Dissidente chinês recebe Prêmio Nobel da Paz; Pequim reage e nega acesso
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
O dissidente chinês Liu Xiaobo, 54, foi agraciado nesta sexta-feira com o Prêmio Nobel da Paz devido à sua atuação em defesa dos direitos humanos. O anúncio gerou pronta e dura reação da China, que qualificou de "blasfêmia" a decisão e anunciou que não permitirá acesso durante o dia de hoje a Liu, que cumpre pena na prisão.
Ativista político chinês critica entrega do Nobel da Paz a Liu Xiaobo
Mulher de dissidente diz que China deveria se orgulhar de escolha
Dissidente chinês Liu Xiaobo é um incansável ativista pró-democracia; leia perfil
Ativista chinês é novo Prêmio Nobel da Paz; veja os vencedores desde 1980
Dissidente chinês recebe Prêmio Nobel da Paz 2010; Pequim reage com duras críticas
Ativista chinês Liu Xiaobo vence Nobel da Paz 2010
Governo chinês diz que escolha de Prêmio Nobel da Paz é "blasfêmia
Veja imagens do Prêmio Nobel da Paz 2010
China confirma pena de 11 anos de prisão para dissidente
Nos últimos dias, diplomatas chineses já vinham pressionando o comitê do Nobel a não premiar Liu, advertindo que a decisão poderia comprometer as relações bilaterais entre a China e a Noruega, país que sedia o comitê organizador da premiação.
Mas a decisão foi saudada por líderes e organismos mundiais. A mulher do dissidente, Liu Xia, que vive em Pequim, também não recebeu permissão para falar, mas disse, em comunicado, esperar que a premiação sirva para que a comunidade internacional pressione o regime chinês a libertar o seu marido.
Para Liu Xia, a China deveria se orgulhar da escolha do dissidente para o prêmio recebido no ano passado pelo presidente dos EUA, Barack Obama. Nesta semana, Liu Xia havia que não o vê desde 7 de setembro e a saúde dele está abalada, mas que ele está com ânimo positivo.
YM Yik/Efe | ||
Mulher chora ao lado de foto de Liu Xiaobo, Nobel da Paz 2010, em vigilia por sua libertação em janeiro deste ano |
REAÇÃO
O Ministério das Relações Exteriores da China atacou a decisão e disse que o prêmio deveria, em vez disso, ser usado para a promoção da amizade internacional e do desarmamento.
"Liu Xiaobo é um criminoso sentenciado pela Justiça chinesa por violar as leis da China", disse a Chancelaria em Comunicado. "[A decisão] é completamente contrário ao próprio espírito do prêmio e é uma blasfêmia ao Nobel da Paz."
O anúncio em emissoras de TV como a americana CNN foi imediatamente censurado, e sites da internet que fazem a cobertura da premiação foram bloqueados. Tentativas de envio de mensagens de texto por celular com sobre "Liu Xiaobo" não eram possíveis.
Apesar da censura, em Pequim mais de uma dúzia de apoiadores de Liu se reuniram na entrada de um parque na região central da cidade para parabenizar o dissidente. Eles entoavam os gritos "Vida longa à liberdade de expressão, vida longa à democracia!".
Liu, no entanto, é conhecido na China apenas por ativistas políticos, e a maior parte das pessoas que passavam pelo local não paravam por não saber do que se tratava.
CRÍTICA
Ao menos um ativista político chinês exilado criticou a decisão do comitê do Nobel, afirmando que outros dissidentes mereciam o prêmio mais do que ele.
Para Wei Jingsheng, que passou cerca de 20 anos na prisão pela atuação pró-democracia no país, Liu é um moderado que quer colaborar com o governo chinês.
Segundo o ativista, Liu foi por vezes autorizado a atuar e já fez críticas a outros opositores que propõem mudanças mais profundas do que as defendidas pelo Nobel da Paz.
"Na minha opinião, deram o Nobel da Paz a Liu porque ele é diferente da maioria dos opositores. Faz mais gestos de cooperação com o governo e é mais crítico com outros dissidentes", disse Wei à agência France Presse, em Washington, onde vive exilado.
AP | ||
Em 2008, Liu aparece em frente ao túmulo do dissidente Bao Zunxin, preso após o massacre da Paz Celestial |
ATIVISMO
Liu Xiaobo, o mais proeminente dissidente chinês, incomoda o governo desde 1989, quando aderiu aos protestos pró-democracia duramente reprimidos na Praça da Paz Celestial, em 1989.
Há dois anos, ele foi um dos organizadores do manifesto chamado Carta 08, em que intelectuais e ativistas pediam reformas abrangentes na China, inspirando-se na Carta 77, um marco do movimento pró-democracia na Tchecoslováquia na década de 1970.
A publicação do documento levou Liu à prisão. E, em dezembro do ano passado, ele foi condenado a 11 anos de prisão sob a acusação de subversão, por fazer campanha em prol de liberdades políticas. A sentença foi criticada pelos EUA, pela União Europeia e por grupos de direitos humanos.
A esposa do dissidente o visita uma vez por mês na prisão que fica na província de Liaoning, nordeste da China. As visitas duram uma hora e são monitoradas.
O advogado de Liu, Shang Baojun, disse esperar que, "graças a essa decisão, ele seja liberado rapidamente, embora ainda seja muito cedo para se saber se será assim mesmo".
"Espero que nesta ocasião, a China se abra ainda mais, que se levantem as restrições à liberdade de expressão.
Liu já havia passado 20 meses na cadeia depois da repressão aos protestos da Praça da Paz Celestial, e depois ficou três anos num campo de "reeducação pelo trabalho", na década de 1990, além de vários meses praticamente sob prisão domiciliar.
NORUEGA
O presidente do comitê do Nobel, o norueguês Thorbjoern Jagland disse que "a China tem se tornado uma grande potência em termos econômicos e políticos, e é normal que grandes potências estejam sob críticas". Jagland disse que Liu é um símbolo da luta pelos direitos humanos na China.
O premiê norueguês, Jens Stoltenberg, afirmou não ver motivo para a China punir a Noruega como país pelo prêmio. "Eu acho que seria negativo para a reputação da China no mundo se eles decidissem fazer isso."
Veja a lista dos vencedores do Nobel da Paz nos últimos 10 anos:
- 2010: Liu Xiaobo.
- 2009: Barack Obama
- 2008: Martti Ahtisaari
- 2007: Intergovernmental Panel on Climate Change, Al Gore
- 2006: Muhammad Yunus, Grameen Bank
- 2005: Agência Internacional de Energia Atômica, Mohamed ElBaradei
- 2004: Wangari Maathai
- 2003: Shirin Ebadi
- 2002: Jimmy Carter
- 2001: ONU, Kofi Annan
- 2000: Kim Dae-jung