Domingo, 02 de fevereiro de 2014
A estratégia de Dilma
Governo monitora comitês populares e líderes anarquistas para
evitar que protestos, que certamente acontecerão durante a Copa do
Mundo, adquiram maiores proporções e inviabilizem acesso aos jogos.
A reportagem é de Sérgio Pardellas e publicada pelo IstoÉ, 31-01-2014.
Num ano que já teve rolezinho, ônibus incendiados e até um ataque
covarde contra um trabalhador que dava carona em seu Fusca, o Planalto
aguarda pela Copa do Mundo com a certeza de que o País irá conviver com
protestos de natureza variada. A dúvida é o tamanho e a tonalidade. Na
semana passada, ao iniciar um périplo pelas 12 cidades que irão sediar a
Copa, o ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, procurava colocar a discussão em termos políticos.
“A Copa vai ser um sucesso porque a população quer ver os jogos, quer
torcer pelo Brasil e quer receber bem as torcidas estrangeiras.” Um
levantamento do Datafolha junto a 10.403 torcedores,
realizado um mês após os protestos apocalípticos de junho de 2013,
mostra um ambiente favorável. Se 21% disseram não apoiar a Copa, 37% se
disseram a favor e 26% deram apoio em parte. Para 75%, a Copa irá
reforçar o “orgulho de ser brasileiro”. Para 51%, a Copa deixará um
legado positivo. Nas cidades-sede, o otimismo é maior: 59% acreditam num
saldo favorável.
Na Secretaria-Geral da Presidência da República, emissários sob comando do ministro Gilberto Carvalho monitoram tanto Comitês Populares da Copa,
que reúnem famílias que foram retiradas de suas casas para a abertura
de avenidas e demais obras públicas, quanto aquilo que o governo chama
de “o pessoal de Seattle”: anarquistas que irão se mobilizar em torno
dos estádios em busca de confronto permanente. Com os primeiros o
Planalto acha que tem diálogo e desde já procura debater reivindicações.
Com os segundos não haverá muito o que fazer – a não ser torcer para
que sejam menos numerosos do que no ano passado e possam ser contidos em
limites aceitáveis de cidadania.
A cinco meses para o pontapé inicial, o Planalto encomendou às
prefeituras de cada cidade-sede e aos respectivos governos estaduais um
balanço específico de cada investimento anunciado. Os resultados – que
devem ser desiguais – começaram a chegar a Brasília e devem ser
finalizados no início da semana.
Conjuntura da Semana. Copa do Mundo 2014, Ilegítima: elitista, privatista e anti-popular