Cassação de Demóstenes melhora imagem do Senado, mas pode esvaziar CPI, dizem analistas
Guilherme BalzaDo UOL, em São Paulo
Após a cassação do ex-senador Demóstenes Torres (sem partido-GO),
a segunda em toda a história do Senado, a CPMI (Comissão Parlamentar
Mista de Inquérito) do Cachoeira volta a centralizar as atenções dos
congressistas que investigam a relação de políticos com o grupo chefiado
pelo contraventor goiano.
Foto 52 de 81 - 11.jul.2012
- O o relator do processo de cassação do mandato de Demóstenes Torres,
senador Humberto Costa (PT-PE), foi o primeiro a subir à tribuna do
Senado nesta quarta-feira (11). Ele criticou "pérolas" de Demóstenes
durante o processo, que disse por exemplo que "mentir não é decoro
parlamentar" Mais Geraldo Magela/Agência Senado
Os analistas afirmam que a cassação melhora a imagem do Senado, mas
também pode esvaziar a CPMI, caso não haja pressão da sociedade. O
calendário em Brasília pode ser outro entrave para o andamento da
comissão: a partir do próximo dia 18 até o final do mês, os
parlamentares entram em recesso e só retornam em agosto, quando começa o
período eleitoral, que, por sua vez, vai até novembro.
David Fleischer, professor de ciência política da UnB (Universidade de
Brasília), afirma que a cassação de Demóstenes “mostrou que o Senado é
capaz de tomar decisões”, fato que, em sua opinião, pode “colocar
seriedade maior na comissão parlamentar”, desde que haja “pressão da
sociedade de da imprensa”. “Caso contrário, há risco da CPI cair no
esquecimento”, opina.Já a cientista política Maria do Socorro Braga, da UFSCar (Universidade
Federal de São Carlos), considera a cassação “um fato muito importante
para o Senado aumentar ou buscar sua legitimidade junto à sociedade”.
“Se ele [Demóstenes] não fosse punido, seria muito ruim para a imagem da
Casa”, diz.
Foto 22 de 29 - 10.jul.2012
- "Agora sobrevivente de uma atrocidade sem precedentes, me sinto mais
maduro para legislar", disse Demóstenes Torres no dia que antecede a
votação no plenário do Senado que pode cassar seu mandato Mais 10.jul.2012 - Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Braga afirma, entretanto, que, em momentos como o atual, “os diversos
setores políticos tentam se ajudar para evitar problemas maiores” e que a
“pressão da sociedade será determinante para que as investigações
prossigam.”
O professor de Ética e Política da Unicamp (Universidade Estadual de
Campinas) Roberto Romano acredita que a cassação de Demóstenes ocorreu
porque o ex-senador estava “no centro das atenções” e “isolado, sem
apoio de qualquer partido”. No caso da CPI, opina o professor, a
situação é mais complicada porque há denúncias contra parlamentares de
vários partidos.
Demóstenes tem o mandato cassado no Senado - 19 vídeos
"Estou sereno", escreve Demóstenes antes de cassação
Em
mensagem enviada, Demóstenes Torres escreveu: "Eu te amo". O
interlocutor, então, disse: "Serenidade", ao que o senador respondeu:
"Estou sereno".
“Todos os partidos têm problemas. É muito mais complicado encaminhar uma CPI do que cassar um senador isolado”, diz. Romano afirma que, por conta das eleições municipais, não haverá interesse dos partidos que “surpresas apareçam na CPI”. “Eles vão levar como ‘caldo de galinha’ até quando for possível.”
Fleischer afirma que durante o período eleitoral, entre agosto e
novembro, a CPMI e o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados não podem
funcionar regularmente, exceto em duas sessões extraordinárias, onde
pode haver um esforço concentrado para fazer avançar as investigações.
Fora desse período, diz o professor, “os integrantes da CPMI podem
estudar o material de investigação e buscar mais provas” contra os
suspeitos de envolvimento com o grupo de Cachoeira.
O funcionamento do Conselho de Ética e da comissão só volta ao normal
em novembro, após as eleições, quando o Congresso terá cerca de um mês
para votar tudo o que ficou parado, além de definir o orçamento de 2013.
“Vai ser um sufoco para fazer tudo. É provável que as investigações
caiam no esquecimento”, afirma Fleischer.