política 03/06/2011 23h30
Palocci fala, mas não diz como ficou milionário
Para a TV, ministro se recusa a relevar clientes e faturamento de sua empresa de consultoria
Foram 19 dias de silêncio desde a revelação da compra de um apartamento de R$ 6,6 milhões e um escritório de R$ 882 mil em São Paulo e, quando o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, resolveu falar sobre como conseguiu, em quatro anos, multiplicar por 20 seu patrimônio, pouco esclareceu.
Em entrevista ao "Jornal Nacional", da TV Globo, nesta sexta-feira à noite, o homem forte do governo da presidente Dilma Rousseff se negou a revelar o nome dos seus clientes e, muito menos, sobre o faturamento da Projeto, sua empresa de consultoria. "Acho que não tenho o direito de fazer a divulgação de terceiros. Eu acho que eu devo assumir os esclarecimentos relativos à minha empresa", se justificou.
Em dois únicos momentos, admitiu ter faturado "em valores aproximados" R$ 20 milhões somente em 2010 - metade desse montante teria sido pago após a vitória de Dilma, em novembro. Sobre esse número, compatível às grandes empresas do setor, justificou dizendo ser o encerramento de contratos "que eu tinha há dois anos, há cinco anos, há três anos". "Ou seja, aqueles serviços prestados até aquele momento foram pagos nesse momento", afirmou.
Depois, sobre o faturamento da Projeto entre os anos de 2007 e 2009, concordou ter ganho "algo nesse sentido" ao ser perguntado se era metade, 30% ou 20% dos R$ 20 milhões.
Palocci apostou na tática de negar enfaticamente ter, de alguma forma, ajudado ou atuado dentro do governo em favor de seus clientes. "Eu nunca participei. Quando uma empresa privada tinha negócio com o setor público, eu nunca dei consultoria num caso como esse", garantiu.
Sobre o trabalho em si, explicou ter ajudado "setores de indústrias, trabalhei no setor de serviços financeiros, no setor de mercado de capitais, bancos e empresas e fundos de mercado de capitais". "São empresas que vivem da iniciativa privada e consideraram útil o fato de eu ter sido ministro da Fazenda, de ter acumulado uma experiência na área econômica, de conhecer a área econômica", completou.
Palocci também assumiu para si a responsabilidade da primeira crise da gestão Dilma e negou que sua presença na Casa Civil paralisa o governo. "Não há uma crise no governo, há uma questão em relação à minha pessoa, eu prefiro encarar assim e assumir plenamente a responsabilidade que eu tenho nesse momento de prestar as informações aos órgãos competentes e dar as minhas explicações", citando o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) e a Procuradoria-Geral da República, que já investigam o caso.
O ministro, que culpou a oposição e disse ser vítima de perseguição política, afirmou que seu cargo está à disposição da presidente, mas que não tratou desse assunto com ela. No final, afirmou apostar na "boa fé das pessoas" para provar que não cometeu irregularidades.
Oposição não fica satisfeita e quer ouvir ministro na Câmara
A declaração do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, ao "Jornal Nacional" não foi suficiente para acalmar a oposição. Nesta sexta-feira, antes mesmo do petista aparecer na televisão, o líder do DEM, ACM Neto (BA), disse que vai cobrar a presença de Palocci na Comissão de Agricultura da Câmara. A convocação, suspensa pelo presidente da Casa, Marco Maia (PT-RS), foi aprovada na quarta-feira após uma manobra dos oposicionistas e uma bobeada da base aliada.
"A oposição não vai se dar por satisfeita. Na televisão, o ministro Palocci pode falar o que quiser. Na comissão, não. Na comissão os deputados vão tocar na ferida. Independentemente do que o ministro diga na televisão, não vamos voltar atrás na convocação. O requerimento foi aprovado, o ministro está convocado e não vamos abrir mão disso. Ele vai ter que comparecer."
O PPS também já avisou que se Maia cancelar a convocação, seja por qualquer motivo, vai recorrer ao Supremo Tribunal Federal para obrigar o ministro a comparecer à Câmara. "Vamos aguardar até a próxima terça-feira. Mas já avisamos que, se ele anular a convocação, iremos ao STF para garantir o respeito a Constituição." Desde o início da crise Palocci se nega a falar com os parlamentares.
Análise
Maria do Socorro Sousa Braga, cientista política
'Foi uma fala vazia e vaga'
Ele não disse muito do que nós já sabíamos. Omitiu a lista dos clientes, os próprios valores recebidos. A aposta foi insistir que os órgãos competentes já estão investigando e agora vamos ter que esperar as decisões. Só o fato dele vir a público, se colocar sempre muito humilde, para a opinião pública mais geral tem um impacto, mas para a oposição e até para alguns setores da base, entendo que ele deu mais munição porque não trouxe nenhum fato novo ou uma resposta mais contudente.
Murilo de Aragão, mestre em ciência política
'Ele foi firme e deu o recado'
Ele foi bem. Ninguém tira nota 10 numa situação como essa. Ele deu as explicações que podia, conseguiu de certa forma negar enfaticamente que tenha tido qualquer relação com o governo e também, de forma mais moderada, mostrou que a sua experiência lhe dá condições de ser consultor. Além disso, se colocou à disposição para dar esclarecimentos aos órgãos de controle e chamou para si a responsabilidade. Não sei se é suficiente para parar a pressão, mas a aparição foi positiva para ele.
Roberto Romano, professor de Ética e Filosofia da Unicamp
'Só convenceu a si mesmo'
Em entrevista ao "Jornal Nacional", da TV Globo, nesta sexta-feira à noite, o homem forte do governo da presidente Dilma Rousseff se negou a revelar o nome dos seus clientes e, muito menos, sobre o faturamento da Projeto, sua empresa de consultoria. "Acho que não tenho o direito de fazer a divulgação de terceiros. Eu acho que eu devo assumir os esclarecimentos relativos à minha empresa", se justificou.
Em dois únicos momentos, admitiu ter faturado "em valores aproximados" R$ 20 milhões somente em 2010 - metade desse montante teria sido pago após a vitória de Dilma, em novembro. Sobre esse número, compatível às grandes empresas do setor, justificou dizendo ser o encerramento de contratos "que eu tinha há dois anos, há cinco anos, há três anos". "Ou seja, aqueles serviços prestados até aquele momento foram pagos nesse momento", afirmou.
Depois, sobre o faturamento da Projeto entre os anos de 2007 e 2009, concordou ter ganho "algo nesse sentido" ao ser perguntado se era metade, 30% ou 20% dos R$ 20 milhões.
Palocci apostou na tática de negar enfaticamente ter, de alguma forma, ajudado ou atuado dentro do governo em favor de seus clientes. "Eu nunca participei. Quando uma empresa privada tinha negócio com o setor público, eu nunca dei consultoria num caso como esse", garantiu.
Sobre o trabalho em si, explicou ter ajudado "setores de indústrias, trabalhei no setor de serviços financeiros, no setor de mercado de capitais, bancos e empresas e fundos de mercado de capitais". "São empresas que vivem da iniciativa privada e consideraram útil o fato de eu ter sido ministro da Fazenda, de ter acumulado uma experiência na área econômica, de conhecer a área econômica", completou.
Palocci também assumiu para si a responsabilidade da primeira crise da gestão Dilma e negou que sua presença na Casa Civil paralisa o governo. "Não há uma crise no governo, há uma questão em relação à minha pessoa, eu prefiro encarar assim e assumir plenamente a responsabilidade que eu tenho nesse momento de prestar as informações aos órgãos competentes e dar as minhas explicações", citando o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) e a Procuradoria-Geral da República, que já investigam o caso.
O ministro, que culpou a oposição e disse ser vítima de perseguição política, afirmou que seu cargo está à disposição da presidente, mas que não tratou desse assunto com ela. No final, afirmou apostar na "boa fé das pessoas" para provar que não cometeu irregularidades.
Oposição não fica satisfeita e quer ouvir ministro na Câmara
A declaração do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, ao "Jornal Nacional" não foi suficiente para acalmar a oposição. Nesta sexta-feira, antes mesmo do petista aparecer na televisão, o líder do DEM, ACM Neto (BA), disse que vai cobrar a presença de Palocci na Comissão de Agricultura da Câmara. A convocação, suspensa pelo presidente da Casa, Marco Maia (PT-RS), foi aprovada na quarta-feira após uma manobra dos oposicionistas e uma bobeada da base aliada.
"A oposição não vai se dar por satisfeita. Na televisão, o ministro Palocci pode falar o que quiser. Na comissão, não. Na comissão os deputados vão tocar na ferida. Independentemente do que o ministro diga na televisão, não vamos voltar atrás na convocação. O requerimento foi aprovado, o ministro está convocado e não vamos abrir mão disso. Ele vai ter que comparecer."
O PPS também já avisou que se Maia cancelar a convocação, seja por qualquer motivo, vai recorrer ao Supremo Tribunal Federal para obrigar o ministro a comparecer à Câmara. "Vamos aguardar até a próxima terça-feira. Mas já avisamos que, se ele anular a convocação, iremos ao STF para garantir o respeito a Constituição." Desde o início da crise Palocci se nega a falar com os parlamentares.
Análise
Maria do Socorro Sousa Braga, cientista política
'Foi uma fala vazia e vaga'
Ele não disse muito do que nós já sabíamos. Omitiu a lista dos clientes, os próprios valores recebidos. A aposta foi insistir que os órgãos competentes já estão investigando e agora vamos ter que esperar as decisões. Só o fato dele vir a público, se colocar sempre muito humilde, para a opinião pública mais geral tem um impacto, mas para a oposição e até para alguns setores da base, entendo que ele deu mais munição porque não trouxe nenhum fato novo ou uma resposta mais contudente.
Murilo de Aragão, mestre em ciência política
'Ele foi firme e deu o recado'
Ele foi bem. Ninguém tira nota 10 numa situação como essa. Ele deu as explicações que podia, conseguiu de certa forma negar enfaticamente que tenha tido qualquer relação com o governo e também, de forma mais moderada, mostrou que a sua experiência lhe dá condições de ser consultor. Além disso, se colocou à disposição para dar esclarecimentos aos órgãos de controle e chamou para si a responsabilidade. Não sei se é suficiente para parar a pressão, mas a aparição foi positiva para ele.
Roberto Romano, professor de Ética e Filosofia da Unicamp
'Só convenceu a si mesmo'
Não apresentou nenhum argumento mais sólido que contraria o que foi dito até agora. Disse que vai apresentar para as autoridades, mas a população não vai ter acesso a esses dados, ou seja, isso não é nada. Além do que, tentou culpar a oposição, mesmo com os principais partidos e personagens da oposição dando apoio a ele. O que o Palocci quis fazer é hipnotizar a opinião pública com a ajuda da TV. Sua situação agora é absolutamente igual a de hoje (sexta) de manhã. Nada mudou.