Quinta, 06 de fevereiro de 2014
“Há ainda muito apoio a grupos de extermínio e justiceiros”
Pesquisadora da violência urbana desde os anos 1970, a antropóloga Alba Zaluar em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo,
06-02-2014, vê com preocupação a legitimação do comportamento dos
jovens justiceiros pelas classes média e alta. Coordenadora do Núcleo de
Pesquisa das Violências da Universidade do Estado do Rio (Uerj), ela defende que se ensine às crianças a importância das leis.
Eis a entrevista.
Achar normal que se prenda um jovem supostamente infrator num poste diz o que sobre nossa sociedade?
É algo que ocorre no Brasil todo. Não é um fenômeno do Rio, da classe
média. Tem muito apoio a justiceiro, grupo de extermínio. Veem de forma
imediatista e preconceituosa. Bandido bom é bandido morto? O que chamam
de bandido? O pobre, negro, favelado.
Por que o brasileiro é tão tolerante com esses abusos?
Temos de dar aulas de cidadania e civilidade às crianças, ensinar o
que é tolerância, respeito. Tem de ter um professor que mostre como as
coisas funcionavam antes da polícia e da democracia. Esse tipo de
vingança é interminável. Não tem vida dentro de uma cidade com milhões
de pessoas sem que existam leis.
Como responder a quem argumenta que é preciso agir com as próprias mãos porque a polícia e a Justiça são falhas?
A justiça pelas próprias mãos é própria de uma sociedade que não
funciona como deveria. Não há democracia sem polícia, mas tem de ser uma
polícia que esteja agindo corretamente.