sábado, 1 de fevereiro de 2014

A Inglaterra regride ao tempo da Star Chamber. Quem entender, entenda.

31 de janeiro de 2014 17h34

Funcionários do Guardian destroem arquivos de Snowden

Jornal foi ameaçado de processo pelas autoridades do Reino Unido caso não eliminasse o material considerado confidencial
Por Camilo Rocha



SÃO PAULO – Imagens de jornalistas do diário britânico The Guardian destruindo computadores que continham os arquivos passados ao jornal pelo ex-agente da CIA Edward Snowden foram divulgadas nesta sexta-feira. O episódio aconteceu em 20 de julho do ano passado.

O jornal foi ameaçado de processo pelas autoridades do Reino Unido caso não destruísse o material, que continha informações sobre o governo do país consideradas confidenciais. O chefe da casa civil britânico, Jeremy Heywood, teria dito a Alan Rusbridger, editor do Guardian: “Podemos fazer isso de um jeito tranquilo ou podemos seguir a lei. Muita gente no governo acha que vocês deveriam ser fechados”.

Através das reportagens de seu correspondente Glenn Greenwald, que teve acesso a documentos vazados pelo ex-agente da CIA Edward Snowden, o Guardian revelou o esquema de espionagem online da agência norte-americana NSA.

O governo britânico agiu para barrar a divulgação de segredos seus contidos na massa de informação. O serviço de inteligência do país (GCHQ) pediu ao jornal que entregasse os computadores onde as informações estariam armazenadas para que fossem destruidos.

O Guardian recusou, propondo que seus próprios jornalistas eliminassem o material. Oficiais do GCHQ acompanharam então o processo de destruição, feito por três funcionários do Guardian. Foram usadas furadeiras e rebarbadoras para “lixar” as placas dos computadores. Depois, tudo foi passado por um desmagnetizador do GCHQ.

Segundo o Guardian, todos os arquivos relacionados a Snowden que o jornal tinha em seu poder estavam em quatro laptops sem conexão à internet ou qualquer rede interna. Os computadores ficavam numa sala especial, vigiada 24 horas por dia por seguranças. Havia múltiplas senhas e uma proibição ao uso de aparelhos eletrônicos na sala. Apenas uma pequena equipe de repórteres veteranos de confiança tinha acesso aos arquivos. O editor do jornal, Alan Rusbridger, lembrou ao governo, porém, que cópias dos documentos existiam em outros países.

Na semana que vem, a editora do jornal lança o livro The Snowden Files, de Luke Harding, que conta a história do agente, desde seus tempos de juventude, o período em que trabalhou para a CIA até o ano passado, quando decidiu contar ao mundo tudo que sabia.