terça-feira, 10 de julho de 2012
Estado de São Paulo. Editorial. Concordo com o diagnóstico, que ressalta a demagogia do governo no assunto. Não seria esperar outra coisa do ex-presidente e de seus chaleiras nos campi (recordemos os abaixo assinados pela maioria absoluta dos reitores, lambendo as patas de Lula para apoiar sua candidata à presidência). No entanto, pergunto se é apenas o governo quem deve responder pela falta de professores. Indago se as seitas ou mesmo lobbies, para não dizer outro nome, mais exato, não respondem pela ausência de preenchimento de vagas. Tive, no ano passado, dois estudantes meus que fizeram o doutorado na Unicamp, trabalhos excelentes e aprovados pelos mais rigorosos examinadores. Pois bem: ambos foram reprovados nas "aulas práticas", pelas bancas, que notoriamente preferiram não preencher vagas, ou nelas colocar pessoas ligadas às referidas seitas. Acho que nesta hora, o questionamento também deveria ir (não prioritáriamente) para eles. O reino animal do espírito funciona, e torna impossível uma política universal e coerente. Um detalhe: os estudantes também não pertencem às seitas que distribuem vagas pelo Brasil afora, informam sobre concursos, etc.
Faltam docentes para as federais
10 de julho de 2012 | 3h 06
O Estado de S.Paulo
A prolongada greve dos docentes das universidades federais está trazendo à tona os principais problemas das 59 instituições mantidas pela União. Esse foi um dos setores privilegiados pelo governo do presidente Lula, que deixou o cargo se gabando de ter criado mais universidades que Juscelino Kubitschek. Nos oito anos em que comandou o País, Lula criou 14 instituições. Em cinco anos de governo, JK criou 10.
A diferença é que, enquanto as universidades de JK foram criadas para atender as capitais dos Estados menos desenvolvidos, as de Lula foram, em sua maioria, abertas onde não havia demanda. Em vez de fazer um cuidadoso estudo sobre as reais necessidades da rede pública de ensino superior, o governo Lula gastou R$ 4 bilhões inaugurando universidades sem instalações adequadas e matriculando alunos antes de serem construídas bibliotecas e laboratórios.
No entanto, problema mais grave, que está sendo revelado pela greve que paralisa os cursos de graduação de 56 das 59 universidades federais, é a falta de professores preparados e com doutorado para compor o corpo docente. As áreas mais afetadas são as de economia, engenharia, psicologia, saúde e pedagogia. O caso da Universidade Federal do ABC, criada em 2004 no principal reduto eleitoral do PT, é exemplar. Dos últimos 90 concursos realizados pela instituição, 32 não tiveram candidatos aprovados - um índice de 35%. Na Unicamp, uma universidade estadual que está entre as melhores do País, só 1% dos últimos concursos terminou sem candidatos aprovados.
Segundo levantamento feito pelo jornal Folha de S.Paulo, de todos os processos seletivos realizados pelas universidades federais entre 2011 e 2012, 59 terminaram sem nenhum aprovado. Em alguns desses concursos, não houve sequer candidatos inscritos. Nos demais, os candidatos não atingiram a nota mínima em quesitos básicos, como prova didática, prova escrita, análise de currículo e apresentação de um plano de trabalho. Em média, 1 em cada 4 processos seletivos realizados entre 2011 e 2012 terminou sem aprovados.
Na Universidade Federal de São Paulo, foram realizados 116 processos seletivos, dos quais 24 não tiveram um único professor aprovado. Na Universidade Federal de São Carlos, foram realizados 26 concursos, dos quais 3 terminaram sem aprovados. Para os reitores, apesar de as universidades federais mais antigas e tradicionais oferecerem boas condições para atividades de pesquisa e extensão, os baixos salários pagos pelo Ministério da Educação (MEC) não atraem candidatos qualificados. O salário inicial de um professor de uma universidade federal em regime de tempo integral e dedicação exclusiva é de R$ 7.627. No final de carreira, o salário é de R$ 12.225. "Com esse salário e carreira, quem quer ser professor em federal?", indaga a presidente do Sindicato dos Professores da Unifesp, Virgínia Junqueira. Nas universidades federais recém-criadas, o problema não é só salarial. Além dos baixos vencimentos, elas não oferecem condições de trabalho e estão situadas em locais distantes.
Falando com a condição de anonimato, alguns dirigentes do MEC alegam que a criação desenfreada de novas universidades, pelo governo Lula, não foi precedida de um projeto de expansão da capacidade da rede pública de ensino superior para formar doutores. Quando não são contratados pela iniciativa privada, os doutores formados pelas federais preferem trabalhar nos órgãos de ponta do governo federal - um analista financeiro iniciante na Controladoria-Geral da União, por exemplo, recebe R$ 13.000. E quem quer seguir a carreira acadêmica tende a prestar concurso nas universidades estaduais mais conceituadas, como a UERJ (Rio de Janeiro), a UEL (Londrina) e a USP, Unicamp e Unesp.
Para o secretário de Ensino Superior do MEC, Amaro Lins, a escassez de professores qualificados tende a diminuir à medida que as novas federais instalarem programas de pós-graduação. Mas, além de levar tempo, isso esbarra em outro problema. Se não há docentes nem para a graduação, haverá professores em número suficiente para os novos cursos de doutorado?