Devemos respeito à memória de José Bonifácio de Andrada e Silva. No volume de seus Discursos Parlamentares (Fundap/ Imprensa Oficial, 2007) podemos ler a sua fala (11/8/1886) contra a presença, no orçamento oficial, da rubrica "Despezas secretas" para amaciar jornalistas e redações. "A verba secreta pode ser encarada em si mesma, em suas relações e nas que mantém com a imprensa, real interprete da opinião, quando soube exprimíl-a, ua posição libérrima, em que a deve encarar a consciência da nação " . A verba secreta para financiar jornalistas venais, que entregam sua pena para louvar governos e deputados, "desnatura a missão governamental. Não é mais a polemica de todos os dias, inspirada pelo poder, em defeza do interesse publico; não é a discussão, guiada pelo espírito político, rebatendo a crítica oposicionista pela critica ministerial; não é o sacerdócio da administração, consagrando a imprensa como instituição politica; não é a imprensa nobilissima de um gabinete probo, sensato e ilustrado, procurando inteirar o paiz de todos os seus intuitos, e fornecendo as provas irrefragaveis de suas intenções e juízos esclarecidos. Não: receiando apparecer, o governo substitue a autoridade moral pelo descredito do anonymo; a discussão degenera quasi sempre em conflito pessoal ou polemica odiosa. Os louvores transformam-se em moeda falsa, fabricada clandestinamente no thesouro publico" .
Liberal efetivo, e não de mentirinha como ocorre com os políticos de hoje, José Bonifácio de Andrada e Silva se levanta contra o segredo de Estado e contra verbas secretas. Hoje, com certeza, ele seria cassado pelo Congresso que julga lícito esconder despesas de parlamentares e da Presidência da República. Liberal, e não simulador, José Bonifácio verbera os que vendem e compram a cumplicidade da imprensa, acobertando assim bandalheiras com os impostos. Liberal, ele defende o cidadão contra os poderes arbitrários e injustos, à diferença dos políticos que proclamam não desejar que as despesas de seu cargo sejam publicadas, porque são "coisas suas" . Liberal, ele teria renunciado ao cargo, hoje, em vez de santificar a subversão do Estado, praticada pelos legisladores em conluio com o Palácio do Planalto.