PT e PSDB têm 'pacto dos afogados' para desacreditar STF, diz filósofo
Fernanda Calgaro
Do UOL, em Brasília
Do UOL, em Brasília
- Flávio Florido/UOLRoberto Romano, filósofo e professor de ética
Adversários nas eleições presidenciais deste ano, o PT e o PSDB, ambos
atingidos por esquemas de corrupção julgados pelo STF (Supremo Tribunal
Federal), os chamados mensalão petista e mensalão mineiro, agem como se
tivessem um "pacto dos afogados" ao defenderem lideranças dos seus
partidos com o objetivo de "desacreditar a opinião pública, a imprensa e
a Justiça", segundo o filósofo Roberto Romano, professor titular de
ética na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
"A tática
de um partido de sair em defesa de uma liderança importante, mesmo que
esta esteja a dever, é ligada a esse pequeno cálculo eleitoral. A visão
dos partidos não vai além das urnas. Eles pensam naquilo que é bom para
ganhar nas urnas e não no que é certo ou errado", afirmou Romano em
entrevista ao UOL.
Nesta segunda (10), o presidente do PSDB e pré-candidato do partido ao Planalto, Aécio Neves, saiu em defesa de Azeredo
ao dizer que ele "era um homem de bem". Da sua parte, o PT sempre
considerou o julgamento no STF como "político" e apoiou, inclusive,
campanhas de arrecadação de dinheiro para pagar a multa dos
ex-dirigentes petistas condenados por corrupção no processo.
O
filósofo vai ainda mais além na sua análise: afirma ver uma certa
"trégua" entre as duas legendas para se pouparem mutuamente diante de
tema tão desgastante em ano eleitoral.
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Segundo ele, quando o deputado federal Eduardo Azeredo (PSDB-MG), a ser julgado pelo STF, diz ser tão inocente quanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no caso do mensalão petista, Azeredo tenta se eximir de responsabilidade e, ao mesmo tempo, fazer uma defesa de Lula.
Da mesma forma, avalia Romano, quando o presidente do PT, Rui Falcão, afirma esperar que Azeredo tenha direito à ampla defesa e um "julgamento justo" no STF, Falcão "aproveita para alfinetar o Supremo".
Em entrevista à "Folha de S.Paulo", Azeredo se comparou a Lula, que
sempre negou saber do mensalão e acabou não sendo denunciado, e disse
que nada sabia das irregularidades em sua campanha eleitoral de 1998 em
Minas Gerais e, portanto, não deveria ser responsabilizado.
"Azeredo faz um apelo a um princípio, ou a falta de princípio, que
impera nos homens públicos, que é a recusa em assumir
responsabilidades", avalia Romano. "É um fogo de artifício para que ele
diga à cidadania que é tão igual ao Lula, ou seja, que é inimputável."
Segundo o filósofo, dizer que não sabia sobre "algo que acontecia na
cozinha da sua campanha" é igualmente grave: "É uma confirmação da falta
de responsabilidade e de competência".
Acusado dos crimes de
peculato (desvio de dinheiro público) e lavagem de dinheiro, Azeredo
responde na Justiça pelo desvio de R$ 3,5 milhões (cerca de R$ 9,3
milhões em valores atualizados) do banco estatal Bemge e de empresas
públicas para financiar a sua campanha à reeleição em 1988, que acabou
perdendo.
O deputado diz que não autorizou os repasses que
alimentaram o caixa de sua campanha. No entanto, para a Procuradoria
Geral da República, ele teve "participação direta, efetiva, intensa e
decisiva" nos crimes e, "além de beneficiário dos delitos cometidos,
também teve papel preponderante em sua prática". Por conta disso, defende pena de 22 anos de prisão para Azeredo.