tão elevado de partidos políticos na história do país.
“No Império, havia o Partido Liberal e o Conservador. Na República
Velha, nós praticamente não tínhamos partidos nacionais, eram regionais.
Depois de 1939, quando o Brasil começa a viver uma democracia, com a
queda da ditadura de Vargas, nós tivemos a montagem de um sistema
multipartidário. Mas os partidos foram extintos em 1965. Eram 13 e já se
achava uma quantidade muito expressiva”, explica.
No entanto, segundo Barbosa, nada se compara à situação gerada pela
Constituição de 1988. "Foi oferecida uma liberdade muito grande”, disse.
Para o professor, esse número excessivo é prejudicial à democracia.
“Esses partidos acabam não tendo densidade doutrinária alguma. Os
próprios parlamentares não conhecem o programa do partido. Embora
existam partidos pequenos, a grande maioria entra para ganhar dinheiro,
obter fundo partidário, negociar tempo de televisão. Isso apenas
fragiliza a democracia brasileira”, avalia.
Quantidade x qualidade
Para Roberto Romano, professor de Ética e Filosofia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), o problema não é a quantidade, mas a qualidade dos partidos. Segundo ele, os novos partidos surgem hoje para atender interesses de lideranças que não conseguem espaço em suas siglas, em razão da falta de democracia em sua estrutura interna.
Para Roberto Romano, professor de Ética e Filosofia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), o problema não é a quantidade, mas a qualidade dos partidos. Segundo ele, os novos partidos surgem hoje para atender interesses de lideranças que não conseguem espaço em suas siglas, em razão da falta de democracia em sua estrutura interna.
“Até mesmo no caso da Rede é isso que está acontecendo. A Marina é uma
excelente pessoa, mas não teve lugar no PT, não teve no PV, e agora está
criando um partido.”
Romano defende mudanças estruturais nas siglas. "Esses partidos, com
essa estrutura, são verdadeiros parasitas da sociedade", afirma Romano.
"Eles não têm programa. Há uma distorção tão grande que não servem para
alcançar os fins da sociedade, e sim, de quem os dirige."
Mesmos personagens
Pedro Arruda, professor do Departamento de Política da PUC-SP, afirma que a grande quantidade de partidos no país não é um fenômeno recente.
“É só lembrar 1989 a quantidade de candidatos a presidente. Eram 22
candidatos e 27 partidos. Não é uma característica desse período”, diz.
“Mas, mais importante que a quantidade é analisar a qualidade”, afirma.
Para o professor, “os partidos são novos, mas os personagens são os
mesmos de sempre”.
“São formas de garantir mandatos, aumentar possibilidades de reeleição,
possibilidade de barganhar com o governo federal. Não vejo nada de
positivo. Num país como o Brasil o fato de ter mais partido não
significa que tenha mais oposição. Até mesmo porque as divergências
entre os dois maiores partidos do Brasil já não são tão grandes”,
completa. “Deveria ter um estatuto, disciplina partidária, e o que a
gente vê na maioria é o toma lá dá cá.”
Fidelidade e cláusula de barreira
Arruda afirma ainda que uma “brecha jurídica” foi criada pela resolução do TSE que prevê perda de mandato em casos de infidelidade partidária.
“Ela diz que o mandato pertence ao partido e não à pessoa. Se o
deputado se desfilia sem justa causa pode perder o mandato. Mas uma das
exceções é a criação de novos partidos, fusão, incorporação. Isso acabou
sendo uma brecha jurídica. Então fica esse caminho aberto”, argumenta.
Cláusula de barreira
Para Barbosa, uma das soluções seria a cláusula de barreira. “Os partidos são criados para atender a sede para manipular verbas públicas. A relação entre o Executivo e o Legislativo passa a ser quase que impelida a se fazer por meio do troca-troca, por meio da negociata, e não da negociação. Então eu estou sugerindo um critério objetivo. Se o partido não tem ligação nenhuma com a sociedade, ele só está atrapalhando. Se não tiver densidade eleitoral, que deixe de existir. Cassa-se o registro dele”, diz o professor da UnB.
Roberto Romano afirma ser a favor do multipartidarismo, porque “a
sociedade é plural, não tem só duas opiniões”, mas contra a
“partidocracia”.
“Hoje tem presidente no mandato já fazendo propaganda eleitoral. É uma
inversão perversa de tudo que se espera de um partido, que é um projeto
de estado e de sociedade”, conclui.