Quarta-feira, 22 de Dezembro de 2010
Ladainha dos Póstumos Natais
Ladainha dos Póstumos Natais, poema de David Mourão-Ferreira recentemente escolhido pelo classicista e também poeta José Ribeiro Ferreira para integrar a antologia que organizou - Dois poetas e um Natal - e para a dizer, porque a poesia é (também) para ser dita.
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazio
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigo
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que não viva já ninguém meu conhecido
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livro
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo o Nada a sós comigo
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do Infinito
Cancioneiro de Natal in Obra Poética, 1996, páginas 244-245.