Muitas pesquisas já apontaram os Corpos de Bombeiros Militares como as instituições mais confiáveis do Brasil. Não é à toa: nos momentos de perigo, quando o risco de morte é iminente, e a sensibilidade das vítimas está aguçada pelo contexto de catástrofe, os bombeiros surgem heroicamente, muitas vezes expondo a própria vida, indo além dos limites estabelecidos pela técnica. Incêndios, afogamentos, desabamentos, enchentes: situações-limite em que a última esperança está na mão dos “guerreiros do fogo”.
O problema é que a opinião pública favorável aos bombeiros nem sempre se converte em reconhecimento prático aos profissionais. Os “tapinhas nas costas e apertos de mão”, infelizmente, não são suficientes para suprir as necessidades e as vontades humanas básicas. Como disse a professora Amanda Gurgel, “a minha necessidade de comer é imediata!”.
É neste contexto que surgem as reivindicações dos bombeiros militares do Rio de Janeiro, da necessidade imediata de serem reconhecidos como seres humanos dignos do mínimo para sua sobrevivência cotidiana. Atento a esta demanda, o atual Governador do Rio de Janeiro proferiu o seguinte discurso na campanha eleitoral de 2006, quando conseguiu seu primeiro mandato:
Hoje, existem mais de 400 bombeiros presos por reivindicar aquilo que consensualmente é justo e urgente, o reajuste salarial para a categoria bombeiro militar que menos ganha no país. Os bombeiros do Rio recebem, sim, R$950,00 líquidos – para salvar vidas e arriscar a sua própria. Não bastasse a prisão, e a repressão ao movimento que invadiu o Quartel Central dos próprios bombeiros, colocando policiais militares contra colegas de farda, o autor do discurso da “valorização da corporação” tentou publicamente desmoralizar a categoria, intitulando-a de “vândalos e irresponsáveis”:
Felizmente, o tiro de repressão saiu pela culatra. O país está com os olhos voltados para a situação dos bombeiros no Rio, a crítica à postura do governo é geral, e os bombeiros continuam dando demonstração de força e persistência, exigindo agora a soltura dos colegas presos. O curioso é que tudo isto poderia não ter ocorrido, se o governo se abrisse ao diálogo reivindicado há meses pela categoria. Mas, como diz com excelência o Tenente Coronel Nascimento no filme Tropa de Elite 2, “o sistema só respeita a mídia”.