Marina diz que governo brasileiro tentou 'apequenar' sua participação na cerimônia olímpica
Ex-ministra ofuscou a participação de Dilma e chorou ao saber da reação da presidente
28 de julho de 2012 | 13h 23
Adriana Carranca - Enviada Especial a Londres
LONDRES - Em entrevista ao Estado, em Londres, Marina
Silva disse que o governo brasileiro tentou "apequenar" a sua
participação na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos 2012, ontem,
"em uma disputa política". A ex-ministra chorou ao saber sobre a reação
da presidente Dilma Rousseff e de ministros e disse que a equipe de
Dilma "não sabe separar as coisas."
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Jonne Roriz/AE
Marina Silva segura bandeira ao lado de Muhammad Ali e Ban Ki Moon.
A convite do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos de Londres
(Locog), Marina entrou carregando a bandeira olímpica na festa de
abertura do evento, ao lado de nomes como Haile Gebrselassie, Ban Ki
Moon, Shami Chakrabarti e Muhammad Ali. Ela é reconhecida
internacionalmente por sua luta em defesa do meio ambiente. A situação
gerou constrangimento, porque Marina é adversária política de Dilma,
cuja presença como presidente do país que será a próxima sede dos Jogos
Olímpicos foi ofuscada pela ex-ministra.
"Não acho que a gente deve apequenar isso em uma disputa política.
Aqui é o interesse maior do Brasil. Isso me entristece", disse Marina,
no Hotel Corinthia, onde está hospedada a convite do Locog, na capital
londrina. A ex-ministra disse que esperava apoio da comitiva brasileira
e, principalmente, da presidente Dilma para a sua participação. "Meu
apelo é para a presidente Dilma: que a causa que eu represento, e ali
não era eu como figura política, não seja uma afronta para o Brasil, que
seja uma dádiva. Porque eu tenho tanto respeito pelo Brasil pela nossa
história e a presidente Dilma sabe como, na minha divergência, eu sou
leal. As pessoas com quem eu convivi durante 30 anos não são meus
inimigos. Do mesmo jeito que eu fico feliz de ver as autoridades
brasileiras cumprindo seu papel num evento dessa magnitude, eu imaginava
que, nesse momento, eles não misturariam as coisas. Eu estou aqui em
nome de uma causa que na história do Brasil é de todos nós. Começou lá
atrás com o Chico Mendes e o presidente Lula, como companheiro do Chico
Mendes, tem participação nisso."
O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, ironizou a participação da
ex-ministra no evento dizendo que o motivo foi o fato de que "Marina
sempre teve boa relação com as casas reais da Europa e com a
aristocracia europeia". Os dois são inimigos políticos desde que bateram
de frente nas discussões sobre o Código Florestal. Marina, no entanto,
preferiu "relevar" as declarações do ministro. E disse que gostaria que
Rebelo "entrasse no espírito olímpico sugerido por aquela cerimônia".
"Não quero apequenar esse momento com qualquer tipo de desconstrução da
grandiosidade de saber que o Brasil é uma referência na luta ambiental
pelo mundo. Desconsiderar isso é o mesmo que desconsiderar toda a
contribuição dada pelo PT na construção da democracia brasileira",
reagiu."Eu estava ali pela causa que defendemos do desenvolvimento
sustentável, quando digo defendemos, falo de todos aqueles que acreditam
que o mundo precisa mudar. Não sou oposição ao governo da presidente
Dilma, eu apenas tenho uma posição. Mas há quem não entenda assim."
Segundo Marina, o convite do Locog para participar da cerimônia de
abertura dos Jogos Olímpicos de Londres também a surpreendeu. Os
organizadores a sondaram no domingo para saber se concordaria com o uso
de sua imagem no evento e apenas na terça-feira confirmaram como seria a
sua participação. Marina desembarcou em Londres na quinta-feira. Sobre
manter segredo, disse que foi instruída pelo Locog. "Eu fiz como eles me
disseram. Falei apenas com meus filhos e marido e pedindo a eles
segredo. Não tinha como revelar isso ao governo, a ninguém. Foi um
pedido", disse. "Vim para cá com o espírito olímpico de lutar pelo
Brasil, pela paz, pelo desenvolvimento sustentável e eu posso te dizer
que quando passei ali diante das autoridades, eu senti uma boa dose de
orgulho de saber que nesses 500 anos de história do Brasil nós tínhamos
eleito a primeira mulher presidente da República. Era esse espírito que
estava ali presente." Marina disse que as críticas do governo não
importam. "O mais importante é que estou fazendo meu trabalho. E isso
ficará como legado para o Brasil.