quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Um leitor de aguda inteligência. Só diria que o jornalista não tem culpa, mas sim o analista das Casas Bahia (muito bem achado, leitor!).


Tópico: Grafites
O momento é de quem sabe vender melhor as ilusões
em 14/09/2010 05:40:00 (230 leituras)

Mesmo que tudo não passe de uma grande ilusão, (...)o que vale é a sensação de bem estar

Romualdo Cruz Filho

Ora, ora. De debate em debate, a mentira avança e a conversa se reduz ao raciocínio Casas Bahia. Sai a política do jogo e entra a capacidade de consumo. Tanto é que os analistas mais consultados do momento não são os especialistas em política, e sim, os especialistas em mercado, que veem a população louca por crédito e facilidades. Como se essas facilidades fossem conquistas exclusivas do governo atual. Claro que o governo quer que essa seja a leitura, reproduzida e propagada pelas analistas das Casas Bahia, que escondem o truque do uso da máquina pública para afastar as pessoas sérias da conversa. Isso dá uma força imensa à candidata oficial, como se tem notado.

Mesmo que tudo não passe de uma grande ilusão, mesmo que tudo não passe de uma fábrica de números exuberantes, produzidos para impressionar, o que vale é a sensação de bem estar, dizem esses espertinhos. Tese excelente para o governo e sensacional para as Casas Bahia. Tanto é assim que, para os analistas das Casas Bahia, a eleição presidencial já está definida. Todos os escândalos (da Receita Federal e da Casa Civil) que envolvem petistas e mandatários do governo Lula não terão força para mexer com a percepção do eleitorado, “que precisa de símbolos fortes para entender o mundo”, dizem eles.

Um dos analistas esmiúça sua compreensão do momento: “Cadê o monte de dinheiro como apareceram nos casos dos mensaleiros e dos aloprados? Cadê a polícia prendendo os criminosos ou suspeitos do crime? Se essas imagens não existem, os crimes também não existem”. Ou, pelo menos, deixam a entender os experts, os novos crimes do petismo não têm o poder de influência necessário para mudar uma decisão, fundamentada na fantasia. Por isso, o nome da candidata oficial cresce, cresce, cresce...

É isso aí. Para esses homens que sabem tudo, e não revelam a impostura do governo para esmagar a oposição, o eleitor virou um boneco bobo, que não pensa e só reage aos sinais que aparecem diante do cabresto, porque não tem habilidades motoras para mexer a cabeça. Ou quando tem, é para seguir o que vende a propaganda. Para esses homens que sabem tudo, o eleitor é apenas um burro seguindo uma cenoura. Ou então, inebriado pela ilusão, mesmo que na frente esteja um pântano, carregado de sanguessugas.
Pelo que entendi, os analistas das Casas Bahia, que invadiram a imprensa e substituem os grandes analistas políticos do país, tiraram de foco a armação do governo, o castelo construído com números falsos, a má gestão dos dois governos Lula, que foram de pura inércia, e colocaram no lugar uma peça de marketing.

Essas mentiras, para os homens que sabem tudo, tornaram-se verdade, e quem contestar a ilusão de ótica é que não entendeu nada. É como se vivêssemos em um sonho ou em um comercial de TV. De um lado, o governo seduz com um mundo de realizações, montado com imagens bonitas. Do outro, o consumidor se vendo nesse ambiente de sonho realizado. Por trás de tudo, os marqueteiros do governo. Entre os marqueteiros do governo, os analistas das Casas Bahia, que invadiram a imprensa para analisar o momento político a partir de seus truques.

Neste domingo assisti a um debate na Globo News e vi dois homens sérios, que entendem de verdade a realidade do país, praticamente jogando a toalha diante dos argumentos de um analista das Casas Bahia. Depois que o analista de mercado falou suas balelas sobre as eleições presidenciais e as vantagens da candidata oficial, William Waak, que mediava a conversa, perguntou ao filósofo Roberto Romano : “Quer comentar alguma coisa? O senhor tem alguns segundos”. O professor disse simplesmente: “Não concordo com o colega em gênero, número e caso”. E permaneceu calado. Não que os homens sérios não tivessem argumentos contra o marqueteiro. Tinham e de sobra. Mas sabiam que, na estrutura do programa, se saía melhor quem soubesse vender ilusões, com frases de efeito. Sabiam que o momento é para analistas das Casas Bahia e não para os homens sérios.